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Política

Doria defende protagonismo do Brasil na área ambiental e diz deixar vida política sem mágoas

De volta à economia privada, ex-governador alerta que recuperar o ambiente não é missão apenas de governos e diz que não é preciso estar na política para ajudar e contribuir

29 mar 2023 - 05h10
(atualizado às 07h42)
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João Doria se afastou da política depois de desistir da candidatura à Presidência, em 2022
João Doria se afastou da política depois de desistir da candidatura à Presidência, em 2022
Foto: Werther Santana/Estadão

Filiado por 22 anos ao PSDB, e tendo governado com o segundo e o terceiro maiores orçamentos do País - como prefeito de São Paulo e governador do Estado -, João Doria começa esta conversa com Cenários com um esclarecimento: "Acabou o exercício da política. Fiquei no PSDB por 22 anos e entendi, sem nenhuma mágoa ou ressentimento, que era o momento da desfiliação". O aviso vem com o lançamento - na segunda-feira passada, na livraria Travessa do Iguatemi - do livro João Doria - O Poder da Transformação, do jornalista Thales Guaracy (ed. Matrix).

Na conversa, o ex-tucano adverte: não é preciso estar na política para ajudar e contribuir. E dá como exemplo as ações do Lide, o Grupo de Líderes Empresariais, que ele criou e do qual é agora cochairman, ao lado de Henrique Meirelles e Celso Lafer.

E o Brasil de 2023? Doria apoia a atuação do ministro Fernando Haddad, da Fazenda, "por sua visão mais técnica, mais plural", respeitando o mercado e o setor produtivo, que podem fazer o País "marchar por um bom caminho".

Na questão ambiental, não vê "contraposição entre gerar resultados financeiros e proteger o meio ambiente". E a tarefa de levar o Brasil a uma posição de destaque mundial nessa área "não é só de governos, mas também de empresas e da sociedade civil. Houve um descuido generalizado, precisamos reverter o processo. E a responsabilidade é de todos". A seguir, os principais trechos da conversa.

Como ex-governador, de volta ao setor privado, como vê hoje o debate sobre a economia do País?

Essa não é uma pergunta de US$ 1 milhão, mas de US$ 1 bilhão. É possível constatar divergências entre a equipe econômica, liderada pelo ministro Fernando Haddad, e a equipe política do governo. Fico com a opção de Haddad, uma visão mais técnica, mais plural e de auscultagem - e eu o parabenizo por isso - no mercado, no setor produtivo. Se ele avançar no programa de reformas, entendendo que a economia privada precisa ser preservada, que é necessário um teto de gastos e boas oportunidades para investidores externos, o Brasil pode marchar por um bom caminho.

Quando no governo, como você lidou com esse antagonismo que vemos hoje?

Lidei com diálogo e bom senso. Ouvindo todos, os que têm razão e os que não têm, sabendo qual direção tomar, assumindo riscos. O que não é razoável é deixar os confrontos prosperarem. Espero, sinceramente, que Lula se mantenha ao lado do ministro.

De volta à iniciativa privada, o que você trouxe da vida política?

Bons aprendizados. A vida pública também ensina - não só o setor privado - pelos maus exemplos, o que não se deve fazer. Pela capacidade de ouvir, discernir, sem confronto ou agressão. E saber ouvir. Essa foi uma grande lição que tive da política. Uma outra boa lição foi que entrei na vida pública em 2016 como um liberal e saí, em 2021, como um liberal-social. Aprendi que não só o liberalismo econômico pode oferecer soluções ao País, mas também o liberalismo social. É a combinação entre os valores da livre iniciativa, a compreensão de que o privado geralmente realiza mais e melhor. E ampliando a responsabilidade social para mitigar a pobreza, reduzir as vulnerabilidades, investir em educação, saúde, casa popular. Não há hipótese de o setor privado atender na plenitude essas necessidades.

Já decidiu quais os seus planos daqui para frente?

Criei uma consultoria, a D. Advisors, D de Doria. Uma empresa pequena, vamos atender apenas dez clientes. No momento temos oito, um deles é o Lide, que tive a alegria de fundar e hoje tem como presidente executivo meu filho João Doria Neto, o Johnny. E o Luis Fernando Furlan como chairman of the world - eu sou cochairman ao lado do Henrique Meirelles e do Celso Lafer. Um dos campos da D. Advisors é a solução de conflitos. Mas expansão de negócios e geração de novas atividades fazem parte do projeto.

Você vai a Londres no começo de abril. Fazer o quê?

Ajudar o Brasil. O "Brazil Investment Forum", nos dias 20 e 21, vai reunir altas figuras, públicas e privadas, e mostrar a nova face do País. Depois temos outro encontro em Nova York, dias 9 e 10 de maio.

Muito se fala sobre o Brasil vir a ser um líder da economia verde. Concorda?

Já poderíamos ter essa posição há algum tempo. E entendo que o atual governo tem um compromisso ambiental diferente do anterior. Com destaque para preservação ambiental, energia solar, respeito às populações indígenas. Esses passos podem ajudar o País a conseguir essa notoriedade mundial, pela construção de uma potência verde, não só pela Amazônia, mas incluindo todo o País.

Esse modo de abordar as coisas significa que acabou a política para você?

Acabou o exercício da política. Não tenho mais nenhum partido. Fui filiado ao PSDB durante 22 anos e entendi, sem mágoas ou ressentimento, que era a hora de me desfiliar. Mas vou continuar oferecendo minha contribuição. Para isso não é preciso estar na política, mas respeitá-la. Contribuir com atitudes, não só pela crítica.

Estadão
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