Eduardo é criticado por debochar de tortura sofrida por Miriam Leitão
Políticos como Lula, Randolfe Rodrigues, Alessandro Vieira e João Amoedo, entre outros, repudiaram a atitude do parlamentar
Políticos condenaram o comentário feito pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), em tom de deboche, a respeito das práticas de tortura sofridas pela jornalista Miriam Leitão durante a ditadura militar. A maioria das reações veio do campo da esquerda, mas também houve comentários de nomes mais ligados à direita, como do presidente do partido Novo, Eduardo Ribeiro. O assunto foi um dos mais comentados nas redes sociais durante o fim de semana.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) prestou solidariedade à jornalista e disse que a tortura é "indefensável". Ele e Miriam Leitão já demonstraram divergências no passado, sobretudo quanto à política econômica do PT. "Seres humanos não precisam concordar entre si, mas comemorar o sofrimento alheio é perder de vez a humanidade", escreveu o petista.
Minha solidariedade à jornalista Miriam Leitão, vítima de ataques daqueles que defendem o indefensável: as torturas e os assassinatos praticados pela ditadura. Seres humanos não precisam concordar entre si, mas comemorar o sofrimento alheio é perder de vez a humanidade.
— Lula (@LulaOficial) April 4, 2022
O senador Randolfe Rodrigues (Rede) classificou o tuíte de Eduardo como "nojento, covarde e asqueroso", o que, segundo ele, reflete as características da família do presidente Jair Bolsonaro (PL). "Está chegando a hora de mandar esses bichos escrotos de volta para o esgoto", publicou ele.
Miriam Leitão foi torturada grávida pela ditadura que a família Bolsonaro apoia. Esse comentário é nojento, covarde e asqueroso, o que reflete o que é essa família. Está chegando a hora de mandar esses bichos escrotos de volta para o esgoto.
Minha solidariedade à @miriamleitao. https://t.co/vLI9ew0QPO
— Randolfe Rodrigues (@randolfeap) April 4, 2022
Ex-pré-candidato à Presidência, o senador Alessandro Vieira (PSDB) afirmou que o "deboche" feito pelo deputado é uma estratégia do bolsonarismo para redirecionar a atenção dos eleitores. Ele descreveu Miriam Leitão como uma "profissional com histórico impecável". " A estratégia dos Bolsonaro é clara: usar falas polêmicas para desviar a atenção da fome, da miséria e dos casos de corrupção que vêm surgindo no noticiário", escreveu.
A estratégia dos Bolsonaros é clara: usar falas polêmicas para desviar a atenção da fome, da miséria e dos casos de corrupção que vêm surgindo no noticiário. A última foi um ataque grosseiro e inaceitável contra a jornalista Miriam Leitão, profissional com histórico impecável.
— Senador Alessandro Vieira (@Sen_Alessandro) April 4, 2022
A deputada Natália Bonavides (PT-RN) pediu que a Câmara dos Deputados tome providências contra o filho do presidente. "A solidariedade a Miriam Leitão, torturada aos 19 anos e grávida, precisa ser a punição de Eduardo Bolsonaro. Apresentaremos denúncia ao Conselho de Ética!", disse.
A Câmara dos Deputados não pode aceitar que um deputado deboche dos crimes da ditadura. A solidariedade a Miriam Leitão, torturada aos 19 anos e grávida, precisa ser a punição de Eduardo Bolsonaro. Apresentaremos denúncia ao conselho de ética!
— Natália Bonavides (@natbonavides) April 4, 2022
Eduardo Ribeiro, presidente do Novo, defendeu que o mandato de Eduardo Bolsonaro seja cassado. "Covarde! Não tem caráter, decência nem dignidade para ocupar uma cadeira de parlamentar. Num país decente já teria tido seu mandato cassado", escreveu.
Covarde! Não tem caráter, decência nem dignidade pra ocupar uma cadeira de parlamentar. Num país decente já teria tido seu mandato cassado.
Não importa se você discorda das ideias da Miriam Leitão, fazer piada com a tortura que ela sofreu é simplesmente abjeto, desprezível. https://t.co/aIYzebzNLh
— Eduardo Ribeiro (@eduardorodrigo) April 4, 2022
Ex-candidato à Presidência em 2018, João Amoêdo (Novo) foi às redes lamentar o episódio e afirmou que "o respeito ao cidadão está acima de qualquer ideologia e é o mínimo que se espera de um parlamentar". A publicação foi compartilhada pelo ex-juiz Sérgio Moro (União Brasil).
Esse tuíte deveria servir de alerta para todos os eleitores paulistas.
Não seremos uma nação decente e próspera elegendo pessoas que fazem declarações inaceitáveis como essa.
O respeito ao cidadão está acima de qualquer ideologia e é o mínimo que se espera de um parlamentar. pic.twitter.com/DuZK3ehphc
— João Amoêdo (@joaoamoedonovo) April 4, 2022
Ex-candidata a vice-presidente na chapa de Fernando Haddad (PT) em 2018, Manuela d'Ávila afirmou que o comentário do parlamentar fere não apenas a jornalista, mas o País como um todo. "Ele debocha do Brasil, de nossas instituições e da incapacidade que temos de educar sobre a ditadura e punir quem a exalta."
O deboche que o filho de bolsonaro faz não é um deboche apenas com @miriamleitao, torturada gestante durante a ditadura militar.
Ele debocha do Brasil, de nossas instituições e da incapacidade que temos de educar sobre a ditadura e punir quem a exalta.
— Manuela (@ManuelaDavila) April 3, 2022
O deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP) disse sentir "nojo" da fala do colega parlamentar, digna, segundo ele, de "delinquente". Já a vereadora de São Paulo Erika Hilton (PSOL) classificou o comentário como "covarde e vil".
Também do PSOL, o deputado Ivan Valente (SP) disse que a fala foi repugnante. "Eduardo Bolsonaro, em tuíte, faz alusão à cobra que foi colocada na cela em que Mirian Leitão estava presa, na ditadura, sob tortura. Na ocasião estava grávida. É absurda a violência do tuíte, que exalta a tortura e a violência contra mulher sob o arbítrio ditatorial", publicou.
REPUGNANTE! Eduardo Bolsonaro, em tweet, faz alusão à cobra que foi colocada na cela em que Mirian Leitão estava presa, na ditadura, sob tortura. Na ocasião estava grávida. É absurda a violência do tweet, que exalta a tortura e a violência contra mulher sob o arbítrio ditatorial
— Ivan Valente (@IvanValente) April 4, 2022
Segundo relatos de Miriam Leitão, durante a ditadura militar ela foi presa e torturada com tapas, chutes e golpes que abriram sua cabeça. Além disso, teve de ficar nua em frente a dez soldados e três agentes de repressão e passar horas trancada em uma sala com uma jiboia. Ontem, reagindo a uma postagem da jornalista nas redes sociais, o deputado Eduardo Bolsonaro disse ter "pena da cobra".