Disputa nas capitais: veja quem são os cotados para a Prefeitura de Salvador nas eleições de 2024
Partidos da base do governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), anunciam pré-candidatura do vice-governador Geraldo Júnior (MDB) e atual prefeito Bruno Reis (União Brasil) se diz 'à disposição' para disputar reeleição
A proximidade das eleições municipais tem movimentado os grupos políticos que disputam o poder em Salvador. O cenário da oposição na capital baiana é marcado pela indicação de uma candidatura única, apoiada pela base do governador Jerônimo Rodrigues (PT). Em meio a constantes reuniões internas entre as lideranças, a pré-candidatura do vice-governador Geraldo Júnior (MDB) foi oficializada na última quinta-feira, 21, pelo petista. Enquanto isso, o atual gestor da cidade, prefeito Bruno Reis (União Brasil), se diz "à disposição, com muito entusiasmo e vontade de trabalhar" para tentar a reeleição em 2024.
Em efeito cascata, a decisão da ala governista também marca a retirada das pré-candidaturas dos deputados estaduais Olívia Santana (PCdoB) e Robinson Almeida (PT). Anteriormente, os dois nomes foram apresentados pela Federação Brasil da Esperança, que é encabeçada por PT, PCdoB e PV. Após o anúncio do emedebista, os parlamentares reforçaram que sua retirada do pleito visa a unidade das forças políticas aliadas.
A deputada estadual comunicou sua saída da disputa eleitoral em um vídeo publicado no Instagram. "[...] O governador acabou de anunciar o nome do candidato do MDB e nós respeitamos a decisão. Portanto, eu não vou poder seguir com a pré-candidatura porque é uma decisão que envolve a federação, um bloco de forças políticas e o nosso partido seguirá essa decisão. Eu não serei mais pré-candidata, mas continuarei na luta através do nosso mandato", revela Olívia.
Já o deputado Robinson Almeida disse que a medida está alinhada ao compromisso de união firmado entre os partidos. Em nota, ainda falou sobre o processo de convocação à pré-candidatura e o "sonho da eleição de um prefeito do Partido dos Trabalhadores" em Salvador. "Com decisão por unidade, esse grupo apresentou várias teses e nomes para representá-lo na disputa eleitoral. Após meses, a tese de candidatura de esquerda não vingou. A escolha é por outro perfil", argumenta.
Segundo o cientista político Cláudio André de Souza, a estratégia de apresentar uma chapa única da esquerda pode ser uma forma de acumular força política e ter um resultado diferente do alcançado nas eleições de 2020, quando houve a "pulverização de candidaturas" nesse espectro político em Salvador.
"Sobre essa estratégia de candidatura única, isso perpassa por uma estratégia do ex-governador Rui Costa que pulverizou as candidaturas e, até mesmo do ex-governador Jaques Wagner, que também fez isso em algumas eleições em que a candidatura ligada ao governo não ia ser única, mas sim de vários candidatos. E, obviamente, isso dá uma demonstração de fraqueza quando se tem vários candidatos amargando 15, 10, cinco por cento, e foi esse o cenário presente na eleição de 2020?, afirma.
A partir dessa perspectiva, o especialista acrescenta que, tendo em vista a tentativa de reeleição do atual prefeito, a oposição passa a rever sua estratégia para aumentar suas chances na disputa municipal.
"O que acaba acontecendo é que os grupos de oposição a Bruno Reis, de alguma forma, começam a calcular agora de uma maneira diferente quem será o candidato ou candidata dentro de uma perspectiva de acumular forças. Então, eu vejo dessa maneira, neste momento, a eleição em Salvador está sendo marcada por um prefeito bem avaliado e por grupos que entendem que precisam passar por uma eleição difícil", complementa.
Confira abaixo quem são os pré-candidatos à prefeitura de Salvador:
Bruno Reis está 'à disposição' para a reeleição
O atual prefeito da capital baiana, Bruno Reis, ainda não confirmou se tentará a reeleição em 2024, mas já deu sinais de estar interessado. Em entrevista ao Estadão, o gestor afirmou que tomará a decisão depois de ouvir a população e fazer novas pesquisas.
No cenário da política baiana, o gestor municipal já foi deputado estadual por dois mandatos, entre 2011 e 2017, e vice-prefeito de Salvador de 2017 a 2020. Nas eleições de 2020, Reis contou com a plataforma de seus quatro anos na vice-prefeitura e com o apoio do então prefeito ACM Neto (União), e foi eleito com folga já no primeiro turno, com 64,2% dos votos válidos — 779.408 no total. A segunda posição ficou com Major Denice (PT), que alcançou 18,8% dos votos.
"Ao tomar a decisão em relação à candidatura, nós ouvimos as pessoas, fazemos as devidas pesquisas. No momento certo, no ano que vem, vamos tomar a decisão, mas não tenho dúvidas sobre o que vai prevalecer é a opinião do povo. Se esse for o desejo da cidade, eu estou à disposição, com muito entusiasmo e vontade de trabalhar", declara.
Geraldo Júnior é escolhido pela base governista
Após meses de negociação, o vice-governador Geraldo Júnior (MDB) é indicado como pré-candidato a fim de manter a unidade da base do Governo em torno de um nome para o pleito eleitoral. Conforme o governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), a decisão foi acordada pelo conselho político formado pelos líderes das siglas.
"Os soteropolitanos precisam de um projeto que cuida de gente, que entende que a cidade deve ser para todos, turistas e moradores. E meu amigo e companheiro de trabalho, Geraldo Júnior, é o representante ideal desse projeto", destaca Jerônimo.
