Executivos esperam liberalismo econômico do novo governo
Empresários aguardam a formação da equipe de Bolsonaro para ter mais clareza das diretrizes
Empresários e executivos de grandes empresas aguardam a formação da equipe econômica do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) para ter maior clareza das políticas que serão adotadas a partir de 2019. A agenda liberal defendida pelo economista Paulo Guedes, alçado a superministro de Bolsonaro, é defendida para a retomada do crescimento do País.
"O Brasil tem um enorme potencial de crescimento, mas a equipe (econômica) tem de transmitir segurança. Tem muita coisa a se fazer no País. Podemos atrair investimento sim, mas é preciso fazer a lição de casa, com um marco regulatório adequado e um ambiente de negócios mais amigável", disse Pedro Passos, acionista da Natura.
A aprovação das reformas é vista como prioridade para colocar o País na rota do crescimento, embora haja o desafio do candidato eleito em convencer o Congresso a votar a favor de medidas impopulares. "O presidente recém-eleito e o novo Congresso não poderão se dar ao luxo de esperar", disse João Miranda, presidente do grupo Votorantim. A expectativa é de que a aprovação das reformas ganhe ritmo no início de 2019. Além de enfrentar a questão fiscal, que passa pela reforma da Previdência, a redução da dívida pública precisa ser prioridade para o novo presidente.
Para Walter Schalka, presidente da Suzano, o ideal seria se o novo governo adotasse parte da reforma previdenciária de Michel Temer. "A reforma de Temer não era a melhor do mundo, mas se nós conseguíssemos aprová-la até o fim do ano, o governo já entraria com um assunto tão sensível na economia endereçado. Tenho receio de que eles queiram fazer a reforma perfeita, mas tenham muita dificuldade de aprovação", disse.
Para Schalka, esse é o momento de uma união nacional em torno das reformas econômicas. "Acho que esse é o momento de passar o Brasil a limpo. É uma oportunidade única de se fazer isso. E tem de acabar com a questão política do nós contra eles. A eleição terminou e não vamos fazer o terceiro turno", disse o executivo.
O presidente da Lojas Renner, José Galló, lembrou que o discurso da vitória de Jair Bolsonaro abordou diretamente questões de política econômica que já vinham sendo discutidas durante a campanha, como o combate à ineficiência e a redução do tamanho da máquina pública. Para o executivo, o resultado das urnas é um sinal de que a população "comprou" o discurso de austeridade propagado pelo candidato. "A proposta vencedora é pró-mercado, mostra um desejo por racionalidade. A sociedade começa a se dar conta de que o Brasil não suporta um Estado do tamanho que está hoje. É uma onda de conscientização", disse Galló.
Todos, no entanto, apontam que o investimento no País só virá de forma significativa no País quando a fase do discurso for superada e as reformas finalmente forem concretizadas.
Pedro Passos, acionista da Natura
"A primeira coisa que Jair Bolsonaro tem de fazer é clarear seu plano de ação. Durante a campanha, pouca coisa ficou clara do ponto de vista de programa de governo. Ele vai ter de enfrentar uma contradição interna. Uma parte do apoio dele vem do lado da economia liberal de Paulo Guedes. Do outro, tem grupo de apoiadores de formação nacionalista, digamos assim, que representa o raciocínio das forças armadas que podem representar um obstáculo para (colocar em prática) o plano de ação. Se ele fizer as coisas certas, apesar de uma agenda difícil pela frente, aproveitará a retomada de crescimento e engatará uma fase melhor. Um dos primeiros desafios será definir a estratégia para enfrentar o problema fiscal, que passa pelo conjunto de reforma, sobretudo a da Previdência. A segunda é combater a enorme divida pública. As privatizações podem ajudar."
João Miranda, presidente do grupo Votorantim
"Temos um novo presidente, eleito pela maioria, que defende preceitos liberais para a economia e conservadorismo nos costumes. O resultado das urnas para o Congresso também foi revelador, com índice alto de renovação. Esta eleição mostra uma preocupação clara com a segurança pública, assim como o combate à corrupção. O presidente e o novo Congresso não poderão se dar ao luxo de esperar. Além da busca do equilíbrio fiscal, espero encontrar respaldo em propostas que permitam que o País e seus segmentos econômicos se tornem mais competitivos. Estamos aguardando a formação da equipe econômica. Espero que não haja por parte dos apoiadores e mesmo dos líderes que já estão próximos a ele pruridos de autor e que o governo aceite contribuições das mais variadas pessoas que já tenham sucesso na administração pública."
Walter Schalka, presidente da Suzano
"Ainda não sabemos se as reformas necessárias virão. Está cedo para cobrar, mas é bom lembrar que discurso não faz reforma. As primeiras declarações foram positivas, mas superficiais. Precisamos ver se, na hora da onça beber água, de tirar supostos direitos de muita gente, o governo terá a força necessária no Congresso e o apoio da população. No que se refere à Previdência, acharia importante usar a reforma previdenciária do governo Michel Temer. Ela não é perfeita, mas prefiro uma reforma que resolva 90% dos problemas e que tenha boas chances de ser aprovada do que uma mais abrangente de difícil implementação política. E, por fim, precisamos evitar que parte do empresariado ou as pessoas mais próximas ao novo governo tentem obter vantagens para si. Sou contra qualquer tipo de subsídio (para setores específicos da economia)."
José Galló, presidente da Renner
"Os planos apresentados nos levam na direção certa. Isso dá um alento de curto prazo. Acho que precisamos acompanhar a equipe que vai ser formada para a materialização dessas propostas. Por fim, precisamos ver as reformas acontecerem. É a partir dessa terceira fase que vai haver um estímulo para investimentos. Nos últimos meses, o que a gente mais escutou foram as empresas falando que iam 'esperar para ver' antes de investir. De qualquer forma, a proposta do vencedor é pró-mercado, mostra um desejo por racionalidade e redução do tamanho do Estado. Tenho certeza de que, com uma administração mais racional, haveria um aproveitamento de recursos de 15% a 20% superior no setor público. Há cargos desnecessários, desperdício. A sociedade começa a se dar conta de que o Brasil não suporta um Estado do tamanho atual. É uma onda de conscientização."