Dança das cadeiras: veja como ficou o primeiro escalão da equipe de Nunes para seu segundo mandato
Prefeito faz reforma discreta no time de secretários, com destaque para a escolha de ex-prefeitos e o fortalecimento do MDB dentro da equipe que cuidará da administração da maior cidade do País
Prestes a tomar posse para um novo mandato na Prefeitura de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB) preferiu apostar na continuidade, preservando a maior parte de seu secretariado neste novo governo que começa oficialmente nesta quarta-feira, 1º. A discreta reforma no primeiro escalão reforça o protagonismo do MDB, reserva pouco espaço para o bolsonarismo e traz mais experiência administrativa à gestão, com a escolha de três ex-prefeitos para a equipe.
Aliados de Ricardo Nunes avaliam que a composição do governo, ainda sujeita a novos anúncios, ficou equilibrada diante dos desafios da frente ampla que apoio à candidatura do emedebista, mantendo a essência do perfil de gestão, sem mudanças radicais. Nos últimos dias, Nunes usou suas redes sociais para divulgar alguns dos nomes do seu time. Pelo menos 11 secretários foram mantidos em suas respectivas pastas. Entre eles, Luiz Carlos Zamarco, que segue na Saúde; Luis Felipe Vidal Arellano, na Fazenda; e Fernando Padula, que permaneceu na Educação apesar das especulações sobre uma possível troca. Segundo fontes da Prefeitura, Nunes não encontrou um substituto e preferiu ser resiliente. Mas Padula deve sofrer pressão para melhorar os indicadores educacionais da capital.
O núcleo duro do novo governo ficou nas mãos de pessoas de confiança do prefeito. Edson Aparecido (MDB), braço direito de Nunes, segue à frente da Secretaria de Governo, enquanto Enrico Misasi (MDB) assume a Casa Civil, após deixar a Secretaria Executiva de Relações Institucionais. Presidente municipal do MDB em São Paulo e ex-deputado federal, Misasi, com apenas 30 anos, desponta como uma das principais apostas de Nunes para o segundo mandato. Já Fabrício Cobra, outro nome próximo ao emedebista, migrou da Casa Civil para a Secretaria de Subprefeituras, garantindo que a pasta continuasse sob controle direto do prefeito, sem ser alvo de disputa de partidos aliados.
Nunes promoveu sete remanejamentos em sua gestão até esta quarta. Regina Santana (MDB), que comandava a Secretaria de Cultura, assumirá Direitos Humanos e Cidadania. Advogada e líder do MDB Mulher em Tietê (SP), Regina é mais um nome que fortalece a presença do partido no primeiro escalão. Eunice Prudente também fez parte da dança das cadeiras: antes responsável pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Trabalho, ela passa a liderar a Justiça.
Com uma coligação de 11 legendas, o MDB saiu na frente em número de secretarias: terá o controle de 5 pastas. Além de Aparecido (Governo), Misasi (Casa Civil) e Regina Santana (Direitos Humanos e Cidadania), Nunes indicou o vereador Sidney Cruz para comandar a Habitação, pasta estratégica da gestão, e Totó Parente para chefiar Cultura e Economia Criativa. Totó é um quadro histórico do MDB, ligado a uma ala mais à esquerda do partido, e ocupava o cargo de secretário de Articulação Institucional do Ministério do Planejamento, chefiado por Simone Tebet (MDB).
O PL de Jair Bolsonaro e o Republicanos do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, aparecem logo em seguida, cada um com duas pastas no novo governo. Pelo PL, o vice-prefeito Ricardo Mello Araújo assumirá a Secretaria de Projetos Estratégicos, responsável por temas sensíveis da administração, enquanto o ex-prefeito de Suzano, Rodrigo Ashiuchi, ficará à frente da Secretaria do Verde e Meio Ambiente, já controlada pela legenda na gestão anterior. No Republicanos, Rui Alves continua no Turismo, e Milton Vieira, que estava na Habitação, agora ficará responsável pela Secretaria de Inovação e Tecnologia. A sigla tentou manter o controle da secretaria de Habitação, mas não conseguiu em função da sua bancada na Câmara, que encolheu: eram quatro vereadores e agora serão dois.
O PSD de Gilberto Kassab não tinha representantes no primeiro mandato de Nunes e agora terá o vereador Rodrigo Goulart em Desenvolvimento Econômico e Trabalho. Já o União Brasil, do ex-vereador e ex-presidente da Câmara Municipal, Milton Leite, disputou Habitação e Transportes, mas ficou apenas com a indicação de Bete França, que é considerada um quadro técnico e se manteve na Secretária Municipal de Urbanismo e Licenciamento. O PP, por sua vez, indicou o economista Celso Caldeira, também considerado quadro técnico, para a secretaria de Transportes.
Além de Rodrigo Ashiuchi, outros dois ex-prefeitos integrarão o primeiro escalão da Prefeitura de São Paulo: Orlando Morando, ex-prefeito de São Bernardo do Campo (sem partido), comandará a Secretaria de Segurança Urbana, enquanto Rogério Lins, ex-prefeito de Osasco (Podemos), assumirá a Secretaria de Esportes. Aliados de Ricardo Nunes consideraram acertada a estratégia de incluir ex-prefeitos na equipe, ressaltando que a decisão agrega peso político, experiência administrativa e fortalece os laços da capital paulista com algumas das principais cidades da região metropolitana.
