Ex-diretor da Petrobras: corrupção "ocorre em todo o Brasil"
O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa disse nesta terça-feira, no Congresso, que esquemas de corrupção como o da estatal ocorrem no Brasil inteiro. Ao confirmar tudo o que falou no processo de delação premiada, o ex-diretor citou genericamente portos, aeroportos, rodovias, ferrovias e hidrelétricas.
“Para tornar minha alma um pouco mais pura, (foi o que) me levou a fazer a delação. Passei seis meses preso na carceragem de Curitiba e resolvi fazer a delação do que ocorria na Petrobras, e não só na Petrobras, isso acontece no Brasil inteiro”, disse o ex-diretor na CPI mista da Petrobras.
Paulo Roberto Costa foi à comissão para participar de uma acareação com o ex-diretor da área Internacional da Petrobras, Nestor Cerveró. O objetivo de senadores e deputados é achar pontos conflitantes na versão dos dois sobre problemas na estatal, colocando-os frente a frente.
Costa, no início da CPI, disse que não responderia a perguntas, mas fez uma fala inicial na qual se disse arrependido por ter aceitado apadrinhamentos políticos para chegar à diretoria da Petrobras.
“Era um sonho meu chegar à diretoria e, quem sabe, chegar à presidência (da Petrobras). E desde o (governo) Sarney, todos os diretores das empresas, se não tivessem apoio politico, não chegariam a diretor. Infelizmente, estou me arrependendo amargamente, infelizmente aceitei uma indicação política para assumir a diretoria de abastecimento. Aceitei esse cargo e esse cargo me deixou aqui onde estou hoje, mas infelizmente isso aconteceu, estou arrependido”, disse.
Paulo Roberto Costa foi preso pela Operação Lava Jato, da Polícia Federal, e cumpre prisão domiciliar desde que resolveu delatar um esquema de pagamento de propina dentro da estatal para beneficiar partidos políticos. Citado nos depoimentos, Cerveró negou ter conhecimento das denúncias.
Cerveró nega propina
Em frente a Paulo Roberto Costa, o ex-diretor Nestor Cerveró manteve sua versão de que desconhece um esquema de propina na Petrobras. Ele foi acusado pelo outro diretor, em um acordo de delação premiada, de ter se beneficiado pelos pagamentos.
Cerveró disse não ter conhecimento do teor do depoimento de Costa no acordo de delação premiada, que é sigiloso. “Eu falei que desconhecia de qualquer esquema de ilícito na diretoria da Petrobras”, disse. “Se o Paulo Roberto afirmou isso, ele mentiu. Eu não conheço (…) eu não conheço o depoimento do Paulo Roberto”, acrescentou. Nesse momento, Paulo Roberto Costa concordou com a afirmação com a cabeça.
Em outro momento, o deputado federal Onyx Lorenzoni (DEM-RS) reproduziu em seu celular uma gravação de Costa dizendo em depoimento à Justiça que Cerveró teria recebido propina. O ex-diretor negou a acusação. "Posso debitar isso na cota de uma ilação de Paulo Roberto Costa", disse.
Enojado
Paulo Roberto Costa disse ainda, à CPI mista, que estava “enojado” com o esquema de corrupção quando enviou, em 2009, um e-mail à Casa Civil da Presidência da República. Segundo ele, a mensagem foi encaminhada a pedido do ministério, que na época era chefiado pela atual presidente Dilma Rousseff.
Reportagem divulgada pela última edição da revista Veja revelou que Paulo Roberto Costa enviou um e-mail à então ministra relatando problemas encontrados pelo Tribunal de Contas da União (TCU) em refinarias da Petrobras. O órgão havia recomendado a paralisação imediata de três grandes obras da estatal: Abreu e Lima, em Pernambuco, Getúlio Vargas, no Paraná, e o terminal de Porto de Barra do Riacho, no Espírito Santo.
“Nessa época, eu já estava enojado desse processo todo. Então eu não mandei esse e-mail com objetivo de continuar com todo esse processo, foi para relatar que estava com problemas”, disse o ex-diretor.
Ele negou que o encaminhamento da mensagem tenha sido uma quebra de hierarquia. Segundo Costa, o pedido veio por parte de “uma pessoa da Casa Civil”, que solicitou uma lista de pontos com dificuldades no TCU. “Eu não ultrapassei nenhum patamar dentro da hierarquia”, disse.
Questionado sobre a expressão que utilizou para se referir ao esquema, Costa relatou um “processo muito complicado” dentro da Petrobras. “É um processo que você entra e não tem como sair. É um processo muito complicado. Em abril de 2012 eu entreguei minha carta de demissão”, disse. Segundo o ex-diretor, a saída se deu devido a grande pressão que sofria no cargo. “Não aguentava mais a pressão que eu tinha dentro de mim para resolver problemas que não eram da minha área”, afirmou.