Doria se lança como 'João Pacificador' e manda carta com pedido de desculpas para Lula e Alckmin
Texto do ex-governador de São Paulo tem pedidos de desculpas por 'exageros' e 'injustiças' cometidos contra o petista em campanhas eleitorais; esse não é o primeiro gesto de aproximação entre os dois
BRASÍLIA - O ex-governador de São Paulo João Doria (sem partido) enviou uma carta para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), antigos rivais políticos, na intenção de selar a paz entre eles. Ao Estadão, Doria disse que pediu desculpas por "exageros" e "injustiças" feitas contra o petista em campanhas eleitorais.
"Eu fiz uma carta e mandei me referindo aos exageros, que eu de fato cometi em campanha. Eu reconheci que a linguagem que eu utilizei foi, muitas vezes, exagerada e injusta ao presidente Lula", disse Doria.
Esse não é o primeiro gesto de aproximação entre os dois. Em outubro do ano passado, o ex-governador afirmou que o presidente era um "pacificador" e fez outro pedido de desculpas por críticas passadas. O empresário também afirmou que o apoio dele ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) havia sido um equívoco. Antes disso, em julho de 2023, havia circulado a informação de que Lula vetara a presença de ministros do seu governo em eventos do Lide, organização fundada por Doria.
Em 2007, João Doria foi um dos criadores do movimento "Cansei", que fez oposição ao governo Lula e surgiu no período do caos aéreo após o acidente do voo TAM 3054, que deixou 187 mortos nas imediações do Aeroporto de Congonhas, na capital paulista.
Em 2018, filiado ao PSDB e ainda prefeito de São Paulo, ele comemorou a condenação de Lula, devido a acusações de corrupção passiva e lavagem de dinheiro no âmbito da Operação Lava Jato. Em agosto de 2019, já governador, ele ironizou um pedido de transferência do petista, que estava encarcerado em Curitiba, para um presídio em São Paulo. Na época, Doria disse que ele ia ser "tratado como os outros presidiários" e que teria a oportunidade de "fazer algo que jamais fez na vida: trabalhar".
Ao Estadão, Doria afirmou que agora é o "João Pacificador", em referência à alcunha de "João Trabalhador" usada na sua campanha para a Prefeitura de São Paulo em 2016, quando, em sua estreia eleitoral, bateu o então prefeito Fernando Haddad (PT) no primeiro turno. "Estou torcendo para o Brasil, para que ele seja pacificado. O Brasil não pode continuar a ser um País dividido, não pode ser um País de esquerda e de direita", disse.
A paz entre João Doria e Geraldo Alckmin foi selada em uma visita que o vice-presidente fez à casa do ex-governador em São Paulo. Segundo Doria, foram deixadas para trás as rusgas da eleição de 2018 para o governo de São Paulo. Naquela ocasião, Alckmin apoiou o atual ministro do Microempreendimento, Márcio França (PSB), enquanto Doria se alinhou ao programa de Bolsonaro.
"Nós selamos a paz e o entendimento. Ele [Alckmin] foi muito gentil e ali nós deixamos o passado eleitoral para trás. Nunca fomos inimigos, mas, em 2018, fomos circunstancialmente adversários eleitorais", disse Doria, que afirmoutambém ter se conciliado com Márcio França.
O ex-governador, que diz não ter vontade de retornar à vida pública e está sem partido desde 2022, declarou que está utilizando a posição dele como dono do Grupo de Líderes Empresariais (Lide) para promover o Brasil no exterior. Nos últimos meses, o Lide bancou o custeio das viagens de autoridades brasileiras para a participação de palestras fora do País.
"Não tenho nenhuma intenção de voltar, mas não tenho mágoas e nem ressentimentos da vida pública. Na qualidade de empresário, hoje eu trabalho pelo bem do Brasil. Temos feitos isso nos eventos internacionais do Lide, falando das boas propostas do Brasil para investidores internacionais", afirmou.
Doria também distribuiu afagos a Haddad, atual ministro da Fazenda, e disse que ele está desempenhando um trabalho positivo na condução econômica do País: "Ele tem sido um bom ministro, tem tido o cuidado de ouvir o mercado e a sensibilidade de dialogar com a sociedade".