De tapioca a orçamento do Pan; lembre polêmicas de Orlando
As denúncias de desvio de verbas públicas que culminaram na saída do ministro do Esporte, Orlando Silva (PCdoB), do governo Dilma Rousseff não foram as primeiras de sua gestão à frente da pasta. Empossado ministro em 2006, ainda no primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, o comunista teve seu nome envolvido com o escândalo dos gastos com cartões corporativos, que resultaram no pedido de demissão da então ministra da Igualdade Racial, Matilde Ribeiro, no início de 2008.
Na ocasião, foi divulgado que ele teria usado o cartão de crédito corporativo na compra de uma tapioca no valor de R$ 8,30. Silva afirmou ter realizado o gasto por engano, já que seu cartão pessoal seria parecido com o corporativo, e decidiu devolver mais de R$ 30 mil ao Tesouro Nacional - todo o valor gasto, segundo ele, desde que assumiu a pasta. Segundo a Controladoria-Geral da União (CGU), ele foi o terceiro ministro com mais gastos no cartão em 2007, depois de Matilde e o titular da Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca, Altemir Gregolin.
À frente da organização para Copa do Mundo de 2014, Orlando Silva já havia comandando outro grande evento esportivo no Brasil: os Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, em 2007. Na época, o ministério foi alvo de polêmica após o Tribunal de Contas da União (TCU) apontar um superfaturamento de R$ 1,843 milhão só nos serviços prestados na Vila Pan-Americana. O tribunal questionou a pasta sobre o valor gasto com diárias de atletas hospedados na vila, de R$ 1,13 mil, e outras despesas, como o custo da implantação do sistema de credenciamento, orçado originalmente em R$ 55 mil, mas que acabou em uma despesa de R$ 26, 7 milhões. Na época, o ministério afirmou ter enviado ao TCU relatório detalhando os motivos para os gastos.
Antes de ser ministro, Orlando Silva foi secretário nacional de Esporte, secretário nacional de Esporte Educacional e secretário-executivo do ministério. Ex-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), ele assumiu a pasta com a saída de Agnelo Queiroz (PT), que renunciou para concorrer a uma vaga no Senado.
O hoje governador do Distrito Federal é investigado em um inquérito no Superior Tribunal de Justiça (STJ) por suposto envolvimento em um desvio de dinheiro do programa Segundo Tempo no período em que foi titular do Esporte. Por isso, a Procuradoria Geral da União (PGR) incluiu Queiroz no pedido de abertura de investigação feito ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra Orlando Silva. O ministro negou as acusações e responsabilizou Queiroz por encaminhar o policial militar João Dias Ferreira, delator do suposto esquema de corrupção no Segundo Tempo, para uma audiência no Ministério do Esporte. O governador disse que as acusações sobre eventuais desvios não são de sua responsabilidade e afirmou não se lembrar de ter encaminhado o PM para um encontro com Orlando.
De acordo com entrevista do policial à revista Veja, o ministro lideraria o esquema. O delator é militante do PCdoB e foi preso no ano passado, durante a Operação Shaolin, da Polícia Federal (PF), sob a acusação de participar dos desvios. Ele afirmou à publicação que organizações não governamentais (ONGs) recebiam verbas mediante o pagamento de uma taxa que podia chegar a 20% do valor dos convênios. Orlando teria recebido, dentro da garagem do ministério, uma caixa de papelão cheia de cédulas de R$ 50 e R$ 100 provenientes dos desvios.
Reportagem do jornal Folha de S.Paulo do dia 22 de outubro trouxe novas denúncias contra Orlando Silva. O pastor evangélico e fundador da Igreja Batista Gera Vida de Brasília, David Castro, afirmou que foi pressionado a repassar 10% do R$ 1,2 milhão que recebeu do Ministério do Esporte para os cofres do PCdoB. Em 2006, o ministério fechou convênio com a Igreja para desenvolver atividades esportivas para crianças carentes, dentro do programa Segundo Tempo. O projeto fora apresentado por Castro quando o titular da pasta ainda era Agnelo Queiroz, sendo assinado já por Orlando Silva, em novembro do mesmo ano. Castro, que se recusou a citar o nome das pessoas que o procuraram, disse que usavam o nome de Orlando e que se recusou a pagar a propina, sofrendo retaliação na hora da prestação de contas.
Dois dias depois, o jornal O Estado de S.Paulo publicou reportagem que aponta irregularidades em outro programa do ministério, o Pintando a Cidadania. Segundo a publicação, dezenas de cheques no valor de pelo menos R$ 1,3 milhão do ministério foram parar na conta de empresas fantasmas ou sem relação com o produto vendido para o programa em 2010. As denúncias atingiriam o secretário de Esporte Educacional, Wadson Ribeiro, ex-presidente da UNE, filiado ao PCdoB e homem de confiança de Orlando Silva.
Suspeitas de irregularidades em Campinas
As suspeitas de irregularidades no programa Segundo Tempo envolveram ainda o nome de Gustavo Petta, secretário de Esportes de Campinas (SP) e filiado ao PCdoB, que é irmão da atriz Ana Cristina Petta, mulher de Orlando Silva. Após reportagem da Veja e do programa Fantástico sobre os convênios do ministério com a ONG Pra Frente Brasil, o vereador Rafael Zimbaldi (PP) pediu esclarecimentos à secretaria sobre o andamento dos projetos sociais.
A ONG seria a maior beneficiária do Ministério do Esporte e teria recebido R$ 28 milhões. O ministério também destinou R$ 15 milhões ao Centro Esportivo de Alto Rendimento, um conglomerado esportivo que é construído em um espaço de 163 mil m², com custo total de R$ 30 milhões. De acordo com o ministério, o Centro Esportivo de Alto Rendimento será a unidade representativa da região Sudeste, já que estão em andamento projetos em Maringá (PR), Recife (PE), Manaus (AM) e Goiânia (GO).
O cunhado do ministro foi exonerado do cargo no dia 24 de outubro, integrando o movimento de secretários e funcionários do primeiro escalão da prefeitura filiados ao PT e ao PCdoB que colocaram seus cargos à disposição do prefeito Demétrio Vilagra (PT), já que haviam mantido apoio à administração de Hélio de Oliveira Santos (PDT), o Dr. Hélio, cassado em 20 de agosto.
A situação do ministro se agravou após a divulgação de que sua mulher teria recebido recursos públicos de uma ONG comandada por filiados do PCdoB. Conforme reportagem do jornal O Estado de S.Paulo , Ana Petta teria utilizado sua empresa de produção cultural, a Hermana, para assinar um contrato com a ONG Via BR, que teria recebido R$ 278,9 mil em novembro do ano passado.