Elmar admite desistir da presidência da Câmara e diz que perdeu 'melhor amigo' ao citar Lira
Líder do União Brasil afirmou não poderia colocar a vontade pessoal dele acima da dos partidos; Hugo Motta é apoiado por legendas como PT e PL para troca de comando na Casa em 2025
BRASÍLIA - O deputado Elmar Nascimento (BA) admitiu desistir de concorrer à presidência da Câmara nesta quinta-feira, 31. Ele disse que não colocaria sua vontade pessoal acima do que desejam os partidos que o apoiaram. A retirada da candidatura, contudo, ainda não foi anunciada oficialmente porque o União Brasil negociará cargos.
"Eu já cheguei muito longe do que eu achava que poderia chegar. Esse processo eu já comecei perdendo. Perdi um amigo que eu considerava que era o meu melhor amigo, o presidente Arthur Lira", disse Elmar.
O líder do União estava sendo pressionado desde quarta-feira, 30, pela cúpula de seu partido a abandonar a candidatura. A sigla deve aderir a Hugo Motta (Republicanos-PB) para não perder espaços de poder na Casa, após o deputado paraibano formar uma ampla aliança, que vai do PT ao PL. Na próxima terça-feira, 5, Elmar deverá reunir a bancada para tratar dos termos da negociação com Motta.
"Recebi, hoje pela manhã, uma ligação do candidato Hugo Motta pedindo um diálogo e nossa bancada deliberou, por bem, que a conversa e o diálogo é sempre salutar. Vamos ouvi-los", afirmou Elmar.
As articulações com o deputado do Republicanos serão lideradas por Elmar, pelo presidente do União, Antonio de Rueda, e pelo secretário-geral da sigla, ACM Neto. "Essas negociações estão colocadas e eles conduzirão essas negociações e, portanto, por consequência, a retirada da candidatura do deputado Elmar", disse o deputado Pauderney Avelino (União-AM), após reunião na sede do partido.
"Fruto dessas conversas poderá ter algum tipo de avanço, não acredito que nesta semana tenha qualquer tipo de conclusão. No momento oportuno, a gente faz algum anúncio", disse Elmar, após uma reunião na sede do partido, em Brasília.
"Não posso desistir do que não é meu. A candidatura é do meu partido e dos outros que estavam me acompanhando", emendou o deputado. "Se todos decidirem (pela desistência), eu tenho que refletir sobre isso. Não posso colocar a minha vontade pessoal acima da vontade dos companheiros. Além disso, é uma questão de que eu sou o líder do partido", disse Elmar, antes da reunião.
Elmar chegou a ser considerado o favorito de Lira para sua sucessão, mas acabou preterido pelo alagoano, que lançou Motta para a eleição que ocorrerá em fevereiro. O líder do União tem dito a aliados que houve quebra de confiança por parte de Lira e que está decepcionado o deputado alagoano.
Após ser preterido por Lira em setembro, Elmar rompeu relações com o presidente da Câmara, de quem era amigo pessoal. Os dois só voltaram a conversar neste mês, de forma protocolar, quando Lira fez uma ligação ao deputado do União para falar sobre votações no plenário da Casa.
Para tentar se contrapor a Motta e Lira, Elmar fez uma aliança com o deputado Antonio Brito (PSD-BA), que agora também é pressionado a abandonar a candidatura à presidência da Câmara.
Motta já conseguiu o apoio de PT, PL, MDB, Podemos, PP e PCdoB, além de seu próprio partido, o Republicanos.
Nas últimas semanas, Elmar fez também uma imersão no petismo para tentar conquistar o partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele procurou os ministros Fernando Haddad, da Fazenda, Paulo Teixeira, do Desenvolvimento Agrário, e Alexandre Padilha, das Relações Institucionais.
O líder do União se encontrou ainda com integrantes do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo (SP), berço político de Lula, e com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
Até setembro, quando ainda era considerado o favorito de Lira na disputa, Elmar tinha a simpatia de parte da bancada do PT, embora acumule um histórico de atritos com o partido na Bahia. No entanto, após Motta tornar-se o candidato de Lira, a liderança da bancada petista passou a negociar com o líder do Republicanos.
A resistência a Elmar no PT vem não só do histórico de disputas na Bahia com o ministro da Casa Civil, Rui Costa, mas também do fato de ele já ter chamado Lula de "ladrão" e ter atuado a favor do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff desde o início do processo.
Motta diz não ter dificuldade em construir 'convergência' com adversários
Hugo Motta afirmou não ter dificuldades em construir uma "convergência" com os seus adversários na disputa pela sucessão no comando da Casa, os líderes Elmar Nascimento e Antonio Brito (PSD-BA). As declarações ocorreram nesta quinta-feira, ao receber o apoio do PCdoB para a eleição da Câmara, prevista para fevereiro.
"Vamos buscar, à exaustão do diálogo, o entendimento para que possamos construir a candidatura mais ampla possível", afirmou. "Tanto o deputado Elmar Nascimento como o deputado Antonio Brito são amigos. Nós temos uma relação no colégio de líderes, sempre nos respeitamos, nos entendemos nas matérias que são apreciadas. Não tenho dificuldade nenhuma em construir com eles essa convergência."
Motta disse que vai "respeitar os anseios e as pretensões de cada um", mas disse que o diálogo está aberto para "buscar entendimento". Além disso, o deputado disse que manterá o "contato pessoal" com o eleitorado da Câmara para buscar votos.
"Nada substituirá o nosso contato pessoal com os deputados. Eleição só se ganha depois que se contam os votos", afirmou. "Por mais consolidada que transpareça estar a eleição, nós não vamos relaxar, nem vamos ter salto alto nessa condução."