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Política

E-mail do Planalto registra que Bolsonaro recebeu saco de 'pedras preciosas' e guardou em cofre

CPMI do 8 de Janeiro obteve mensagens que sugerem que ex-presidente ficou com presentes recebidos em Teófilo Otoni (MG), durante a campanha

3 ago 2023 - 10h26
(atualizado às 13h45)
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Troca de mensagens indica também que os presentes não teriam sido cadastrados oficialmente
Troca de mensagens indica também que os presentes não teriam sido cadastrados oficialmente
Foto: Wilton Junior/Estadão / Estadão

Mensagens trocadas por militares vinculados à Presidência da República, obtidas pela CPMI do 8 de Janeiro, sugerem que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro receberam um envelope e uma caixa com supostas pedras preciosas na cidade de Teófilo Otoni, no ano passado. A troca de e-mails indica também que os presentes não teriam sido cadastrados oficialmente.

O Estadão teve acesso a dois e-mails trocados pelos primeiros-tenentes do Exército Adriano Alves Teperino e Osmar Crivelatti e pelo segundo-tenente da Força Cleiton Henrique Holzschuk. Os três foram ajudantes de Ordem da Presidência da República durante o governo Bolsonaro. Crivelatti era braço direito do tenente-coronel Mauro Cid - 'faz-tudo" do ex-presidente e preso desde maio por inserção de dados falsos de vacinação da covid-19 no sistema do Ministério da Saúde.

Os dois e-mails são intitulados "Passagem do Serviço Coordenação AJO/PR. Observações eventuais". As duas mensagens são listas numeradas com detalhes das atividades que os militares deveriam cumprir. A CPMI obteve trocas de e-mails entre 26 de outubro e 11 de novembro do ano passado.

E-mail da ajudância de ordens, de 27 de outubro de 2022, indica que o então presidente Jair Bolsonaro recebeu "pedras preciosas" na cidade de Teófilo Otoni (MG) durante a campanha eleitoral
E-mail da ajudância de ordens, de 27 de outubro de 2022, indica que o então presidente Jair Bolsonaro recebeu "pedras preciosas" na cidade de Teófilo Otoni (MG) durante a campanha eleitoral
Foto: Reprodução

A mensagem de 27 de outubro, às 18h21, é assinada pelo então coordenador administrativo da Ajudância de Ordens da Presidência da República, Cleiton Henrique Holzschuk. O militar envia os afazeres aos dois colegas. O item de número 36, intitulado "Presente PR", trata das supostas pedras.

"Em 27/10/2022, foi guardado no cofre grande, 01(um) envelope contendo pedras preciosas para o PR (presidente da República) e 01 (uma) caixa de pedras preciosas para a PD (primeira-dama), recebidas em Teófilo Otoni em 26/10/2022. A pedido do TC Cid, as pedras não devem ser cadastradas e devem ser entregues em mão para ele. Demais dúvidas, Sgt Furriel está ciente do assunto", indica o e-mail.

O e-mail de 31 de outubro, às 18h58, é assinado por Osmar Crivelatti. Nesta mensagem, as "pedras preciosas" são tratadas no item 24 da "passagem de serviço", o que indica que outros afazeres que constavam da lista já haviam sido finalizados.

Bolsonaro esteve na cidade mineira em 26 de outubro do ano passado, durante o 2º turno da campanha eleitoral contra o atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Naquela data, o então presidente discursou durante um comício, ao lado do pastor Silas Malafaia e do governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo).

Crivelatti é, atualmente, um dos assessores pessoais de Bolsonaro. O militar entregou à Polícia Federal (PF) as armas que o ex-presidente recebeu dos Emirados Árabes Unidos com o advogado Paulo Cunha, que representa Bolsonaro. As mensagens foram obtidas pela CPMI do 8 de Janeiro na caixa de e-mails deletados do militar, que não havia apagado os itens deste canal.

A existência do e-mail foi revelada pela deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), durante sessão da CPMI do 8 de janeiro na terça-feira, 1. A parlamentar declarou que havia obtido a informação sobre as "pedras preciosas" após análise de "mil e-mails" que haviam chegado à comissão.

"Essas pedras nunca foram registradas nem como presente ao presidente da República e à primeira-dama nem em lugar nenhum", afirmou Feghali.

A deputada declarou ao Estadão nesta quarta-feira, 2, que requereu a convocação de Osmar Crivelatti e de Cleiton Holzschuk, que assinam as mensagens. Feghali disse que vai denunciar o caso ao Tribunal de Contas da União (TCU), ao Supremo Tribunal Federal (STF) e à Polícia Federal (PF).

"Ele era presidente à época, então, presta contas ao TCU", disse. "Pedimos a quebra de sigilo da Michelle, do Bolsonaro e a movimentação do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) dos dois. Importante saber o volume de recursos que circularam. "

Presentes

O procedimento de praxe para presentes recebidos por qualquer presidente da República começa com um cadastro. Os bens ficam sob responsabilidade da Diretoria de Documentação Histórica, que faz parte do gabinete da Presidência. O órgão analisa o que vai para o acervo pessoal do presidente e o que deve ser incorporado ao patrimônio da União - e só o que vai para esse segundo grupo tem seu valor avaliado. A listagem não possui o valor dos bens.

Bolsonaro recebeu mais de 19 mil itens enquanto esteve na Presidência da República. A lista oficial de presentes recebidos por ele indicam que, em Teófilo Otoni, o então presidente ganhou uma placa do Sindicato Rural da cidade, um quadro e o livro "Cinco minutos com Jesus", de apoiadores, e um item de consumo da Indústria e Comércio Mate Cola LTDA.

Joias

Como o Estadão revelou em março, o governo Bolsonaro tentou entrar ilegalmente no Brasil, em 2021, com um conjunto de colar, anel, relógio e um par de brincos de diamantes da marca Chopard, de valor milionário. Segundo declarações iniciais, tratava-se supostamente de um presente do governo da Arábia Saudita para o então presidente e para a ex-primeira-dama, Michelle Bolsonaro.

O tenente da Marinha Marcos André Soeiro, ex-assessor de Bento Albuquerque, almirante de esquadra da Marinha que atuava como ministro de Minas e Energia, foi o responsável por tentar entrar com as joias no País, apreendidas no Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo.

Procurada, a assessoria de Bolsonaro ainda não havia se manifestado até a publicação desta matéria.

Estadão
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