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Política

Fábio Faria: "Empresários querem ambiente político calmo"

Ministro afirma que Bolsonaro fará encontros com representantes do PIB para buscar soluções contra crise

9 abr 2021 - 13h06
(atualizado às 13h25)
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O ministro das Comunicações, Fábio Faria, disse ao Estadão que o governo fará encontros periódicos com representantes do PIB para medir a temperatura da crise e encontrar soluções conjuntas. Dono de um estilo afeito ao confronto, o presidente Jair Bolsonaro saiu do jantar de quarta-feira, 7, com empresários, em São Paulo, levando na bagagem de volta o alerta de que precisa mudar. "Tudo o que os empresários querem é um ambiente político calmo", afirmou Faria.

Ministro das Comunicações, Fábio Faria, durante cerimônia no Palácio do Planalto 
17/06/2020
REUTERS/Adriano Machado
Ministro das Comunicações, Fábio Faria, durante cerimônia no Palácio do Planalto 17/06/2020 REUTERS/Adriano Machado
Foto: Reuters

Integrante da comitiva que participou daquele encontro, Faria argumentou, porém, que o governo já está mudando, tanto que fez seis trocas na equipe e alianças para evitar mais atritos com o Congresso. Os empresários também cobraram de Bolsonaro a aplicação de dois milhões de doses de vacina por dia - o dobro do que existe hoje.

A conversa na casa de Washington Cinel, dono da empresa de segurança Gocil, não girou, no entanto, apenas sobre apelos para que o governo acelere a vacinação. A política também estava à mesa. Faria disse que muitos ali manifestaram receio com o retorno do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à cena política. "Eu não tenho medo", disse o ministro. Deputado eleito pelo PSD, Faria não vê chances para o espectro político de centro na próxima eleição. "Nesse cenário de hoje entre Lula e Bolsonaro, o centro não tem tempero para entrar na disputa. Não tem players competitivos para 2022."

A seguir, os principais trechos da entrevista, que foi concedida nesta quinta-feira, 8, no gabinete do ministro, antes de o ministro do Supremo Tribunal Federal Luís Roberto Barroso determinar a instalação da CPI da Covid.

O presidente jantou com empresários em um momento de críticas do setor à condução da pandemia, à política externa e à política ambiental. Partiu do governo a iniciativa de procurá-los?

Com a pandemia, Pacheco (Rodrigo Pacheco, presidente do Senado) e Arthur (Lira, presidente da Câmara) se reuniram com alguns empresários, que tinham preocupações. A maior delas era a vacinação em massa. Eles tinham também ponderações em relação à política externa, que poderia atrapalhar a aquisição de IFAs e vacinas. Se você fizer um breve histórico, vai ver que houve seis mudanças ministeriais após essas reuniões dos empresários.

Os relatos de Lira e Pacheco levaram ao Palácio do Planalto um sinal amarelo?

Eu não falei que as trocas vieram por causa dos encontros. Alguns assuntos que eles trataram já estavam vencidos. A gente achou prudente que o próprio Executivo pudesse se reunir com os mesmos empresários. A gente foi para ouvir o sentimento deles. O presidente não aceita pressão. Ele que fez a mexida no tabuleiro.

Diante da perda de popularidade e do apoio empresarial, o presidente mudou de discurso e de postura e passou até a usar máscara. Mas vai mudar na prática? O que se observa, até agora, é um vaivém de declarações.

Ele nunca acreditou em pesquisa. Nem a boa, nem a ruim. Essa mudança de postura do presidente, que vocês falam, é devido à nova variante. Nós temos uma nova cepa. Antigamente, nós tínhamos como separar apenas os idosos e o grupo de risco, porque o mundo todo viu que o vírus atingia mais o grupo acima de 60 anos. Hoje, não. Então, tudo mudou. O ministro (Marcelo) Queiroga, quando assumiu a Saúde, falou isso para o presidente. Disse que era preciso usar mais máscaras, até falou em "Pátria de máscara". Ontem (anteontem), o presidente chamou o Queiroga de "Posto de Saúde". Disse: "Eu tenho o meu Posto Ipiranga, agora tenho o meu Posto de Saúde". O Queiroga foi uma grande aquisição. Ele chega ao ministério às cinco e meia da manhã. A turma lá está se dividindo em dois turnos para aguentar. Nós estamos vacinando mais de 20 milhões de pessoas. O Brasil é o quinto país em números globais (em vacinação) porque o governo se antecipou.

Mas o governo entrou atrasado na vacinação e hoje há mais de 300 mil mortes. No caso da Coronavac, por exemplo, o então ministro da Saúde Eduardo Pazuello anunciou a compra de 46 milhões de doses, em outubro, mas foi desautorizado pelo presidente.

