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Eleitor de Bolsonaro é preso após matar a facadas e tentar decapitar apoiador de Lula em Mato Grosso

Apoiador do presidente da República matou eleitor do candidato do PT com golpes de faca após briga sobre política; crime aconteceu no Dia da Independência

9 set 2022 - 11h51
(atualizado às 19h47)
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CUIABÁ - Um eleitor do presidente Jair Bolsonaro (PL) foi preso após matar um apoiador de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a facadas. O crime ocorreu na quarta-feira, 7, após uma discussão em Confresa (MT), de acordo com a Polícia Civil. A cidade fica a 1.157 quilômetros da capital Cuiabá.

Apoiador de Bolsonaro, Rafael Silva de Oliveira, 22 anos, ainda tentou decapitar a vítima, Benedito Cardoso dos Santos, de 44 anos. A prisão de Rafael foi em flagrante e convertida em preventiva por decisão judicial. Ele responderá por homicídio duplamente qualificado — por motivo torpe e cruel.

Faca utilizada no crime; vítima foi morta após discussão sobre Lula e Bolsonaro. Foto: Fátima Lessa

"Intolerância não deve e não será admitida", escreveu o juiz Carlos Eduardo Pinho Bezerra de Menezes, da 3.ª Vara de Porto Alegre do Norte, na decisão em que acolheu o pedido da Polícia Civil sobre a detenção.

O delegado Igor Rafael Ferreira de Oliveira, da Delegacia de Polícia Civil de Confresa, afirmou ao Estadão, por telefone, que o crime foi causado por um "debate político". "A motivação do crime foi um debate político que envolvia os dois candidatos (Bolsonaro e Lula)", disse. "Não posso afirmar se foi intolerância política, porque o que disponho até agora foi baseado na narrativa do criminoso. Só as investigações podem confirmar", destacou.

A campanha presidencial de 2022 já é a quarta mais violenta no atual período democrático, ultrapassando a de 1989 (23 assassinatos por motivações políticas), 1994 (17), 2002 (43), 2006 (25) e 2014 (20). Com apenas um mês de campanha oficial, as eleições deste ano seguem tendência de aproximar ou mesmo ultrapassar os registros dos 12 meses dos anos com maior incidência de homicídios no setor. Em 2010 foram registrados 73 assassinatos, em 2018, 71, e em 1998, 57.

Os dados são do Monitoramento de Crimes Políticos realizado pelo Estadão desde 2013. O levantamento inclui assassinatos ocorridos na política desde 28 de agosto de 1979, data da Lei da Anistia, marco do período da redemocratização. De lá para cá foram registrados 2019 homicídios. O levantamento exclui casos de crimes passionais, conflitos de trânsito e limitados à criminalidade em geral, sem conotações políticas.

Polícia Civil chega ao local do crime no MT. Foto: Reprodução/Polícia Civil MT

Segundo o delegado, Benedito trabalhava numa fazenda que fornecia lenha para a cerâmica onde Rafael era empregado. Ele estava na propriedade havia cerca de duas semanas cortando lenha para a empresa. Após horas de discussões, Benedito teria acertado um soco no queixo de Rafael por causa de suas opiniões políticas.

Em resposta, ainda de acordo com o delegado, Rafael puxou uma faca e atingiu Benedito nas costas, nos olhos, na testa e no pescoço. "A primeira facada foi nas costas. A vítima caiu. Nesse momento, Rafael desferiu 15 facadas no rosto. Não satisfeito, ele tentou decapitar a vítima com um machado", afirmou Oliveira.

O corpo de Benedito só foi encontrado no dia seguinte, na quinta-feira, por volta das 11 horas numa área de chácara, próximo da Agrovila Luminar, por Lourival da Costa e Silva, 60 anos. Ele contou que seguia para o trabalho na cerâmica Tijolão, zona rural, quando se deparou com o corpo jogado no chão e próximo dele, em pé, estava o Rafael.

O suspeito teria contado a Lourival uma história, considerada por ele, sem nexo. Rafael teria dito que a vitima e ele tinham sido atacados por dois rapazes e um deles teria matado Benedito. Rafael só não teria morrido porque conseguiu escapar.

Apesar de ter achado a história estranha, Lourival seguiu para o serviço, na cerâmica, onde contou para sua patroa, Maria Sonia Rodrigues Leite, o que tinha acontecido. Em seguida, ela entrou em contato com a Polícia Militar, por volta das 11 horas de quinta-feira.

Rafael, então, chegou à cerâmica pedindo dinheiro. Sonia entrou novamente em contato com a PM informando que o suspeito foi à cerâmica e que acreditava que "estava querendo fugir da cidade sem dar explicações".

A PM informou ao plantão da Polícia Civil para irem juntos até o local do homicídio. Em conversa com os policiais militares, Rafael informou de repente começou uma discussão com o Benedito e que ambos entraram em luta corporal. Ele, então, acabou "saindo de si e matou seu colega com golpes de faca e que ainda teria tentado decapitar a vítima com um machado", como consta no Boletim de Ocorrência da Policia Militar.

O suspeito estava com lesões, corte no supercílio e alguns arranhões pelo corpo devido à luta corporal com a vítima. Ele foi levado para fazer curativo no hospital da cidade e de lá levado para a delegacia onde foi instaurado o inquérito. Na delegacia ele contou em detalhes da discussão. Rafael foi preso em flagrante e depois a prisão foi convertida em preventiva.

Decretos de Bolsonaro que flexibilizavam compra e porte de arma foram suspensos

Na segunda-feira, 5, o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), concedeu liminares em três ações para limitar a posse de arma de fogo e a quantidade de munições que podem ser compradas. Fachin considerou o aumento do risco de violência política com o início da campanha eleitoral e suspendeu trechos de decretos do presidente Jair Bolsonaro que regulamentam o Estatuto do Desarmamento.

O ministro decidiu que a posse de armas de fogo só pode ser autorizada para quem demonstrar necessidade concreta, por razões profissionais ou pessoais. A decisão prevê ainda que a aquisição de armas de uso restrito só pode ser autorizada no "interesse da própria segurança pública ou da defesa nacional", não em razão do interesse pessoal. A comercialização de munições também fica limitada.

A decisão liminar diz que o início da campanha eleitoral "exaspera o risco de violência política". "O risco de violência política torna de extrema e excepcional urgência a necessidade de se conceder o provimento cautelar", escreveu o ministro.

Foz do Iguaçu

Em 10 de julho deste ano, um guarda municipal de Foz do Iguaçu foi assassinado em sua festa de aniversário por um apoiador do presidente Bolsonaro. Marcelo Arruda era tesoureiro do PT na cidade e teve sua festa interrompida duas vezes por Jorge José da Rocha Guaranho. A decoração da celebração era inspirada em Lula e no PT.

Na semana passada, um policial militar de folga atirou na perna de um fiel durante um culto da Congregação Cristã no Brasil em Goiânia, supostamente também por motivação política. /Colaborou Rayssa Motta

Estadão
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