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Política

Ex-ministros da Defesa veem intimidação e Bolsonaro acuado

Presidente marcou evento bélico no mesmo dia que a Câmara dos Deputados analisa a proposta do voto impresso, bandeira de seu governo

10 ago 2021 - 10h59
(atualizado às 11h20)
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Ex-chefes do Ministério da Defesa ouvidos pelo Estadão avaliaram o desfile de tanques que passou pela Esplanada dos Ministérios nesta terça-feira, 10, como uma tentativa do presidente Jair Bolsonaro de intimidar as instituições. O presidente da República sempre é convocado para o evento, mas nunca aconteceu de o chefe do Poder Executivo receber em mãos, das Forças Armadas, um convite em cerimônia realizada na Esplanada, com todo aparato militar.

Ex-ministro Celso Amorim
Ex-ministro Celso Amorim
Foto: Agência Brasil

Ex-ministro da Defesa de Michel Temer (MDB), Raul Jungmann destacou o ineditismo da situação. "Isso nunca aconteceu antes. Bolsonaro busca envolver as Forças Armadas na defesa de seu governo. É um despautério. O que importa é criar essa ilusão para ter o caos e o conflito. Mas ela se voltará contra ele e provocará sua derrota", disse.

Celso Amorim, ex-ministro da Defesa na gestão de Dilma Rousseff (PT), demonstrou espanto com a ação. "Vi algumas vezes tanque na rua e sempre com medo. Tanque na rua só no 7 de Setembro, mesmo assim com trajeto previamente delimitado".

O ex-ministro também comentou a coluna publicada nesta terça por Eliane Cantanhêde no Estadão. Nela, a colunista informa que o desfile bélico na Esplanada foi uma ação planejada por Bolsonaro. "É uma coisa que assusta, não tem cabimento, não há justificativa. Pelo que li na coluna da Eliane Cantanhêde hoje, a ordem teria vindo do próprio Planalto, isso torna isso ainda mais grave", declarou Amorim.

Ex-ministro da Defesa de Lula (PT), Aldo Rebelo minimizou o evento militar e declarou que não há ameaças às instituições. "É uma coincidência, que não é boa, é uma coincidência lamentável, mas é uma coincidência. O presidente da República tem feito uso de ameaças que ele não tem condições de cumprir", afirmou.

Rebelo vê Bolsonaro acuado e tentando lutar pela sobrevivência política. "Ele deve dar graças a Deus se tiver condições de cumprir o mandato dele. É um presidente que luta pela sobrevivência e olhe lá. Está entregando tudo para sobreviver."

Apesar de não ver gravidade no evento desta terça, o ex-ministro também avalia que há uma tentativa de intimidação por parte do presidente. "Bolsonaro tenta usar as Forças Armadas para intimidar os incautos, só os incautos. Ninguém vai deixar se intimidar porque sabe que as Forças Armadas não vão dar apoio a nenhuma aventura do senhor Jair Bolsonaro, todo mundo sabe disso", disse.

Voto impresso

O evento aconteceu no mesmo dia em que está marcada na Câmara a sessão que vai deliberar sobre a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do voto impresso. Bolsonaro tem usado o tema para criar atritos com as instituições e ameaçar a realização da eleição de 2022, caso o texto não seja aprovado.

O presidente convidou os presidentes da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL); do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG); do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux; do Tribunal Superior Eleitoral, Luís Roberto Barroso; e do Tribunal de Contas da União, Ana Arraes, mas nenhum deles acompanhou o desfile.

A Operação Formosa, uma demonstração de equipamentos militares que acontece todo ano e faz um deslocamento do Rio para Formosa (GO), é organizada pela Marinha e neste ano, pela primeira vez, contou com a participação do Exército e da Aeronáutica.

O ministro da Defesa, Walter Braga Netto, e os comandantes do Exército, Paulo Sérgio Oliveira; da Marinha, Almir Garnier Santos; e da Aeronáutica, Carlos de Almeida Baptista, estiveram ao lado de Bolsonaro durante o desfile.

Braga Netto já manifestou a ideia de que só haverá eleições em 2022 com voto impresso. Como revelou o Estadão, o presidente da Câmara, Arthur Lira, recebeu esse recado do ministro da Defesa, por meio de um interlocutor político, no dia 8 de julho. Naquele mesmo dia, Bolsonaro afirmou: "Ou fazemos eleições limpas no Brasil ou não temos eleições".

Estadão
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