Em live, Bolsonaro ataca Globo e revela encontro com Bonner
Presidente afirma sentir “vergonha” do jornalismo do canal e diz qual programa acompanha todos os dias para se informar
Na live de quinta-feira (9) Jair Bolsonaro voltou a criticar a Globo. Mas, surpreendentemente, falou de maneira calma desta vez. “Foi uma manifestação pacífica (a de 7 de setembro), como todas as anteriores, feitas pelos mesmos grupos de pessoas. Agora, grande parte da imprensa bateu na tecla ‘atos antidemocráticos’. E teve uma grande rede de televisão que mostrou uma minoria perdida pelo Brasil com camisa vermelha.”
O presidente referiu-se aos protestos contra o governo. Um deles, no Vale do Anhangabaú, em São Paulo, teve a participação de militantes de esquerda e de movimentos sociais aos gritos de “Fora Bolsonaro” e “Impeachment já”. “Globo mostrou como atos democráticos. E mais ainda, a Globo diz... Dá até vergonha. Uma vez encontrei com o Bonner numa escola, no Rio de Janeiro, conversei rapidamente com ele. Deve ter uns 10 anos isso aí. E agora a gente vê o Bonner falando ‘Bolsonaro liderando os atos antidemocráticos’.” O encontro seguinte entre o jornalista e o político aconteceu em 28 de agosto de 2018, na semana de sabatina com presidenciáveis realizada ao vivo no estúdio do ‘JN’, no Rio.
No mesmo trecho da live, Bolsonaro minimizou os pedidos de seus opositores por mais vacina. “Vacina? Ô Bonner, o País tá vacinado. Nós somos agora, proporcionalmente, o terceiro País que mais vacinou no mundo. Se a questão da covid for resolvida com vacina, estamos no caminho certo.”
Na sequência, Bolsonaro fez uma espécie de desabafo. “Eu queria que fosse diferente. Eu queria que a Globo fosse realmente uma imprensa que cada vez mais tivesse gente assistindo por acreditar nela, por ver que ela fala a verdade, mas infelizmente não é assim”, afirmou. Nesse momento, o presidente elogiou o jornalismo da rádio Jovem Pan. Revelou se informar diariamente pelo programa ‘Os Pingos nos Is’, no ar às 18h. A atração transmitida no rádio e na internet conta com comentaristas simpáticos ao bolsonarismo.
“Que prazer! Diferentemente da Globo, que eu queria que fosse diferente. Falam tanto em liberdade de imprensa... No que depender de mim, não vai ter controle social nenhum da mídia, como o Lula acabou de dizer. Ele disse que vai controlar a mídia caso volte à Presidência”, afirmou. O líder petista e virtual candidato em 2022 defende a regulação econômica da mídia para impedir que uma mesma empresa (a exemplo do Grupo Globo) seja dona de vários veículos na TV, rádio e internet. O projeto prevê o direito de o Estado monitorar e eventualmente interferir no conteúdo produzido.
“A imprensa é extremamente importante para todos nós. O que a imprensa tem que vender, não sou jornalista, a minha faculdade foi outra (ele fez o curso de Educação Física no Exército), mas é que não se deve brigar com os fatos, com imagens. A Globo se esquece que nessas manifestações não tem uma pessoa que não tenha um telefone (celular)”, comentou.
“Eu tenho vergonha do jornalismo da Globo. Do jornalismo e de outros programas também. Quem sabe um dia a Globo caia na real e se curve à realidade? Não gostar de mim, não tem problema nenhum. Agora, deturpar, mentir, fake news o tempo todo, mentira em cima de mentira”, reclamou. “A imprensa nossa, lamentavelmente, é uma fábrica de fake news, em especial a Globo.”
A nova artilharia de Jair Bolsonaro contra a emissora da família Marinho acontece dois dias após o ‘Jornal Nacional’ criticá-lo abertamente na cobertura das manifestações no Dia da Independência. “O desrespeito à democracia com as cores da nossa bandeira”, afirmou William Bonner logo na abertura da edição de terça-feira (7). Pouco depois, ele afirmou que Bolsonaro fez discursos “em tom golpista”. “O Brasil assistiu hoje a uma demonstração de desprezo pela Constituição promovida e insuflada pelo presidente da República.”
O ‘Jornal Nacional’ de 7 de setembro teve média de audiência de 22.9 pontos. Esse índice representa 4,7 milhões de telespectadores somente na Grande São Paulo, principal área de aferição da empresa Kantar Ibope. O governo de São Paulo estimou 125 mil pessoas na Avenida Paulista no ato pró-Bolsonaro.