Deputados bolsonaristas falaram em 'enterro' da anistia ao 8/1 pouco após atentado em Brasília
Pessimismo tomou conta dos parlamentares poucos instantes após a revelação da identidade do autor do ataque a bombas na Praça dos Três Poderes nesta quarta-feira; resposta pública veio em tentativa de desassociar dos ocorridos deste ano com os atos golpistas dias após a posse de Lula como presidente
BRASÍLIA - Pouco tempo após a identificação do autor do atentado a bombas na Praça dos Três Poderes, que ocorreu nesta quarta-feira, 13, parlamentares apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) admitiram, em grupos de WhatsApp, que o projeto de lei que dá anistia aos envolvidos nos atos golpistas do 8 de Janeiro não mais avançaria na Câmara dos Deputados.
Gustavo Gayer (PL-GO) chegou a dizer que a iniciativa seria enterrada. "Agora vão enterrar a anistia", escreveu num grupo de WhatsApp da oposição. A informação foi revelada pela Folha de S. Paulo e confirmada pelo Estadão.
Publicamente, houve uma força tarefa para tentar desassociar Francisco Wanderley Luiz - conhecido como Tiü França, autor do ataque com bombas em que ele mesmo foi a única vítima fatal - à figura de Bolsonaro e ao 8 de Janeiro.
"O triste e lamentável episódio que ocorreu hoje na Praça dos Três Poderes deixa muito evidente que é um fato isolado de uma pessoa que claramente sofria transtornos de ordem mental. Nada tem correlação com a direita ou com as vítimas do 08/01?, escreveu o deputado Rodrigo Valadares (União-SE), bolsonarista e relator do projeto de lei da anistia, ainda no final da noite da quarta-feira. Bolsonaro, por sua vez, chamou Tiü França de "maluco" e que não tem "a menor ideia" sobre quem ele era.
"O ato tresloucado dele não tem origem política, mas sim de um sofrimento pessoal", diz Domingos Sávio (PL-MG) ao Estadão. Ele também desassocia o ocorrido ao 8 de Janeiro. "Não tem nada a ver uma coisa com a outra."
Nesta quinta-feira, 14, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes afirmou que as explosões são resultado do ódio político que se instalou no País nos últimos anos e defendeu que não haja anistia aos envolvidos na invasão do 8 de Janeiro. Segundo ele, a pacificação é necessária, mas não será feita com perdão aos criminosos.
"O que ocorreu ontem não é um fato isolado do contexto. Queira Deus que seja um ato isolado, este ato. Mas o contexto é um contexto que se iniciou lá atrás, quando o famoso gabinete do ódio começou a destilar discurso de ódio contra as instituições, contra o Supremo Tribunal Federal, principalmente", disse.
Ainda na noite da quarta-feira, no grupo de WhatsApp da oposição, Eli Borges (PL-TO), ex-presidente da Frente Parlamentar Evangélica, escreveu que Moraes, apelidado de "Xandão", iria associar o atentado ao 8 de Janeiro. "Agora o Xandão vai dizer: 'é a prova que o 8 de janeiro era necessário'", escreveu.
Como mostrou o Estadão, Tiü França, publicou mensagens nas redes sociais antes de realizar o ataque, em que ele mesmo acabou sendo a única vítima fatal. Nesse material, ele faz ataques, entre outros, ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao Supremo Tribunal Federal e os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado Federal, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
O Estadão também revelou que o filho de Tiü França votou em Bolsonaro no segundo turno, em 2022, e postou uma foto nas redes sociais na frente da urna divulgando o voto e fazendo uma arma com os dedos, gesto associado ao ex-presidente.
Em 2020, Francisco Luiz foi candidato a vereador em Rio do Sul (SC) pelo PL, partido hoje de Bolsonaro. Ele chegou a visitar o plenário do STF no dia 24 de agosto e ainda postou uma foto no local. "Deixaram a raposa entrar no galinheiro (chiqueiro)", escreveu.
Ele também visitou o gabinete do deputado federal Jorge Goetten (Republicanos-SC) no ano passado. Goetten, que relata conhecê-lo desde a juventude e disse que notou que Tiü França estava "alterado" nesse encontro. Segundo ele, os relatos são de que ele estava mentalmente instável desde a separação com a ex-mulher.
O corpo só foi retirado do local na manhã desta quinta-feira, 14, porque policiais ainda tentavam identificar se havia mais explosivos nos trajes. Não houve outros feridos.