Deputado do PSL arranca cartaz sobre exposição contra o racismo
Placa quebrada por Coronel Tadeu associava polícia a genocídio de negros; debate domina Casa na véspera do Dia da Consciência Negra
Uma exposição que trata do racismo no Brasil virou motivo de bate-boca na tarde desta terça-feira, 19, na Câmara dos Deputados, véspera do Dia da Consciência Negra. O deputado federal Coronel Tadeu (PSL-SP) arrancou da parede da exposição uma imagem em que aparecia um policial, de arma na mão, e um rapaz negro estendido no chão, com a camisa do Brasil e algemado. No cartaz, lia-se a frase "O genocídio da população negra". Após o episódio, o debate sobre racismo dominou o plenário da Casa.
Policiais não são assassinos. Policiais são guardiões da sociedade, sinto orgulho de ter 600 mil profissionais trabalhando pela segurança de 240 milhões de brasileiros. #policiavcpodeconfiar pic.twitter.com/CFVLgUkeeU
— Coronel Tadeu (@CoronelTadeu) November 19, 2019
O ato do deputado provocou reação imediata de deputados presentes na Casa. Houve bate-boca na saída da exposição e gritos de "racista" em direção a Tadeu. "Ele não suportou uma exposição que registra a presença negra na história do Brasil nos diversos campos. E veio aqui e arrancou parte da exposição, onde havia a denúncia de um genocídio negro no Brasil", afirmou a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ).
"Ele arrancou tudo, destruiu tudo e cometeu o crime de racismo e quebra de decoro", acrescentou. Jandira e outros parlamentares, como a deputada Benedita da Silva (PT-RJ), prometeram levar o caso ao Conselho de Ética da Câmara.
Desde o início do dia, a imagem arrancada por Tadeu vinha causando desconforto aos deputados da chamada "bancada da bala". Mais cedo, o deputado federal Capitão Augusto (PL-SP) já havia encaminhado ao presidente da Casa, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), um pedido para que o cartaz fosse retirado da exposição.
"Conforme se verifica do conteúdo da imagem, há a absurda atribuição da responsabilidade pelo genocídio da população negra aos policiais militares, prestando-se, assim, verdadeiro desserviço junto à população que trafega pelas dependências da Câmara, retratando negativamente o salutar papel dos policiais militares para a manutenção da ordem pública no nosso país", disse Augusto em seu pedido a Maia.
O deputado é presidente da Frente Parlamentar da Segurança Pública e da Comissão de Segurança Pública.
Após arrancar o cartaz, coronel Tadeu voltou a criticar a imagem. "Colocar a PM como responsável pelo genocídio é inaceitável", afirmou ao Estadão/Broadcast.
Outro deputado do PSL questiona genocídio negro
No plenário, o debate é intenso. O deputado Daniel Silveira (PSL-RJ) questionou o genocídio negro. "Quando falam essa falácia aqui que o negro morre por ser negro é uma grande mentira", disse. "Alguns vão à mídia para falar que acham que o negro morre, porque ele é negro. Ele morre, porque sustenta um fuzil", afirmou.
Parlamentares da oposição criticaram a atitude do deputado Coronel Tadeu. "A violência de rasgar uma placa de uma exposição dentro do Congresso é compatível com a violência que se vê nas periferias e favelas por parte do Estado", afirmou o deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ).
O deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) classificou como "inaceitável" a atitude. "É inaceitável, é desonroso para esta Casa que um deputado federal não tenha tolerância, não respeite a história dos negros no Brasil, não perceba a gravidade do genocídio praticado nessa sociedade contra a juventude negra e pobre da periferia do Brasil", disse.
A bancada do PSOl afirmou que irá protocolar representação no Conselho de Ética da Câmara e na Procuradoria Geral da República contra o deputado Coronel Tadeu.