Depoimento de hacker dá 'fortes condições' para pedir indiciamento de Bolsonaro, diz relatora
Walter Delgatti disse que o ex-presidente prometeu indulto e pediu para ele invadir o sistema das urnas eletrônicas
A senadora Eliziane Gama (PSD-MA), relatora da CPMI de 8 de janeiro, declarou nesta quinta-feira, 17, que o hacker Walter Delgatti forneceu à comissão elementos que dão "fortes condições" para considerar um pedido de indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ao término dos trabalhos. Delgatti foi ouvido pela comissão.
• Esquema exposto: durante seu depoimento, o hacker expôs um esquema envolvendo o ex-presidente e seus colaboradores, que visava manipular o resultado das eleições presidenciais de 2022.
• Ordem do presidente: Delgatti declarou que sabia que estava cometendo crime ao atuar contra o processo eleitoral, mas que agiu por "ordem de um presidente da República".
• Indulto oferecido: o hacker afirmou que, em uma reunião com Bolsonaro antes das eleições de 2022, o então presidente garantiu que concederia um indulto a ele, caso fosse preso por ações sobre urnas eletrônicas. No depoimento, Delgatti declarou que o ex-presidente questionou se ele seria capaz de invadir as urnas eletrônicas para testar a "integridade" dos equipamentos.
• Grampo em Moraes: Delgatti disse que ouviu que o entorno do então presidente já havia conseguido grampear Moraes e que Bolsonaro pediu a ele que "assumisse autoria" do grampo.
• Promessa de Zambelli: Delgatti afirmou que, em uma reunião com assessores de Bolsonaro, pediram para ele criar um "código-fonte" falso para sugerir que a urna eletrônica era vulnerável. Ele disse que orientou técnicos do Ministério da Defesa a elaborarem relatório sobre as urnas. O documento foi entregue ao TSE, em novembro de 2022. Delgatti afirmou que a deputada Carla Zambelli teria prometido a ele um emprego na campanha à reeleição do então candidato Bolsonaro.
• Quebra de sigilo de Bolsonaro: a senadora Eliziane Gama declarou sua intenção de solicitar a quebra dos sigilos de Bolsonaro. Até o momento, não houve requisições para a quebra de sigilo ou sua convocação para comparecer à comissão.
"Eu diria que hoje os elementos apresentados a essa comissão nos dão fortes condições de, ao final, termos o indiciamento do ex-presidente Bolsonaro. Precisamos compatibilizar com as quebras que nós estamos defendendo que ocorra. Dentre elas as quebras de sigilos, os relatórios do Coaf e as quebras telemáticas", afirmou a relatora.
"Nós vamos pedir além do telemático também os RIFs [Relatórios de Inteligência Financeira], porque uma das perguntas que nós temos hoje no nosso plano de trabalho é 'Quem financiou?'. Nós temos 'Quem pensou?', 'Quem projetou?', mas temos também 'Quem financiou?'", afirmou Eliziane à GloboNews.
Na última sexta-feira, a Polícia Federal solicitou a quebra de sigilos do ex-presidente Jair Bolsonaro e da ex-primeira-dama Michelle, além de requerer que ambos prestem depoimento no âmbito do caso envolvendo presentes oficiais que foram ilegalmente negociados no exterior por assessores presidenciais. O ministro Alexandre de Moraes, relator do inquérito, ainda não avaliou essas solicitações.