Em Madri, seção eleitoral tem combo de pão de queijo, coxinha e guaraná a R$ 37
Quase 20 mil brasileiros estão aptos a votar na capital da Espanha. No total, 697 mil brasileiros estão registrados para comparecer às urnas no exterior neste domingo, segundo o TSE
MADRI - Na seção eleitoral brasileira em Madri, capital da Espanha, não falta nada para a festa da democracia: há bandeiras do Brasil, urnas eletrônicas em quantidade suficiente e até mesmo guaraná, pão de queijo e coxinhas de frango para acompanhar, com o menu completo disponível por 7 euros (R$ 37). São 19.866 brasileiros aptos a votar em Madri nestas eleições, e pouco mais de 30 mil em toda a Espanha. O contingente representa uma fração (3%) dos 697 mil brasileiros registrados para comparecer às urnas no exterior neste domingo, segundo dados do TSE.
Em Madri a votação teve até discussões acaloradas, mas nenhum incidente. A polarização ficou só nas camisetas
Também tinha guaraná, pão de queijo e coxinha a 7 Euros (R$ 37), pra quem quisesse matar a saudade
Fiz um vídeo mostrando como foi: pic.twitter.com/i9LSomBCzp
— andré shalders (@andreshalders) October 2, 2022
A polarização entre direita e esquerda também estava presente. Na manhã deste domingo, 02, muitos dos eleitores vestiam vermelho, em apoio ao ex-presidente Lula (PT). Outros tantos ostentavam verde e amarelo e camisetas da seleção brasileira, em apoio a Jair Bolsonaro (PL).
A reportagem do Estadão presenciou uma discussão acalorada entre eleitores dos dois lados, mas que logo se encerrou. Não houve, até agora, nenhum conflito mais sério. Na capital espanhola, a votação acontece na Casa do Brasil, na cidade universitária - o local é mantido pelo Ministério das Relações Exteriores e funciona como moradia estudantil para pesquisadores e estudantes brasileiros, além de ser um centro cultural.
"A animosidade não chega no nível que tem no Brasil. Eu suspeito que Lisboa ou outros lugares sejam mais tensos, mas aqui está muito tranquilo. Poderia ficar mais acirrado porque tem muita gente com as camisas dos dois lados, então visualmente você identifica quem é quem. Mas, mesmo assim, aqui está muito tranquilo. Aqui é uma exceção em relação ao Brasil e ao restante dos lugares de votação", diz o advogado Rafael Gonçalves de Almeida, de 41 anos. Natural de Recife (PE), ele vive em Salamanca há três anos, onde cursa o doutorado. Na camiseta, Rafael traz os dizeres "Ele não" - um movimento de rechaço a Bolsonaro iniciado em 2018.
"Está claro que é uma situação bastante polarizada. Mas eu espero que todo mundo possa votar consciente e escolher o que é melhor para o Brasil", diz o engenheiro paulistano Fabiano Pimenta, de 46 anos. Vivendo há três em Madri, Pimenta foi votar vestindo uma camiseta da Seleção Brasileira. "Só enfrentei um pouco de trânsito para chegar, mas tudo tranquilo em termos de organização. Não é muito diferente do que a gente teria no Brasil", diz ele.
Um fator que contribui para a tranquilidade é o baixo comparecimento: a comunidade brasileira na Espanha é estimada em 200 mil pessoas, mas só cerca de 30 mil estão aptas a votar. Além dos 20 mil em Madri, há outros cerca de 10 mil registrados para votar em Barcelona, na região da Catalunha, próximo da fronteira com a França. "É que as pessoas tem que transferir o título (para votar). O que teve de gente perguntando 'como eu faço para votar amanhã?'... E olha que eu fiz umas oito ou dez 'lives' para explicar como fazer (a transferência do Título de Eleitor)", explica a Cônsul-geral do Brasil em Madri, a diplomata Gisela Padovan.
Para viabilizar a votação em Madri, o TSE enviou doze urnas eletrônicas à seção eleitoral montada na Casa do Brasil. Destas, duas apresentaram problemas e tiveram que ser substituídas por urnas de lona.
Perfil
Assim como no conjunto das cidades no exterior, a maioria dos brasileiros aptos a votar em Madri é de mulheres - no caso da capital espanhola, elas são dois terços, ou 66%. A porcentagem é um pouco maior que a média mundial: as mulheres são 58% no conjunto dos eleitores brasileiros no exterior.
Ao todo, são 697.078 brasileiros alistados para votar no exterior nestas eleições. O número representa um incremento de 40% em relação a 2018, e quase o dobro de 2014, oito anos atrás. Mesmo assim, este ano o governo brasileiro reduziu o número de locais de votação no exterior, além de adotar medidas extras de segurança em algumas seções eleitorais, principalmente em capitais europeias.
Ao contrário do que acontece em Madri, em Lisboa há registro de tumulto entre eleitores de Lula e de Bolsonaro, com grupos de eleitores do PT e de Bolsonaro concentrados em frente à seção eleitoral trocando provocações entre si.
A faixa etária predominante dentre os brasileiros que votam em Madri neste domingo é a de 40 a 44 anos, com 3,4 mil eleitores. Mas, ao contrário do que acontece no conjunto do eleitorado no exterior, os brasileiros registrados para votar na capital espanhola são menos educados: o perfil mais comum (32%) é o de pessoas com ensino médio completo (6,3 mil). No conjunto dos brasileiros votantes no exterior, o mais comum é o ensino superior completo (42%).
Nestas eleições, Madri é apenas a 11ª jurisdição com mais brasileiros aptos a votar. Além da capital, também há brasileiros registrados em Barcelona (10.914) e em Córdoba (888), no sul do país. Fora da Espanha, as cidades com mais brasileiros registrados para votar são Lisboa (45.273), Miami (40.189) e Boston (37.159). Em seguida aparecem Nagóia, no Japão, com 35.651, e Londres, no Reino Unido, com 34.498. Porto, no noroeste de Portugal, é a sexta cidade com mais brasileiros registrados (30.098).