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Política

Em grampo, Ribeiro confirma conversa com Bolsonaro: "Acha que vão fazer busca"

Ex-ministro é alvo de operação da Polícia Federal; MPF pede investigação ao STF sobre suposta interferência do presidente

24 jun 2022 - 15h32
(atualizado às 15h39)
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Jair Bolsonaro e Milton Ribeiro
Jair Bolsonaro e Milton Ribeiro
Foto: Adriano Machado / Reuters

O ex-ministro da Educação Milton Ribeiro foi gravado em um grampo, autorizado pela Justiça, confirmando que conversou com o presidente Jair Bolsonaro (PL) antes de ser preso, e depois liberado, na operação Acesso Pago da Polícia Federal.

A TV Globo conseguiu a transcrição da conversa telefônica de Ribeiro com uma de suas filhas no dia 9 de junho. Na ligação, ele cita o termo "busca e apreensão" semanas antes da operação, realizada na quarta-feira, 22. 

"Hoje o presidente me ligou; ele está com um pressentimento, novamente, que eles podem querer atingi-lo através de mim, sabe? É que eu tenho mandado versículos pra ele, né?", afirmou Ribeiro em ligação com a filha. 

"Ele quer que você pare de mandar mensagens?", pergunta a filha. "Não! Não é isso. Ele acha que vão fazer uma busca e apreensão... em casa... sabe... é... é muito triste. Bom! Isso pode acontecer, né? Se houver indícios, né?", acrescenta o ex-ministro.

Ao ouvir isso, a filha de Milton Ribeiro avisa que está ligando do "celular normal" e Milton desconversa: "Ah, então depois a gente se fala então". 

Foto: TV Globo

A transcrição está em uma investigação do Ministério Público Federal (MPF), que encaminhou o material e pediu apuração por parte do Supremo Tribunal Federal (STF) já que o presidente Bolsonaro possui foro privilegiado.

O caso 

O ex-ministro da Educação Milton Ribeiro foi preso em operação da Polícia Federal batizada Acesso Pago. Os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura - ligados ao presidente Jair Bolsonaro - também foram presos, além de Helder Diego da Silva Bartolomeu e Luciano de Freitas Musse.

Na quinta-feira, 23, o desembargador federal Ney Bello, do Tribunal Regional Federal (TRF-1), concedeu liberdade aos presos pela operação. 

Segundo reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, Arilton Moura e Gilmar Santos compunham um "gabinete paralelo" suspeito de agilizar liberação de verbas para prefeituras em troca de propina.

A operação mira supostos crimes de tráfico de influência, corrupção passiva, prevaricação e advocacia administrativa.

Em conversas gravadas que vieram à público em março deste ano, o ex-ministro Milton Ribeiro admitiu que priorizava o atendimento a prefeitos que chegam ao ministério por meio dos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura. Falando a dirigentes municipais dentro do ministério, Ribeiro afirmou, na ocasião, que seguia ordem do presidente Jair Bolsonaro.

Na gravação, Milton Ribeiro diz que a liberação de recursos foi um "pedido especial" de Bolsonaro. "Foi um pedido especial que o presidente da República fez para mim sobre a questão do (pastor) Gilmar (Santos)" - Arilton Moura e Gilmar Santos estavam presentes na reunião. "A minha prioridade é atender primeiro os municípios que mais precisam e, em segundo, atender a todos os que são amigos do pastor Gilmar".

Os recursos obtidos pelos prefeitos são do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), destinados à reforma e construção de escolas e creches. Também podem ser usados para adquirir ônibus escolares e materiais didáticos, entre outros itens.

O prefeito Gilberto Braga (PSDB), de Luís Domingues (MA), revelou que o pastor Arilton Moura chegou a pedir pagamento em ouro para liberar recursos da pasta destinados à construção de escolas e creches em municípios. Segundo Braga, o pastor cobrava outros R$ 15 mil apenas para abrir protocolos de demanda no ministério. Depois que a demanda fosse atendida, outro valor era solicitado, o que poderia variar de caso a caso. 

Gilmar e Arilton estiveram em pelo menos 22 agendas oficiais do Ministério da Educação desde o começo de 2021, sendo 19 delas com a presença do então ministro Milton Ribeiro.

Fonte: Redação Terra
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