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Política

Eleição em Manaus dribla polarização, tem temas regionais e disputa entre 'velha' e 'nova' política

Principais personagens do pleito na capital amazonense tentam esquivar-se da disputa nacional entre Lula e Bolsonaro; veja quem são eles

3 jul 2024 - 14h40
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Enquanto na maior parte do País a polarização representada pelos grupos do atual presidente, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tende a interferir diretamente nos pleitos municipais, em Manaus o tom deve ser diferente. As questões locais, sobretudo no debate sobre segurança pública, e uma disputa entre uma política mais tradicional representada pelo prefeito atual e candidato à reeleição, David Almeida (Avante) e uma nova geração representada, por exemplo, pelo deputado federal Amom Mandel (Cidadania), de apenas 23 anos e em seu primeiro mandato como deputado.

"Aqui os partidos se mesclam e os nomes se misturam; os temas regionais são preponderantes e isso explica certas alianças. A política amazonense é orientada por grupos e não por partidos ou ideologias. Nas articulações para o governo do Estado, os candidatos usam as eleições municipais como um ensaio, e isso determina certas alianças, para além de certas conjunturas ideológicas", afirma o cientista político e professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Gilson Gil.

Em anos anteriores, a capital inovou pouco nas escolhas e elegeu prefeitos do centro à direita do espectro político.. Amazonino Mendes, ex-governador, por exemplo, já esteve à frente da prefeitura por três vezes e Arthur Neto (sem partido) também. Já Alfredo Nascimento (PL) se alçou ao posto duas vezes, bem como Manoel Henriques Ribeiro; o levantamento feito considerou os anos de 1983 a 2021.

Segundo a pesquisa eleitoral do instituto Real Time Big Data, divulgada no dia 27 de maio e encomendada pela Record, ao terem seus nomes apresentados ao eleitor, Amon Mandel e David Almeida alcançaram 25% e 24% de intenções de voto, respectivamente. O deputado federal Alberto Neto (PL) aparece em terceiro lugar com 13% e Roberto Cidade (União) logo em seguida, com 12%.

Os pré-candidatos dessa eleição tendem a explorar especialmente o tema da a falta de segurança na região. O Estadão revelou que a região amazônica virou alvo de disputa entre PCC, Comando Vermelho e mais 20 facções. Além disso, o plano de segurança para a área não saiu do papel um ano após a promessa feita pelo governo Lula.

"Houve um crescimento exponencial da violência urbana e do consumo de drogas; hoje, alguns bairros encontram-se sob o domínio de narcotraficantes que controlam a logística da distribuição de drogas para o restante do País e para o exterior", analisa o consultor e professor de relações internacionais, Breno Leite.

Segundo o Mapa de Segurança Pública 2024, levantamento feito pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, Manaus é o terceiro município com mais homicídios dolosos do país. A cidade atingiu o total de 866 vítimas anuais em 2023. O estudo considera o número de homicídios totais. "Se considerarmos as populações das cidades e fizermos o cálculo para encontrar a proporcionalidade, Manaus ocupa o primeiro lugar na taxa de homicídios dolosos: 41,9 para cada 100 mil habitantes", afirma o deputado estadual Comandante Dan (Podemos), presidente da Comissão de Segurança Pública da Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas (Aleam).

Um emaranhado de antigas raízes

O jogo político amazonense é complexo. Em 2020, no último pleito municipal, o atual prefeito, David Almeida, esteve junto do governador Wilson Lima (União), e recebeu apoio do União Brasil para derrotar o senador Eduardo Braga (MDB) e o ex-governador Amazonino Mendes. Atualmente, a aliança entre Almeida e Lima caiu por terra, bem como o apoio do partido. Uma vez que o prefeito não obteve sucesso ao dialogar com seus aliados, o União agora tende a emplacar um candidato próprio: Roberto Cidade.

Atualmente, os senadores Braga e Omar Aziz (PSD) têm interesse na candidatura de Cidade, que preside a Aleam. A guinada de Wilson Lima à direita e a inércia de Almeida quanto às articulações dos senadores foram os responsáveis por esse recálculo de rota. "A partir do segundo ano de mandato do atual prefeito, ele foi instigado a dançar várias 'toadas de boi'. O governador o tirou para bailar, mas não acertaram os passos. Dos três senadores do Amazonas, dois flertaram com ele (Aziz e Braga). Se olharam, mas não afinaram a dança", afirma Raimundo Nonato, cientista político da Universidade Federal do Amazonas (Ufam).

Independentemente de quem for eleito, a relação com o Executivo nacional e estadual não será de completa oposição por parte do gestor municipal. Segundo o cientista político e professor da Ufam, Ludolf Junior, o "Amazonas é um estado relativamente periférico no Brasil, então, muitas vezes precisa do apoio de recursos federais e os políticos, evidentemente, em busca disso, tendem a ter um pragmatismo maior na hora de decidir".

Veja quem são os pré-candidatos em Manaus:

  • David Almeida (Avante), prefeito
  • Amom Mandel (Cidadania), deputado
  • Capitão Alberto Neto (PL), deputado federal
  • Carol Menezes (PP), coronel da reserva do Exército
  • Maria do Carmo Seffair, advogada e professora e reitora
  • Marcelo Ramos (PT), advogado e ex-deputado federal
  • Roberto Cidade (União Brasil), deputado estadual
  • Wilker Barreto (Mobiliza), deputado estadual
Estadão
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