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Política

Dilma acompanha posse de Evo Morales em busca de boa relação

Morales durante ritual indígena que celebrou seu terceiro mandato em Tiwanaku, a 70 km de La Paz

22 jan 2015 - 06h59
(atualizado às 08h12)
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A presidente Dilma Rousseff participa nesta quinta-feira em La Paz, na Bolívia, da posse do terceiro mandato do presidente boliviano, Evo Morales. Analistas veem na visita um gesto para tentar reanimar a relação entre os dois países.

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Evo Morales toma posse mais uma vez como presidente da Bolívia nesta quinta
Foto: BBC Mundo / Copyright

Os laços com a Bolívia – país com o qual o Brasil compartilha sua maior fronteira (3,4 mil quilômetros) - se estremeceram nos últimos anos, principalmente depois do asilo político concedido ao senador oposicionista Roger Pinto Molina, em 2012.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitou nove vezes a Bolívia em seus dois mandatos entre 2003 e 2010, mas Dilma não foi ao país uma vez sequer durante seu primeiro mandato (2011-2014). "O Brasil é visto aqui como uma nação subimperialista. Isso (o asilo político) provocou uma tensão e reforçou essa visão", afirma o boliviano-brasileiro Eduardo Lohnhoff, estudante de sociologia e militante do Partido Comunista Boliviano, que apoia Morales, mas pressiona por um governo mais à esquerda.

Presença de Dilma na posse de Evo Morales pode melhorar o relacionamento entre os dois países

Estrada

Lohnhoff conversou com a BBC nas ruínas do sítio arqueológico de Tiwanaku, vizinho à La Paz, onde um ritual indígena celebrou o novo mandato de Morales – o local era sede de uma civilização anterior aos incas.

Entre os fatores que alimentam a visão negativa do Brasil em parte da sociedade boliviana, diz ele, está o interesse brasileiro em concluir uma estrada cortando a Bolívia e o norte do Chile para conectar o porto de Santos (SP) ao Oceano Pacífico, além da presença de grandes fazendeiros brasileiros produtores de soja na região de Santa Cruz de La Sierra.

De acordo com uma nota divulgada pelo Itamaraty, "as relações com a Bolívia são prioritárias para o Brasil" e "um marco relevante será a conclusão da pavimentação do corredor rodoviário interoceânico, que cruzará o território boliviano, conectando o porto de Santos aos portos chilenos".

Essa enorme rodovia terá um total de 2.700 quilômetros de extensão, sendo 1.561 quilômetros em território da Bolívia, 947 quilômetros em solo brasileiro e 192 quilômetros em área do Chile. A estrada atravessa as regiões bolivianas de Santa Cruz, Cochabamba e Oruro, cortando áreas de preservação ambiental, o que gerou resistência de grupos locais.

Mas, segundo Lohnhoff, a oposição à obra tem diminuído, a partir de um trabalho do presidente de convencer a população da importância do empreendimento para o desenvolvimento local.

"A verdade é que o impacto ambiental não é tão grande assim e a estrada pode melhorar a circulação dentro do país", considera.

Asilo político

Outro fator que estremeceu a relação Brasil-Bolívia foi o episódio da fuga do senador de oposição boliviano Roger Pinto Molina, observa a socióloga brasileira Fernanda Wanderley, que vive há duas décadas na Bolívia e é professora da Universidad Mayor de San Andrés, em La Paz.

"Causou uma tensão e uma certa paralisação nas relações", ela afirma. Molina, senador oposicionista que é acusado de corrupção e responde a 14 processos no país, pediu asilo ao Brasil em maio de 2012 argumentando perseguição política. O pedido foi atendido pelo governo Dilma.

No entanto, a Bolívia não concedeu salvo conduto para que ele deixasse o país, de modo que o Molina viveu por quase 15 meses na Embaixada brasileira em La Paz. O impasse levou o diplomata Eduardo Saboia a fugir com o senador para o Brasil, mesmo sem autorização prévia do Itamaraty.

Wanderley lembra que o episódio Molina traz consequências práticas até hoje. Desde a fuga do senador em agosto de 2013, a Embaixada brasileira em La Paz não tem um embaixador oficial. O cargo vem sendo ocupado interinamente desde a retirada de Marcel Biato, que não agradava Morales. Atualmente está à frente da Embaixada o encarregado de negócios Antonio José Resende de Castro.

Nesse contexto, a professora acredita que a vinda de Dilma pela primeira vez ao país para prestigiar a posse de Morales seja um gesto que pode melhorar o relacionamento entre os dois países.

Para comparecer à La Paz, a presidente desmarcou sua ida ao Fórum Econômico de Davos, na Suíça. Com a presença na cerimônia de Morales, Dilma também retribui a ida do líder boliviano a Brasília para sua posse de segundo mandato.

O sociólogo boliviano Fernando Mayorga também considera importante a vinda de Dilma a La Paz para a relação bilateral. Ele minimiza o esfriamento recente entre os dois países.

Proximidade

Mayorga observa que Morales e Lula eram muito próximos porque tinham muito em comum e considera natural que a relação tenha se tornado mais fraca com a mudança de presidente no Brasil.

"Lula foi muito importante para dar legitimidade a Morales, foi uma influência forte frente ao radicalismo de Hugo Chávez (ex-presidente venezuelano). Ambos vieram do sindicalismo, são mais abertos à negociação que Chávez, que era um militar", afirma.

Mayorga acredita que Morales buscará melhores relações externas no seu terceiro mandato, porque a queda dos preços das commodities exportadas pelo país, como gás e minérios, aumentará a necessidade de atrair investimentos estrangeiros para industrializar a economia nacional.

O Brasil é o principal parceiro comercial da Bolívia: consome cerca de 40% do total das exportações bolivianas, por causa da venda do gás natural, e é a segunda maior origem de suas importações, atrás apenas do Chile.

O intercâmbio comercial entre as duas economias (soma das importações e exportações) passou de US$ 818 milhões em 2002 para US$ 5,4 bilhões em 2014 – sendo que o saldo é negativo para o Brasil em US$ 2,2 bilhões.

Além da importância da questão energética (gás) e da integração logística regional, outra agenda bilateral relevante é o controle da fronteira para combate ao tráfico de drogas.

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