O bolsonarismo acabou com espaço reduzido: além de Mello Araújo, Nunes indicou a advogada Angela Gandra para a Secretaria de Relações Internacionais, pasta que na gestão passada foi ocupada pela ex-prefeita Marta Suplicy. Gandra é filha do jurista Ives Gandra Martins e foi secretária nacional da Família no Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos na gestão de Jair Bolsonaro, trabalhando ao lado da então ministra Damares Alves (Republicanos). Como mostrou o Estadão, Angela ganhou destaque em 2018 ao representar a União dos Juristas Católicos de São Paulo em uma audiência no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a descriminalização do aborto até a 12ª semana de gestação. Na ocasião, comparou a descriminalização ao que chamou de "aborto jurídico", chamando a atenção de Damares.
À Coluna do Estadão, Gandra disse que não vai desfazer o trabalho de Marta Suplicy (PT) na pasta. "Negar tudo que foi feito atrás seria imprudência. Não vou negar a base. Quero partir do que já foi feito e fazer mais", disse ela. A advogada é amiga de Nunes e enviou uma mensagem ao prefeito no dia 4 de novembro se colocando à disposição para colaborar na secretaria. O nome dela foi reforçado pela vereadora bolsonarista Zoe Martinez (PL) em conversa com o prefeito.
Aliados de Ricardo Nunes avaliam que a escolha de Angela Gandra foi uma espécie de "redução de danos", já que acaba sendo um aceno ao bolsonarismo e à ala conservadora da Igreja Católica devido ao seu posicionamento sobre o aborto. No entanto, destacam que a secretária tem também respaldo acadêmico e ocupará uma secretaria com pouca capacidade de influenciar a administração em um viés ideológico.
Mantidos no posto ou remanejados
- Controladoria Geral do Município: Daniel Falcão (mantido no posto)
- Educação: Fernando Padula (mantido no posto)
- Fazenda: Luis Felipe Vidal Arellano (mantido no posto)
- Gestão: Marcela Arruda (mantido no posto)
- Governo: Edson Aparecido (mantido no posto)
- Infraestrutura e Obras: Marcos Monteiro (mantido no posto)
- Mobilidade e Trânsito: Gilmar Miranda (mantido no posto)
- Pessoa com Deficiência: Silvia Grecco (mantido no posto)
- Saúde: Luiz Carlos Zamarco (mantido no posto)
- Turismo: Rui Alves (mantido no posto)
- Urbanismo e Licenciamento: Bete França (mantido no posto)
- Assistência e Desenvolvimento Social: Eliana Gomes (remanejada, fazia parte da assessoria do chefe de gabinete do prefeito Ricardo Nunes)
- Casa Civil : Enrico Misasi (remanejado, era secretário Executivo de Relações Institucionais)
- Direitos Humanos e Cidadania: Regina Santana (remanejada, era secretária de Cultura)
- Inovação e Tecnologia: Milton Vieira (remanejado, era secretário de Habitação)
- Justiça: Eunice Prudente (remanejada, era secretária de Desenvolvimento Econômico e Trabalho)
- Planejamento e Entregas Prioritárias: Clodoaldo Pelissioni (remanejado, era secretário adjunto de Governo)
- Subprefeituras: Fabricio Cobra (remanejado, era chefe da Casa Civil)
Novos quadros
- Comunicação: Fábio Portela (Jornalista)
- Cultura e Economia Criativa: Totó Parente (ex-secretário de Articulação Institucional do Ministério do Planejamento do governo Lula, filiado ao MDB)
- Esportes: Rogério Lins (ex-prefeito de Osasco, filiado ao Podemos)
- Desenvolvimento Econômico e Trabalho: Rodrigo Goulart (vereador do PSD)
- Habitação: Sidney Cruz (vereador do MDB)
- Procuradoria Geral do Município: Luciana Sant'Ana Nardi
- Projetos Estratégicos: Ricardo Mello Araújo (vice-prefeito, filiado ao PL)
- Relações Internacionais: Angela Gandra (ex-secretária nacional da Família no Ministério da Mulher do governo Jair Bolsonaro)
- Segurança Urbana: Orlando Morando (ex-prefeito de São Bernardo do Campo, deixou o PSDB recentemente e está sem partido)
- Transportes: Celso Jorge Caldeira (economista)
- Verde e Meio Ambiente: Rodrigo Ashiuchi (ex-prefeito de Suzano, filiado ao PL)
Secretarias por partido
MDB (5 pastas): Governo, Casa Civil, Habitação, Cultura e Direitos Humanos
PL (2 pastas): Projetos Estratégicos e Verde e Meio Ambiente
Republicanos (2 pastas): Turismo e Inovação e Tecnologia
PSD (1 pasta): Desenvolvimento Econômico e Trabalho
Podemos (1 pasta): Esportes e Lazer
PP (1 pasta): Transportes
União Brasil (1 pasta): Urbanismo e Licenciamento