Determinado, Cunha atropela caciques do PMDB e busca seu voo mais alto
Favorito na disputa pela presidência da Câmara, o líder do PMDB, deputado Eduardo Cunha (RJ), é um workaholic que se irrita quando alguém rompe acordos, mas cuja capacidade para construí-los em ambientes de tensão é admirada até por adversários.
Carioca de 56 anos, evangélico e pai de quatro filhos, Cunha teve uma forte ascensão no PMDB nos últimos anos. Apontado como um dos polos de poder do partido, apesar da resistência da cúpula em alguns momentos, é descrito como um político de sangue frio, mesmo em momentos de forte tensão.
Um episódio ocorrido em 2002, e relatado por um assessor do Congresso, ilustra bem como ele pode ser determinado, independentemente das circunstâncias.
Quando concorria a seu primeiro mandato como deputado federal, Cunha era aguardado para a gravação de uma propaganda eleitoral com o então candidato à Presidência pelo PSB, Anthony Garotinho. À época, Cunha ainda era filiado ao PPB (hoje PP) e depois de eleito migrou para o PMDB em 2003.
Após longa espera, segundo essa fonte, Cunha desembarcou de um carro blindado cravejado de tiros. Todos olharam assustados. Ao ser perguntado, depois de participar da gravação, sobre o ocorrido, ele respondeu: "Tentaram me pegar mais uma vez e não conseguiram."
Visto como desafeto político no Palácio do Planalto desde o início do primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff, Cunha se colocou frontalmente como adversário em alguns momentos-chave, como na aprovação do novo marco regulatório dos portos, mas saiu derrotado. Além disso, ele foi um dos primeiros peemedebistas a vocalizar a revisão da aliança com o PT para a reeleição de Dilma.
No governo, teme-se tanto a vitória como a derrota do peemedebista. No Palácio do Planalto, há articuladores políticos que preferiam um acordo com Cunha a enfrentá-lo. Para esse grupo, se ele for derrotado será mais perigoso para o governo do que se sair vitorioso.
O vice-presidente da República e presidente do PMDB, Michel Temer, já tentou ao menos duas vezes barrar a ascensão de Cunha. Na primeira, quis evitar que ele assumisse a liderança da bancada em 2013, quando o deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) assumiu o comando da Câmara. Perdeu.
Desta vez, quando percebeu os movimentos de Cunha para disputar a presidência da Câmara, Temer também tentou resistir à opção da bancada por Cunha, mas percebeu que não teria como evitar a candidatura e preferiu formalizar o apoio do partido ao deputado carioca.
"Cunha joga só para ele", disse à Reuters uma fonte próxima ao vice-presidente.
Os adversários de Cunha dizem mais, e o classificam como um "lobista", que usa o mandato para defender interesses empresariais. Um de seus adversários mais ferozes, que o acusa de ser um lobista, é o antigo aliado Garotinho, que disputou o governo do Rio de Janeiro e não estará na Câmara neste legislatura.
Apreciador de vinho, Cunha tem poucos momentos de descontração quando está em Brasília. "Ele está todo tempo pensando em trabalho. Se aprofunda em todos os temas que vai tratar. Não é muito dado a piadinhas", disse um peemedebista à Reuters, sob condição de anonimato.
Recentemente, submeteu-se a um implante capilar e costuma comparar os efeitos do tratamento com o realizado pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
"Ele é tão aplicado que antes de fazer o implante virou um especialista. Sabe de todas as técnicas, discorre sobre elas", contou outro aliado carioca.
Deputados próximos fazem troça da sua postura física ao caminhar. "A gente chama ele de pinguim, pela postura", contou um peemedebista. O apelido foi dado por um colega parlamentar em 2006 e pegou. Os aliados dizem que ele não se incomoda com a brincadeira.
Flamenguista declarado, não costuma ir ao estádio nem acompanhar de perto o time. O traço de torcedor aparece mais quando o rubro-negro enfrenta o Vasco, time de Henrique Alves, com quem costuma fazer apostas.
Aliados o descrevem também como um político "muito ambicioso". Mas quando questionado sobre até onde quer chegar, Eduardo Cosentino Cunha costuma apontar um objetivo que os mais próximos não sabem se é verdade ou despiste.
"Ele diz que quer concluir esse mandato e concorrer a uma das duas vagas do Senado italiano para candidatos da América do Sul", contou o aliado carioca.