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Política

Ernesto Araújo cede à pressão e pede demissão a Bolsonaro

Ministro passou pouco mais de 800 dias à frente do Itamaraty e vinha sendo contestado dentro e fora do governo

29 mar 2021 - 12h36
(atualizado às 16h20)
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O embaixador Ernesto Araújo se reuniu com o presidente Jair Bolsonaro nesta segunda-feira, 29, para entregar seu cargo. A informação foi repassada ao Estadão por pessoas que acompanham a discussão sobre a saída do chanceler. Ernesto passou pouco mais de 800 dias à frente do Itamaraty e vinha sendo contestado dentro e fora do governo.

Foto: Marcos Corrêa/PR

O chanceler cancelou compromissos nesta segunda-feira com autoridades estrangeiras para discutir seu futuro. E foi chamado de última hora por Bolsonaro no Palácio do Planalto.

Ernesto também convocou uma reunião ampla com secretários do Itamaraty, embaixadores que o assessoram em Brasília. O encontro estava previsto para ocorrer ao meio-dia, até que o ministro recebeu o chamado presidencial.

A saída do chanceler, um dos membros mais proeminentes da ala ideológica do governo do presidente Jair Bolsonaro, acontece em meio à pressão do Congresso, descontente com a condução da política externa do País.

O pedido de demissão também vem no dia seguinte a Araújo afirmar em um tuíte que a presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Kátia Abreu (PP-TO), disse a ele no início de março que ele se tornaria o "rei do Senado" se fizesse "um gesto em relação ao 5G", o que ele afirmou ter se recusado a fazer.

A fala do chanceler gerou forte reação de Kátia Abreu e de vários senadores, entre eles o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG).

Araújo coleciona uma série de polêmicas à frente do Itamaraty desde o início do governo Bolsonaro, em problemas que se agravaram durante a pandemia de covid-19.

Um dos expoentes mais 'ideológicos' do governo, que difunde diversas teorias da extrema-direita, o ministro chegou a publicar um texto em que classificava o coronavírus Sars-CoV-2 como "comunavírus" e atacou por diversas vezes o maior parceiro econômico do país.

Além disso, idolatrava o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump e chegou a fazer campanha para o republicano. Quando Joe Biden foi eleito, o Brasil foi um dos últimos países do mundo a parabenizar o democrata.

Nas últimas semanas, porém, a situação foi ficando cada vez mais grave por conta da demora do governo Bolsonaro em comprar vacinas anti-covid - além da lentidão em demonstrar interesse em receber as vacinas excedentes dos EUA.

Araújo foi duramente atacado pelos senadores na semana passada durante uma sessão para debater a compra das vacinas e todos os políticos - de qualquer vertente política - pediram publicamente que ele renunciasse ao cargo.

Neste domingo (28), o chanceler atacou a senadora Kátia Abreu (PP/TO), presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, por uma suposta conversa sobre o 5G chinês - que o governo ainda não autorizou ou vetou no leilão nacional.

"Em 4/3, recebi a senadora Kátia Abreu para almoçar no MRE. Conversa cortês. Pouco ou nada falou de vacinas. No final, à mesa, disse: 'Ministro, se o senhor fizer um gesto em relação ao 5G, será o rei do Senado'. Não fiz gesto algum", escreveu em sua conta no Twitter.

Em nota oficial, Abreu chamou o ministro de ser como "a face de um marginal" que colocou o País à margem dos assuntos mais importantes da chancelaria mundial. "Desviar o assunto pra tirar o foco do que é mais importante : Vacinas e vidas! Vamos voltar ao jogo rápido. Não farei o jogo deles", postou nas redes sociais a senadora.

Outro fator importante da gestão Araújo é ter alterado bastante a dinâmica das relações internacionais brasileiras. Por tradição, o Brasil sempre atuou como mediador em diversas questões importantes, com bastante pragmatismo, sem ter um alinhamento automático com nenhum país.

Durante o período em que o chanceler ficou à frente do Itamaraty, isso mudou bruscamente. O País passou a se alinhar com os Estados Unidos automaticamente e minou diversas posturas como no caso dos palestinos, do fim das patentes para as vacinas anti-covid com a Índia ou ainda de atacar os países vizinhos, como nos casos da Venezuela e Argentina, por visões ideológicas. 

Com informações da Reuters e da Ansa.

Estadão
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