No tabuleiro que envolve as escolhas para o pleito do próximo ano, o emedebista tem como ponto de destaque o fato de ter sido presidente da Câmara Municipal de Salvador entre 2019 e 2022. Em março do último ano foi reeleito para o terceiro mandato, no biênio 2023-2024. Naquele mesmo mês, foi anunciado como pré-candidato a vice-governador da Bahia, na chapa de Jerônimo Rodrigues, que foi vitoriosa.
"Como pré-candidato à Prefeitura, levo comigo não apenas a experiência de quatro mandatos como vereador e duas presidências na Câmara, mas também um amor profundo por nossa cidade vibrante", diz o vice-governador.
De acordo com Geraldo Júnior, antes da oficialização da pré-candidatura, a condição para tentar alcançar o Palácio Tomé de Sousa, sede da prefeitura da capital baiana, dependia da manutenção de alianças partidárias. "Tudo na minha vida eu sempre pautei no planejamento e estou gostando de ser vice-governador. Eu tenho vontade de governar a minha cidade, mas a única condição de eu ser candidato é se tiver a unidade do meu grupo político. A mesma unidade que nos levou à vitória em 2022?, afirma.
No último dia 17, o senador petista Jaques Wagner manifestou apoio e preferência pelo nome do emedebista durante entrevista coletiva depois de reunião do diretório estadual do PT. No entanto, ele afirmou que a escolha deveria ser negociada com as demais siglas. "É pública a minha simpatia por Geraldo Júnior. Eu não vou impor nada, porque não sou eu sozinho que falo. Aí tem negociações que não são só com o PT", admite.
Kleber Rosa se coloca na disputa pela esquerda, mas fora do grupo do governador
No campo da esquerda, mas fora do núcleo do governador Jerônimo Rodrigues, Kleber Rosa é pré-candidato à Prefeitura pelo PSOL. Ele é cientista social formado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), servidor público estadual e ativista do Movimento Negro. Nas últimas eleições gerais, em 2022, Rosa disputou o Governo da Bahia e ficou como quarto colocado, com 48.239 votos válidos (0,59%).
Ao Estadão, o pré-candidato afirmou que um dos pontos centrais discutidos pelo partido é a garantia do direito à cidade para a população pobre e periférica. Segundo ele, a perspectiva passa por um diagnóstico que avalia a realidade da capital baiana e propõe a implementação de ações e iniciativas como a tarifa zero no transporte público. "Garantir o direito à cidade para todas as pessoas, obviamente, perpassa pela mobilidade urbana, que é o elemento número um", afirma o candidato.
"A nossa preocupação é ter um diagnóstico e a leitura que o meu partido tem feito é de que Salvador é uma cidade forjada para ser desigual desde a sua concepção dirigida pelos grupos aristocráticos, pela elite que pensa que o lugar da população pobre é na periferia, distante. A cidade foi planejada dessa forma, com as desocupações de moradias populares do centro e sendo jogadas sempre para as periferias", diz Rosa.
Rosa ainda falou sobre a escolha do nome de Miralva Nascimento, conhecida como Dona Mira, para pré-candidata à vice-prefeita no pleito eleitoral em 2024. Ela é educadora, ativista do Movimento Sem-Teto e já se candidatou ao cargo de vice-governadora da Bahia nas eleições gerais de 2018, além de ter sido candidata à co-vereadora na chapa coletiva Guerreiras em 2020.
João Roma é pré-candidato na direita, mas não descarta aliança com o prefeito
No campo da direita, o presidente do Partido Liberal (PL) na Bahia, João Roma, já declarou que pretende ser pré-candidato à Prefeitura de Salvador para as eleições de 2024. Ex-ministro da Cidadania no governo de Jair Bolsonaro (PL), Roma também não descarta uma possível aliança com o atual prefeito Bruno Reis.
O ex-ministro é formado em Direito e entrou na vida política junto ao ex-prefeito ACM Neto (União), de quem chegou a ser chefe de gabinete.
Roma ainda foi deputado federal pela Bahia em 2018 e, nas últimas eleições gerais, concorreu ao Governo do Estado e ficou em terceiro lugar com 738.311 votos. Agora, na chefia do PL, atua em oposição ao governador petista Jerônimo Rodrigues.
Luciana Buck é aposta do Partido Novo
O nome da professora universitária e administradora Luciana Buck foi anunciado pelo Partido Novo como pré-candidata à Prefeitura da cidade. Segundo a sigla, a pré-candidata, que nunca assumiu cargo eletivo, atua no universo empresarial. Em 2022, ela disputou as eleições gerais para o cargo de deputada federal, mas não foi eleita.
A postagem do Partido Novo que anunciou a pré-candidatura de Luciana afirma que ela "conhece de perto os desafios do mundo empresarial e as consequências de um Estado burocrático, ineficiente e inimigo da geração de emprego e renda". Entre as principais bandeiras da candidata, conforme apresentadas pelo partido na publicação, estão "a desburocratização, a redução de impostos e a gestão pública baseada em resultados".
As eleições municipais de 2024 estão previstas para o dia 6 de outubro, de acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Caso haja necessidade de segundo turno, a votação deve acontecer em 27 de outubro.
Nomes cotados à disputa eleitoral em 2024 na capital baiana:
Bruno Reis (União Brasil), atual prefeito de Salvador;
Geraldo Júnior (MDB), atual vice-governador da Bahia;
Kleber Rosa (PSOL), cientista social e servidor público estadual;
João Roma (PL), presidente do partido no Estado e ex-ministro da Cidadania;
Luciana Buck (Novo), professora universitária e administradora.