Eleições de 1982 foram primeiro passo para redemocratização do País
Há 30 anos, os primeiros governadores eleitos por voto direto durante a ditadura militar tomavam posse
No dia 15 de março de 1983, tomavam posse os primeiros governadores eleitos pelo voto direto desde o golpe militar de 1964. As eleições, ocorridas em 1982, abriram o caminho para o movimento das Diretas Já. Trinta anos depois, o Terra resgata curiosidades do episódio e personagens que ajudaram a concretizar a redemocratização do País. Deste período, (res)surgiram lideranças que influenciaram o Brasil durante as últimas três décadas, como Tancredo Neves, Leonel Brizola e Lula, que disputava então a sua primeira eleição.
Em 1982, o Brasil completava 18 anos sob o comando dos militares, período no qual a população só votou em cargos legislativos. Desde 1979, o País caminhava para o fim do regime ditatorial com a Lei de Anistia e o fim do bipartidarismo, medidas que fortaleceram a oposição.
Na eleição de 82, o Partido Democrático Social (PDS), partido de apoio dos militares, conquistou 12 dos 22 Estados, mas diferente do que se pensava, os governantes se esforçavam para passar imagem de independência, rejeitavam a ideia de que seguiriam a cartilha imposta pelos generais. Já os oposicionistas de Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) e Partido Democrático Trabalhista (PDT), que conquistaram 10 governos (nove e um, respectivamente) se mostravam moderados na postura e cautelosos no relacionamento com o governo nacional, que ainda liderado pelos militares.
De acordo com as projeções da época, o PDS conseguiria um bom resultado no interior, enquanto que o PMDB era favorecido nos grandes centros pelos temas nacionais, em um período no qual o Brasil começava dar mostras de colapso econômico.
O voto era vinculado, ou seja: o eleitor tinha que votar em governador, deputado federal, estadual e vereador do mesmo partido, o que fez com que o avanço da oposição se refletisse na composição da casa legislativa federal. O PDS conquistou 235 vagas; PTB, PDT, PMDB e PT, juntos, 244, acabando com a maioria governista. No entanto o governo conseguiu rachar o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) fazendo com que boa parte migrasse para o grupo de apoio dos militares.
A campanha naquela época era feita na base do discurso. Na TV só era autorizada a exibição de uma foto e currículo, e participação nos debates realizados nas principais praças.
Ainda durante a campanha, candidatos do PDS reclamavam do governo, que por meio do Serviço Nacional da Informações (SNI), e de medidas econômicas estaria prejudicando o andamento da campanha, enquanto que a oposição temia fraudes. PT e PMDB se uniram para fiscalizar o pleito. Na apuração, havia dificuldade para elaborar projeções, em um período no qual os votos eram vinculados e contados manualmente. Leonel Brizola, candidato do PDT no Rio de Janeiro, chegou a acusar a TV Globo de uma tentativa de golpe após a divulgação de uma projeção que dava vitória a seu adversário Moreira Franco (PDS), no episódio que ficou conhecido como Proconsult.
No Rio Grande do Sul, Pedro Simon (PMDB), acusava um derramamento de cédulas de votação para favorecer Jair Soares (PDS), quando que o adversário se dizia traído pelo SNI, que às vésperas da eleição divulgou pesquisa que apontava sua derrota para o peemedebista.
Já empossados, os governadores foram cautelosos no trato como governo militar, uma vez que o País ainda era uma ditadura, e muitas indicações para secretarias ainda eram feitas pelos militares. Além disso, em São Paulo, havia o temor de que as invasões de supermercados e do Palácio Bandeirantes pudessem servir de desculpa para o governo de João Figueiredo retroceder no processo de redemocratização.
A campanha pelo voto direto nasceu em 1983, em Pernambuco, se espalhou pelo País com a emenda Dante de Oliveira, que pregava a volta do voto direto para presidente. A proposta foi derrotada no Congresso, mas já estava iniciado o movimento que ficou conhecido como Diretas Já, encabeçado pelos governadores eleitos em 82, entre eles: Franco Montoro (São Paulo), Leonel Brizola (Rio de Janeiro) e Tancredo Neves (Minas Gerais), além de outras personalidades políticas da época, incluindo o então sindicalista Luis Inácio Lula da Silva.
A emenda Dante Oliveira não foi aprovada no Congresso, mas a pressão popular com a manifestações, que chagaram a mobilizar mais de 1 milhão de pessoas em 16 de abril de 1984, só em São Paulo, fez com que a sucessão de Figueiredo marcasse o fim do período militar no poder, com a eleição de Tancredo Neves como presidente do País.