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Política

Emocionada, Dilma diz que relatório da Comissão da Verdade não é "acerto de contas"

10 dez 2014 - 10h36
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Visivelmente emocionada, a presidente Dilma Rousseff disse nesta quarta-feira, durante a divulgação do relatório final da Comissão Nacional da Verdade (CNV), que o país devia isso à gerações que sofreram as terríveis consequências da ditadura militar, mas alertou que o texto não pode servir para revanchismo.

Presidente Dilma Rousseff, que recebeu relatório da Comissão da Verdade, em Brasília. 10/12/2014
Presidente Dilma Rousseff, que recebeu relatório da Comissão da Verdade, em Brasília. 10/12/2014
Foto: Joedson Alves / Reuters

"As novas gerações mereciam a verdade", disse Dilma. "Sobretudo, mereciam a verdade aqueles que perderam familiares, parentes, amigos, companheiros e que continuam sofrendo", continuou a presidente pouco antes de começar a chorar e ser aplaudida pela plateia

"Continuam sofrendo como se eles morressem de novo e sempre", concluiu Dilma após o choro.

A comissão, que trabalhou 31 meses, analisou documentos, colheu depoimentos de familiares e pessoas que foram perseguidas durante o regime militar --que durou de 1964 a 1985-- e também ouviu militares e agentes de segurança daquela época para tentar reconstruir o período ditatorial e apontar responsabilidades.

"Nós devemos isso às gerações como a minha que sofreram suas terríveis consequências e, sobretudo, devemos isso à maioria da população brasileira que nascida após o último regime autoritário não teve acesso integral à verdade histórica", disse a presidente.

O relatório tem três volumes e será disponibilizado na íntegra na Internet (http://www.cnv.gov.br).

O relatório conclui que houve crime contra a humanidade na ação do regime militar.

"(O relatório) conclui que houve graves violações de direitos humanos, que elas se deram de maneira sistemática a partir de uma política de Estado, que o regime militar adotou, e que isso configura a partir dos critérios jurídicos do direito brasileiro e do direito internacional crime contra a humanidade", disse o coordenador da comissão, Dalmo Dallari, a jornalistas, depois da cerimônia.

A presidente deixou claro, porém, que o trabalho da comissão não deve ser usada para revanches históricas.

"A verdade não significa revanchismos, não deve ser motivo para ódio ou acerto de contas", ressaltou Dilma, que foi um ativa militante da resistência à ditadura, chegando a ser presa e torturada.

"Nós reconquistamos a democracia à nossa maneira, por meio de lutas duras, por meio de sacrifícios humanos irreparáveis, mas também por meio de pactos e acordos nacionais, que estão muitos deles traduzidos na Constituição Federal de 88", argumentou e petista.

"Assim como respeitamos e reverenciamos todos os que lutaram pela democracia, todos que travaram essa luta de resistência, enfrentando bravamente a truculência ilegal do Estado,... também reconhecemos e valorizamos os pactos políticos que nos levaram à redemocratização", discursou.

AVANÇO DOS MILITARES

Os trabalhos da comissão não sofreram resistência oficial das Forças Armadas, segundo o Ministério da Defesa, mas a falta de alguns documentos sobre a Guerrilha do Araguaia, por exemplo, e a decisão de alguns ex-comandantes em não prestar depoimento foram lamentadas pelo coordenador da Comissão.

Ele disse que essa era uma das "frustrações" dos membros da comissão.

"No caso da Guerrilha do Araguaia, em que há 70 desaparecidos, e desaparecidos que desapareceram no contexto de uma ação militar... quem tem essas informações são as Forças Armadas", disse Dallari.

Apesar disso, o ministério da Defesa viu um avanço na posição dos militares quando eles responderam em ofício à comissão que "não havia elementos para negar a violação de direitos humanos".

No final da cerimonia, um pequeno grupo de militantes do "Levante pela Verdade" estendeu faixas e fez um pequeno discurso, defendendo a revisão da Lei da Anistia, que impede a criminalização de atos da ditadura militar na Justiça.

(Reportagem de Jeferson Ribeiro)

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