DF: Gabrielli recua e isenta Dilma de compra de Pasadena
Em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras no Senado, o ex-presidente da estatal José Sérgio Gabrielli defendeu nesta terça-feira a presidente Dilma Rousseff e disse que ela não teve responsabilidade sobre a aquisição da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos.
"Não considero a presidente responsável pela compra de Pasadena. A responsabilidade é da diretoria da Petrobras e do Conselho de Administração, que passou por todos os procedimentos internos da Petrobras. Então, essa que é a questão chave. É um processo de decisão que não é individualizado, é um processo de decisão coletivo", disse Gabrielli.
A afirmação contradiz o que o próprio Gabrielli afirmou em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo no mês passado, quando disse que Dilma “não poderia fugir da responsabilidade” sobre a compra da refinaria. Em resposta a um questionamento do jornal sobre se ele se considerava responsável pelo relatório entregue ao conselho administrativo da Petrobras antes da compra de Pasadena, Gabrielli respondeu:
"Eu sou responsável. Eu era o presidente da empresa. Não posso fugir da minha responsabilidade, do mesmo jeito que a presidente Dilma não pode fugir da responsabilidade dela, que era presidente do conselho. Nós somos responsáveis pelas nossas decisões. Mas é legítimo que ela tenha dúvidas”, disse o ex-presidente da Petrobras.
Durante o depoimento aos senadores nesta terça, no entanto, Gabrielli recuou e disse que "não compete ao conselho esse tipo de análise nem há possibilidade de entrar nos detalhes operacionais dos contratos”. "A presidente Dilma é uma profissional de extrema competência, gerente de extrema competência, pessoa de opiniões muito firmes, portanto, tem posições muito firmes. Porém, as decisões do conselho são colegiadas", afirmou o ex-presidente da estatal.
Em 2006, quando a Petrobras comprou metade da refinaria de Pasadena, a operação foi aprovada pelo Conselho de Administração da estatal, que na época era comandado pela presidente Dilma Rousseff. Em nota oficial divulgada em março, Dilma afirmou, após a abertura de investigações no Tribunal de Contas da União (TCU), Polícia Federal e Ministério Público, que só aprovou a compra dos primeiros 50% da refinaria porque o relatório apresentado ao conselho pela empresa era "falho" e omitia duas cláusulas que acabaram gerando mais gastos à estatal.
As cláusulas eram a put option (que obrigava um dos dois sócios a comprar os outros 50% em caso de discordância) e marlim (que dava uma garantia de rentabilidade à outra sócia para o processamento do óleo da Petrobras). No depoimento de hoje, Gabrielli ainda minimizou a necessidade de informar o conselho sobre as cláusulas na época da compra e disse que, ainda que Dilma soubesse delas e discordasse, o assunto seria debatido entre os conselheiros.
"Se ela colocasse essa posição em 2006, eu não posso dizer qual seria a posição do conselho, porque haveria debate. Evidente que ela, como presidente do conselho, tem um papel importantíssimo, mas o conselho debate. Não posso estimar qual seria posição do conselho se na hipótese a presidente demonstrasse a posição que ela está legitimamente defendendo hoje. Sei apenas que a decisão do conselho é colegiada”, insistiu Gabrielli.
O depoimento de José Sérgio Gabrielli é o primeiro da CPI da Petrobras no Senado. A reunião foi esvaziada pela oposição com a decisão do senador Cyro Miranda (PSDB-GO) não participar da sessão de perguntas, o que garantiu controle total à base governista. Enquanto isso, a oposição trabalha para instalar ainda hoje a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI), com a participação de deputados e senadores.