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Política

Desfile bélico terá presidentes dos Poderes e parlamentares

Bolsonaro usou as redes sociais com o objetivo de convidar presidentes de Poderes para assistir às manobras militares

10 ago 2021 - 08h04
(atualizado às 08h10)
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Diante das suspeitas provocadas pelo inédito desfile bélico que passará na frente do Palácio do Planalto na manhã desta terça-feira, 10, o presidente Jair Bolsonaro usou as redes sociais com o objetivo de convidar presidentes de Poderes para assistir às manobras militares. Na mensagem, Bolsonaro se apresenta como "Chefe Supremo das Forças Armadas". O anúncio da presença de um comboio de tanques na Praça dos Três Poderes provocou protestos porque a operação vai ocorrer justamente no dia em que a Câmara votará a proposta de emenda à Constituição que institui o voto impresso.

O presidente Jair Bolsonaro
27/07/2021
REUTERS/Adriano Machado
O presidente Jair Bolsonaro 27/07/2021 REUTERS/Adriano Machado
Foto: Reuters

"Sr. Presidente do ... STF, Câmara Federal, Senado, TCU, TSE, STJ, TST, Deputados, Senadores... : Como ocorre desde 1988, a nossa Marinha realiza exercícios em Formosa/GO. Como a tropa vem do Rio, Brasília é passagem obrigatória. Muito me honraria sua presença amanhã na Presidência (08h30), onde receberei os cumprimentos da Força e lhes desejarei boa sorte na missão", escreveu Bolsonaro.

Para chegar a Formosa, no entanto, não é necessário passar pelos arredores do Congresso. Além disso, a Operação Formosa - promovida pela Marinha desde 1988 - tradicionalmente não incluía, como nesta edição, o Exército e a Aeronáutica.

Ameaças

Desde 8 de julho, não foram poucas as vezes em que Bolsonaro disse que não haveria eleições sem voto impresso no País. A ameaça também foi feita naquele mesmo dia pelo ministro da Defesa, Walter Braga Netto, a um importante interlocutor político, que tratou de repassar o recado ao presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), como revelou o Estadão/Broadcast.

Divulgado pela Marinha como uma deferência a Bolsonaro, o desfile bélico provocou críticas de parlamentares, que se sentiram intimidados.

O presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), classificou como "trágica coincidência" a realização do desfile bélico nas proximidades do Congresso. "Não é usual", afirmou Lira sobre o exercício militar, em entrevista ao site O Antagonista. "E, não sendo usual, em um País polarizado do jeito que o Brasil está, isso dá cabimento para que se especule (tratar) de algum tipo de pressão. Entramos em contato com o Palácio do Planalto, falei com o presidente (Bolsonaro) e ele garantiu não haver esse intuito".

Nas últimas semanas, Bolsonaro fez duros ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Não foi só: xingou o presidente do TSE, Luis Roberto Barroso, de "filho da p..." por sua posição contrária ao voto impresso; acusou fraudes nas urnas eletrônicas sem apresentar quaisquer provas; afirmou que o ministro Alexandre de Moraes era a "mentira" no STF e disse haver um "complô" para eleger o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), hoje líder nas pesquisas de intenção de voto, em 2022. Com tantos insultos, o presidente do Supremo, Luiz Fux, cancelou a reunião entre os Poderes, que estava prevista para os próximos dias.

"Tanques na rua, exatamente no dia da votação da PEC do voto impresso, passou do simbolismo à intimidação real, clara, indevida, inconstitucional. Se acontecer, só cabe à Câmara dos Deputados rejeitar a PEC, em resposta clara e objetiva de que vivemos numa democracia e que assim permaneceremos", criticou a senadora Simone Tebet (MDB-MS).

Na avaliação da deputada Perpétua Almeida (PC do B-AC), integrante da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, Bolsonaro quer fazer do treinamento militar um espetáculo político. "Há homens fracos e frouxos que usam da força para mostrar poder. Bolsonaro é desses. Mais uma vez usa as instituições militares para impulsionar seu projeto anarquista de poder", criticou Perpétua. "É um necessário exercício da Marinha, mas que Bolsonaro transforma num espetáculo político, quando o traz pra Esplanada, com clara intenção de aumentar especulações."

O objetivo da Operação Formosa é treinar militares da Força de Fuzileiros da Esquadra, sediada no Rio. Mesmo entre eles, porém, a manobra é vista como uma forma de intimidação por demonstrar a capacidade de fogo, um "instrumento de dissuasão" na linguagem da caserna.

Em nota, a Marinha informou que Bolsonaro e "diversas autoridades dos Poderes da República" são convidadas anualmente para assistir ao Dia de Demonstração Operativa, que, neste ano, ocorrerá no próximo dia 16. A entrega do convite a Bolsonaro será feita nesta terça-feira e foi planejada "para contemplar um comboio composto por algumas das principais viaturas". Ainda de acordo com a Marinha, o ato foi marcado antes da agenda para a votação da proposta do voto impresso.

O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) disse que recorreu à Justiça para impedir "gasto de recursos públicos em uma exibição vazia de poderio militar". "As Forças Armadas, instituições de Estado, não precisam disso. Os brasileiros, sofrendo com as consequências da pandemia, também não. O Brasil não é um brinquedo na mão de lunáticos", afirmou Vieira.

O treinamento reunirá militares das três Forças. O adestramento ocorrerá no Campo de Instrução de Formosa, em Goiás. Os fuzileiros fazem simulações de guerra, com aviões, paraquedistas, helicópteros, blindados, anfíbios, bateria antiaérea, detonação de explosivos, descontaminação por agentes químicos, nucleares, biológicos e bacteriológicos.

A área de cerrado pertence ao Exército e é cedida à Marinha por ser a única do País em que é possível realizar esses exercícios com uso de munição real.

Estadão
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