Eleições 2018: por que debates de TV serão ainda mais importantes neste ano
Período de campanha mais curto e com menos tempo de televisão aumentará a importância dos debates na TV, dizem especialistas e marqueteiros ouvidos pela BBC Brasil.
No ano de 1960, a presidência dos EUA foi disputada por John F. Kennedy (Democrata) e Richard Nixon (Republicano). Em 26 de setembro daquele ano, os dois fizeram o primeiro debate presidencial televisionado dos EUA. Nixon estava pálido (ele se recuperava de uma temporada no hospital); e com o suor visível no rosto por não usar maquiagem. Já seu adversário democrata surgiu diante das câmeras bronzeado, confiante e relaxado. O debate na televisão, uma novidade naquela época, foi fundamental para dar a vitória - apertada - a Kennedy.
Mais de 50 anos depois, qual será a importância dos debates televisivos entre os candidatos à Presidência do Brasil na eleição deste ano, ainda mais levando em conta o papel das redes sociais na campanha? Para especialistas e marqueteiros ouvidos pela BBC Brasil, os confrontos entre candidatos diante das câmeras serão muito relevantes, principalmente porque a campanha nas ruas e na TV terá menos duração este ano.
O próximo debate entre os presidenciáveis é o desta sexta-feira, da RedeTV! - a transmissão começa às 22h. Os próximos confrontos são os da TV Gazeta (9 de setembro), TV Aparecida (20 de setembro), SBT (26) e Record (30). O último confronto de TV do primeiro turno será o da Rede Globo (em 4 de outubro). No dia 18 de setembro, o site especializado em política Poder360 e a revista Piauí realizam um debate que será transmitido pelo YouTube.
Os debates ainda terão importância este ano?
"O horário eleitoral foi encurtado pela minirreforma eleitoral (de 2017). O tempo caiu pela metade, e os debates terão uma importância nunca vista", diz à BBC News Brasil o marqueteiro Paulo de Tarso Santos. "No tempo de TV, os candidatos sequer terão condição de explicar suas propostas. O horário eleitoral terá importância menor, e parte dessa força vai ser transferida para os debates e entrevistas", afirma o profissional, que lançou a expressão "Lula Lá" nos anos 1980, que acabou dando origem ao jingle mais famoso do líder petista.
"As avaliações que nós temos mostram que a internet está sendo supervalorizada (pelos estrategistas das campanhas). A internet ainda é meio incipiente no Brasil. Na semana passada, recebi um número segundo o qual 71% dos eleitores vão aguardar a TV para formar sua opinião. Nós somos um país que tem um hábito muito antigo, arraigado, de formar a opinião após a TV", diz ele.
"Repare que, até agora, os candidatos estão todos parados (nas pesquisas de intenção de voto), mesmo com o WhatsApp e as outras redes sociais sendo usadas a todo vapor", acrescenta Paulo de Tarso, que coordenou a campanha de Marina Silva em 2010. "Além disso, o debate sempre agrega uma certa emoção à disputa. Tem um caráter de confrontação, que as pessoas adoram", diz ele, mencionando como exemplo a disputa televisiva entre a petista Dilma Rousseff e o tucano Aécio Neves, no segundo turno das eleições de 2014.
Debates de TV mudam votos dos eleitores?
Especialistas consultados pela BBC dizem que os debates podem sim influir nas decisões dos eleitores - embora não sejam o único fator.
"No Brasil, a influência dos debates ainda é muito grande", diz a jornalista e cientista política Deysi Cioccari, professora da faculdade Cásper Líbero, em São Paulo. "Basta observar o que aconteceu no dia seguinte, após o primeiro debate (da Band, no dia 9 de agosto). Os jornais, a mídia e as redes sociais amanheceram impregnadas pelo que foi dito durante o debate. Mesmo quem não acompanhou a transmissão ficou sabendo minimamente o que foi dito."
"O Brasil é um país que ainda não chegou ao fenômeno do 'yes, we can' (lema de campanha de Barack Obama em 2008, quando a internet e as redes sociais foram fundamentais para a disputa). Somos um país que assiste TV, que procura saber o que está sendo proposto pelos candidatos pela TV", diz Deysi. "Então, nesse sentido, o debate tem sim um grande poder de mudar votos", diz.
"Sou uma defensora dos debates, acho que é a forma mais honesta dos candidatos exporem suas opiniões. Sempre vai ter uma pergunta para o qual ele ou ela não estão ensaiados", diz Cioccari, cuja pesquisa é voltada para a relação entre a mídia e a política.
O cientista político e consultor Rui Tavares Maluf lembra que, no primeiro turno, a dinâmica dos debates é afetada pela obrigação legal de chamar os principais candidatos para o debate presidencial - todos aqueles que integram partidos com mais de cinco deputados federais precisam ser convidados, segundo a regra em vigor neste ano.
"O (debate do) primeiro turno sempre teve este problema de conviver com um número grande de candidatos. Vamos concordar que fica maçante. É difícil produzir uma boa discussão com tanta gente, sem falar que vários dos que estão ali não têm realmente uma carreira política relevante e nem qualquer chance de chegar ao segundo turno", diz Maluf.
'Quem ganhou o debate?'
Geralmente, os debates presidenciais no Brasil não incluem uma avaliação formal de quem 'venceu' a discussão: ninguém é formalmente declarado vencedor de um debate - embora avaliações deste tipo possam ser feitas.
Mesmo assim, os candidatos podem usar a participação nos debates a favor de suas campanhas - recortando trechos de suas atuações para serem distribuídos nas redes sociais, diz Rui Tavares Maluf.
"Às vezes, é mais importante transmitir convicção do que ter conteúdo, realmente. É muito mais a forma como o candidato transmite aquilo - se exaltado ou com serenidade - do que o que ele está falando propriamente. O importante é mostrar firmeza nas respostas, mesmo que uma checagem posterior mostre que aquilo que você disse tem pouca conexão com a realidade", diz o cientista político.
"Às vezes, o candidato até tem algo relevante a dizer, mas se sai mal - se gaguejar, se transparecer pouca firmeza, se cometer uma gafe. E isso pode acabar sendo usado contra ele", diz Maluf.