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Política

Haddad: esquerda terá que se reinventar para ocupar espaços

20 abr 2016 - 18h17
(atualizado às 19h18)
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Foto: Divulgação/Instituto Lula

Uma das lideranças do PT que se mantiveram fora dos escândalos que arrastaram o partido para a atual crise política, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, afirma que a esquerda brasileira terá que se reinventar para voltar a ocupar um espaço na política que garanta a manutenção de direitos conquistados nos últimos anos, seja qual for o resultado do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff.

“Acredito que a saída da política hoje vai passar muito mais pelas pessoas. E quem fala isso é quem sempre acreditou no fortalecimento dos partidos. Mas te digo, com o enfraquecimento geral dos partidos, os indivíduos vão assumir protagonismo muito mais importante até do que deveriam”, afirmou o prefeito em uma entrevista de quase uma hora na tarde de terça-feira.

Haddad vê a crise política pela qual passa o Brasil como “sistêmica”, que afeta a política e os partidos como um todo, mas em particular o PT. Ao ser questionado como o seu partido, que no último ano tem sido vinculado diretamente à corrupção, conseguiria sair dessa crise, afirma que o caminho virá pelos exemplos individuais.

“No caso de crises sistêmicas, o exemplo individual faz muita diferença. O gesto, a maneira como conduz as suas ações faz muita diferença”, disse.

O caminho, diz, não é apenas para o PT, mas para todo o campo que chama de “progressista”.

“Personalidades vão surgir no país, que podem até estar em partidos diferentes, tentando recompor o tecido social em torno da política. Veja que da parte do campo progressista não são nem petistas que estão com maior exposição e protagonismo nas redes sociais”, disse o prefeito, citando como exemplos os deputados federais Jean Willys (PSOL-RJ) e Jandira Feghali (PCdoB-RJ).

“São pessoas em que todo campo progressista vê capacidade de regenerar a política pelo exemplo, pelo gesto, pela determinação, pela liderança.”

ANTIPETISMO DE ORIGEM

Haddad, que enfrenta este ano uma dura disputa para conseguir renovar seu mandato, reconhece que os erros do partido inflaram a má vontade nacional com o PT, mas acredita que todos os partidos estão em “situação difícil”.

“Não vejo nenhum partido fora do olho do furacão. Afeta principalmente o PT pelos erros, pelas denúncias, mas também por estar no governo há muito tempo”, disse.

Ao ser lembrado que poucas pessoas dizem nas ruas “eu odeio o PMDB”, ou qualquer outro partido, mas muitas dizem “eu odeio o PT”, Haddad afirma que o antipetismo nasceu junto com o partido.

“Desde que o partido existe pessoas odeiam o PT porque é um partido que pôs o dedo na ferida da desigualdade. E a desigualdade é estrutural no Brasil e é amada por uma parte da população. Tem pessoas que não toleram a igualdade de oportunidades."

"Então o antipetismo nasceu com PT. O que aconteceu é que ele cresceu muito em função do que está acontecendo”, afirmou.

DIFICULDADES PARA GOVERNAR

Haddad aponta erros na política econômica do governo Dilma e reconhece as dificuldades de condução política. Afirma, no entanto, que é quase impossível governar sem correr riscos no Brasil por causa da legislação política, que classifica de “equivocada”.

Cita, entre outros pontos, as coligações partidárias para eleições proporcionais e a questão do tempo de rádio e TV na propaganda eleitoral gratuita, baseado no tamanho das coalizões eleitorais. Sem uma correção dessas questões, diz, é impossível se montar uma maioria no país.

“Eu acredito que, em grande medida, para você governar, seja uma cidade, seja um país, tem que fazer um exercício muito grande de conviver com a diferença. Essa diferença, às vezes, não está nem no campo da política, está no campo de você tolerar pessoas com mandato que em outra circunstância não mereceria respeito de quem quer que seja", disse.

"A verdade é que o Congresso Nacional está recheado de pessoas que não merecem o menor respeito, mas que tem mandato e não há como contornar essa situação”, afirma, acrescentando que ainda está “muito longe de termos um Congresso com 513 deputados decentes”.

O prefeito de São Paulo defende o governo Dilma --foi até mesmo em um dos atos na capital paulista, com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva-- apesar de não ter um bom relacionamento com a presidente desde que saiu do Ministério da Educação, no final do primeiro ano de governo.

Desde setembro do ano passado não consegue falar diretamente com a presidente, mas diz ter um bom relacionamento institucional e acesso aos ministros.

“Não tenho uma proximidade pessoal, mas tenho uma relação institucional que se espera nesses casos", disse. "Cada pessoa tem uma maneira de se relacionar.”

2018

Haddad é citado como um possível candidato do PT à Presidência em 2018, especialmente se for reeleito e Lula não puder ou não quiser se candidatar.

Apesar de ser filiado ao PT desde 1983, o prefeito é visto como um estranho no ninho no partido. Nunca participou de uma eleição até ser guindado por Lula ao posto de candidato a prefeito, em 2012, e sofreu muita resistência de setores tradicionais do partido.

Haddad garante que nunca foi sondado para uma possível candidatura e não pensa nisso.

“Nesse momento não tenho essa perspectiva. Eu penso que um dos graves problemas das pessoas com quem eu convivo na política é que, assim que assumem uma tarefa, imediatamente começam a pensar em uma nova posição”, critica.

A última pesquisa de intenções de voto para a prefeitura é de novembro de 2015, e não foi boa para o prefeito. Haddad aparecia com 12 por cento das intenções de voto, em empate técnico com Marta Suplicy, que será a candidata pelo PMDB. Na frente, o deputado federal Celso Russomano (PRB), com 34 por cento, que foi derrotado pelo prefeito em 2012.

“É bom lembrar que nas duas vezes que governamos a cidade não fizemos o sucessor, então não será propriamente uma novidade. Mais importante que isso, é na campanha eleitoral demonstrar para o eleitorado que a cidade está bem gerida, que não teve falcatruas, zelou pelo dinheiro público”, disse.

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