Desde impeachment, popularidade de Moro dispara e rejeição a políticos sobe, diz pesquisa
No último ano, milhões de brasileiros foram às ruas contra o governo petista, o processo de impeachment se consolidou, o PMDB e o PSDB formaram uma nova aliança para governar o país e a Operação Lava Jato continuou assombrando os políticos.
De lá pra cá, a popularidade do juiz Sergio Moro, magistrado à frente dos casos da Lava Jato na primeira instância judicial, disparou, enquanto a rejeição a políticos subiu de maneira quase generalizada, principalmente no caso de integrantes e aliados do novo governo.
É o que mostra a nova edição do Barômetro Político, pesquisa da consultoria Ipsos antecipada à BBC Brasil. O levantamento, feito no início do mês nas cinco regiões do país, perguntou a 1.200 pessoas sua opinião sobre 20 personalidades do mundo político e jurídico. Apenas Moro recebeu apoio da maioria, atingindo 65% de aprovação.
O resultado apresenta um grande salto em relação a fevereiro de 2015, quando sua aprovação era de apenas 28%. Naquele mês, 56% da população diziam que não tinham conhecimento suficiente sobre ele para opinar, enquanto 33% o rejeitavam.
Em um ano, o desconhecimento sobre Moro caiu fortemente, para 9%, enquanto sua rejeição recuou para 26%.
"Moro era muito desconhecido no início da pesquisa, mas a força que a Lava Jato ganhou e a presença desse nome na mídia converteu esse conhecimento em aprovação. Ele é o símbolo hoje do combate a tudo aquilo que o brasileiro julga que está errado na política e na gestão pública", observa Danilo Cersosimo, diretor na Ipsos Public Affairs e responsável pela pesquisa.
Embora a atuação de Moro não seja consenso no meio jurídico, isso não chega ao grande público, ressalta Cersosimo.
"O grande público não entende as controvérsias do mundo jurídico. Para a população é muito simples: a Lava Jato tem um simbolismo muito forte do ponto de vista de passar o país a limpo, e o Moro está totalmente associado à operação", ressalta.
Temer, Cunha e Renan
Já o presidente Michel Temer tem-se tornado cada vez mais impopular desde que ganhou mais visibilidade ao longo do processo de impeachment e após chegar ao poder. Há um ano, 61% dos entrevistados o reprovavam, agora são 78%.
Ele hoje só fica atrás do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (89%) e do senador Renan Calheiros (82%), cujas taxas de rejeição também subiram.
A taxa de rejeição a Temer já é maior do que a da ex-presidente Dilma Rousseff. Destoando da maioria dos políticos, a petista tem visto sua avaliação negativa recuar, embora continue em patamar muito alto (74%). Há um ano era de 84% e, em setembro de 2015, havia chegado a 90%.
A reprovação a Lula, por sua vez, tem mostrado certa estabilidade e hoje registra taxa de 66%.
Já os principais nomes do PSDB apresentaram todos piora dos seus índices de popularidade. Nos últimos 12 meses, subiram as rejeições ao senador Aécio Neves (de 51% para 74%), ao senador José Serra (de 49% para 66%), e ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (de 51% a 64%).
A desaprovação a Mariana Silva (Rede) subiu menos, passando de 52% em fevereiro de 2016 para 57% agora.
Para o diretor da Ipsos, o que explica o aumento quase generalizado da rejeição aos políticos é o desgaste produzido pelas investigações da Lava Jato. Políticos que assumiram o poder após o impeachment acabaram ganhando mais visibilidade e sofrendo mais, nota ele.
"O aumento da indisposição (com os políticos) tem muito a ver com as investigações da Lava Jato, que deu nome aos bois. A operação materializou a percepção da corrupção e mostrou que a prática não está restrita a um partido ou a um político", afirma Cersosimo.
E os protestos?
Embora a rejeição aos políticos hoje no poder seja crescente, não estão sendo realizadas no país manifestações da mesma magnitude que nos meses anteriores ao impeachment ou em 2013.
Para Cersosimo, um elemento importante que alimentou os protestos durante o governo Dilma foi o forte sentimento anti-PT, devido ao desgaste do partido depois de muitos anos no governo, em meio a denúncias de corrupção e crise econômica.
Já Temer, que antes de ser eleito duas vezes vice de Dilma fez sua trajetória política no Poder Legislativo, não tem uma imagem forte junto à população.
"As pessoas não estão na rua porque têm a sensação de que o pior da crise já passou. O brasileiro terceirizou a solução dos problemas para o Sergio Moro e a Lava Jato de modo que ele não precisa ir para a rua, ao menos por enquanto", observa ainda.
Entre as vinte autoridades avaliadas, outras duas personalidades do mundo jurídico aparecem logo atrás de Moro com as mais altas taxas de aprovação. A presidente do Supremo Tribunal Federal, Carmén Lúcia, tem 33%, e o ex-ministro da Corte Joaquim Barbosa, 48%.
Efeitos para 2018
Para Cersosimo, a pesquisa mostra uma grande insatisfação com o mundo político tradicional, o que pode abrir espaço para uma candidatura presidencial inesperada em 2018, como ocorreu com João Doria (PSDB), eleito prefeito de São Paulo no ano passado.
Moro seria um forte candidato, mas parece improvável que dispute a próxima eleição, já que a Lava Jato ainda deve se prolongar, ressalta Cersosimo.
"É muito difícil falar de 2018 porque não descarto um outsider surgir 'do nada' e ganhar a eleição. O Brasil passa por um momento seríssimo de crise de lideranças. Existe uma desilusão muito grande com partidos, com lideranças mais tradicionais".
Entre os políticos pesquisados, Lula é que o tem o maior percentual de aprovação, com 31%. Já entre os tucanos, o ex-presidente Fernando Henrique tem 21%; Serra, 20%; Alckmin, 17%; e Aécio fica na lanterna como apenas 11%.
"Por mais que o PT esteja passando pelo pior momento de sua história, Lula vem desempenhando bem nas pesquisas eleitorais e parece ter uma tendência de melhora no índice de aprovação. O momento é tão polarizado que ele vai conseguir aglutinar aqueles que têm uma memória positiva do período Lula e que podem relevar possíveis envolvimentos dele com esquemas de corrupção", acredita Cersosimo.
O diretor da Ipsos ressalta, porém que a alta rejeição de Lula, hoje em 66%, pode impedi-lo de vencer a eleição presidencial de 2018, caso ele venha a concorrer. Isso deve depender do nível de rejeição de seus adversários, nota ele.
"Normalmente, um candidato que tem índices de reprovação alto como ele pode até ir para o segundo turno, mas dificilmente ganha. São raros os casos de reversão de rejeição. Ganhar uma eleição vai depender do candidato adversário, especialmente se estiver disputando com alguém de fora da política", observa.
Realizada entre os dias 1 e 11 de fevereiro, a pesquisa Ipsos fez 1.200 entrevistas presenciais em 72 municípios brasileiros. A margem de erro é de 3%.