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Política

Dilma quer superar tensão com EUA, mas espera resposta satisfatória

Presidente deseja se proteger contra novos vazamentos que possam constranger seu governo

10 set 2013 - 18h37
(atualizado às 21h28)
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<p>Presidentes Dilma Rousseff e Barack Obama durante a foto oficial dos líderes da cúpula do G20 em São Petesburgo, onde conversaram sobre espionagem</p>
Presidentes Dilma Rousseff e Barack Obama durante a foto oficial dos líderes da cúpula do G20 em São Petesburgo, onde conversaram sobre espionagem
Foto: Reuters

A presidente Dilma Rousseff deseja encerrar a crise diplomática com os Estados Unidos por causa da revelação de que ela e outros brasileiros foram espionados, mas antes deseja se proteger contra novos vazamentos que possam constranger seu governo, disse um alto funcionário do governo brasileiro à Reuters nesta terça-feira. Várias revelações feitas desde julho com base em documentos fornecidos pelo ex-técnico de uma agência de inteligência americana Edward Snowden detalharam como os EUA espionaram diversos alvos comerciais e governamentais no Brasil.

Embora muitos países tenham sido citados como alvos nos documentos de Snowden, as denúncias envolvendo o Brasil são particularmente delicadas porque, em 23 de outubro, Dilma deveria se tornar a primeira chefe de Estado brasileira, desde 1995, a fazer uma visita de Estado -um grau excepcional de formalidade - à Casa Branca.

Essa é a única visita de Estado que o governo de Barack Obama planeja receber neste ano, e seu objetivo é salientar a aproximação entre as duas maiores economias das Américas. Ela também se destina a servir de plataforma para diversos acordos envolvendo biocombustíveis, petróleo e a possível compra de caças da americana Boeing pelo Brasil.

Apesar de ter condenado vigorosamente a espionagem dos EUA, inclusive na última segunda-feira, Dilma espera "encerrar essa confusão" assim que possível, e confirmar a visita a Washington, disse a fonte sob anonimato. Mas ela também teme que novas revelações nas próximas semanas intensifiquem as críticas no Brasil, especialmente por parte da esquerda petista, de que ela não estaria sendo suficientemente dura com Washington.

Ela deseja, portanto, que o governo Obama faça imediatamente uma divulgação pública e completa sobre até onde foi a espionagem dos EUA no Brasil, acrescentou a fonte. "Não podemos ficar reféns dessas reportagens que saem toda semana a partir do Snowden", disse a fonte. "A única solução para elas é dizer até onde foram, e explicar por que fizeram."

Dilma e Obama se reuniram durante 45 minutos na semana passada, durante a cúpula do G20 em São Petersburgo, na Rússia, e ela disse posteriormente que o americano havia aceitado fornecer até esta quarta-feira um relatório completo sobre a espionagem feita pela Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês). "Quero saber tudo", disse Dilma a jornalistas antes de voltar ao Brasil, na sexta.

O chanceler Luiz Alberto Figueiredo deve se reunir amanhã em Washington com a assessora de Segurança Nacional americana, Susan Rice, para receber a resposta dos EUA. Não está claro se o governo Obama está disposto a - ou será capaz de - oferecer uma resposta suficientemente abrangente para satisfazer o governo brasileiro, segundo João Augusto de Castro Neves, analista do Eurasia Group, em Washington.

"Não tenho nem certeza de que (na Casa Branca) saibam a quantidade de informação que possuem sobre o Brasil", afirmou. "Dilma obviamente deseja que tudo isso passe a tempo de ela ir a Washington, mas não sei se ela terá o que quer."

Obama não pediu desculpas pela espionagem dos EUA no Brasil e em outros países aliados, mas admitiu na sexta-feira que Washington precisa "dar um passo atrás e rever o que estamos fazendo".

As revelações sobre a espionagem da NSA há dois domingos consecutivos abalam o Brasil. As denúncias foram feitas no programa Fantástico, da TV Globo, em colaboração com o jornalista americano Glenn Greenwald, que mora no Rio de Janeiro e publicou várias reportagens no jornal inglês The Guardian sobre as revelações de Snowden.

No último domingo, o Fantástico revelou que a NSA havia espionado a Petrobras. Dilma divulgou na segunda-feira uma nota em termos duros, dizendo que essa atividade foi "manifestamente ilegítima", por não ter relação com as alegadas preocupações americanas envolvendo terrorismo e segurança nacional.

Espionagem americana no Brasil
Matéria do jornal O Globo de 6 de julho denunciou que brasileiros, pessoas em trânsito pelo Brasil e também empresas podem ter sido espionados pela Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (National Security Agency - NSA, na sigla em inglês), que virou alvo de polêmicas após denúncias do ex-técnico da inteligência americana Edward Snowden. A NSA teria utilizado um programa chamado Fairview, em parceria com uma empresa de telefonia americana, que fornece dados de redes de comunicação ao governo do país. Com relações comerciais com empresas de diversos países, a empresa oferece também informações sobre usuários de redes de comunicação de outras nações, ampliando o alcance da espionagem da inteligência do governo dos EUA.

Ainda segundo o jornal, uma das estações de espionagem utilizadas por agentes da NSA, em parceria com a Agência Central de Inteligência (CIA) funcionou em Brasília, pelo menos até 2002. Outros documentos apontam que escritórios da Embaixada do Brasil em Washington e da missão brasileira nas Nações Unidas, em Nova York, teriam sido alvos da agência.

Logo após a denúncia, a diplomacia brasileira cobrou explicações do governo americano. O ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, afirmou que o País reagiu com “preocupação” ao caso.

O embaixador dos Estados Unidos, Thomas Shannon negou que o governo americano colete dados em território brasileiro e afirmou também que não houve a cooperação de empresas brasileiras com o serviço secreto americano.

Por conta do caso, o governo brasileiro determinou que a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) verifique se empresas de telecomunicações sediadas no País violaram o sigilo de dados e de comunicação telefônica. A Polícia Federal também instaurou inquérito para apurar as informações sobre o caso.

Após as revelações, a ministra responsável pela articulação política do governo, Ideli Salvatti (Relações Institucionais), afirmou que vai pedir urgência na aprovação do marco civil da internet. O projeto tramita no Congresso Nacional desde 2011 e hoje está em apreciação pela Câmara dos Deputados.

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