O governo não entrou atrasado. A Coronavac foi comprada no dia seguinte em que foi aprovada pela Anvisa. A gente tem que separar os fatos dos ruídos. Os empresários, que são investidores, querem saber se daqui a três meses nós teremos condições de voltar à vida normal, para que possam se planejar. A gente já consegue ver uma luz no fim do túnel, uma vida após a vacinação.

No meio político o que se diz é que o presidente só mudou por causa do retorno do ex-presidente Lula à cena política.

Não. Coincidiu que o Supremo Tribunal Federal decidiu anular as condenações do ex-presidente Lula, que fez um discurso falando da importância da vacina. Nós mudamos devido a essa nova variante (do vírus). O medo é maior. Quero até trazer um dado da última pesquisa que fiz: vem crescendo a curva do medo do desemprego.

De quando é essa pesquisa?

Da semana passada. São pesquisas internas sobre o sentimento do brasileiro. O desemprego é uma preocupação muito grande do presidente. No jantar de ontem (quarta-feira, 7), todos os empresários falaram em relação a isso. Um empresário de shopping disse que tinha feito mais de dois mil exames e não detectou nenhum positivo. As lojas têm protocolos. Todo mundo tem que entrar de máscara, usar álcool em gel na entrada. Ninguém fica perto de ninguém. Os protocolos funcionam. Existe um sentimento de que muita coisa está sendo feita errada, que a gente realmente poderia rever tudo e, com os protocolos que já temos, evitar uma quebradeira muito maior.

Alguém defendeu lockdown?

Ninguém. A gente não pode, de uma hora para a outra, trancar o Brasil.

Quais outros pedidos os empresários fizeram ao presidente?

Eles acham fundamental que o Arthur, o Pacheco e o presidente permaneçam unidos. Nós vivemos dois anos de muitas rixas entre o Congresso - a Câmara, principalmente, - e o Executivo. Tudo o que eles sonham, tudo o que eles querem, é um ambiente político calmo. E isso foi falado. Eles também pediram, claro, para reforçar a vacinação em massa.

Por que o presidente não tomou a vacina? Em Brasília, ele já poderia ser vacinado.

Isso é uma decisão pessoal do presidente. No sábado, ele disse: "Se querem que eu tome a vacina, eu vou me vacinar". Só que ele fala assim: "Primeiro, eu sou o chefe da Nação. Eu tenho que saber o que está ocorrendo em todo canto. Então, eu vou para o front. Não vou ficar no Alvorada trancado". Ele é criticado por isso. Tem gente que defende que o presidente tem que ser igual a comandante de navio. É o último a sair do navio. Ele diz: "Eu tenho saúde. Eu já tive covid". Quando ninguém esperar, ele vai tomar.

O presidente tem um estilo de incentivar confrontos. Depois de esticar a corda com governadores e prefeitos na condução da pandemia, é possível uma reaproximação?

A gente só não consegue dialogar quando fala pelas costas ou quando tem traição. A gente tem um presidente no Brasil que fala o que pensa. Fala o que sente, de acordo com as pessoas com as quais ele conversa, com as redes sociais, com as visitas que faz, como ao Chaparral (comunidade da periferia do Distrito Federal). Ontem (quarta-feira, 7) ele mesmo falou que visitou algumas casas lá. Em três não tinha nada para comer. Eram trabalhadores informais que hoje não ganham nada. Ele disse: "Como é que não vou ficar preocupado com isso? Podemos ter um caos no Brasil".

A campanha da reeleição entrou na pauta do encontro com os empresários?

Não. Eles querem que tenha um engajamento com o Congresso, foco na vacinação. Alguns falaram que têm medo da volta do Lula. E que é importante que o governo continue acertando as reformas.

Mas é possível ter alguma reforma ainda?

Sim. Tem a administrativa e a tributária, que são as reformas previstas para este ano.

Que cenário vê para 2022?

Vai ser uma polarização. A volta do Lula afetou muito os candidatos de centro. Não quero citar nomes, mas já sei que alguns desistiram. A cada semana que passa, eles vão diminuindo na pesquisa. Nós temos um que governou o Brasil em dois mandatos, que lidera a oposição. E tem um presidente que é outro presidente muito popular, de direita. Então, é muito difícil um nome que não tenha um tempero, não tenha conhecimento da população, entrar no meio da disputa entre o Lula e o Bolsonaro. O Bolsonaro sempre achou que fosse enfrentar o PT. Já enfrentou em 2018.

Mas não foi com Lula.

Mas o Lula, ao mesmo tempo em que é o nome mais forte do PT, também é o que tem mais rejeição. O Brasil ainda respira centro-direita, está em uma ressaca muito grande de um governo de esquerda. Então, eu diria que o Bolsonaro, na disputa com o Lula, é favoritíssimo. Eu acho muito difícil a situação do (governador João) Doria em São Paulo. Terrível. O problema do Doria é o marketing excessivo. E as traições ao (Geraldo) Alckmin, ao Aécio (Neves), ao próprio eleitor paulista porque disse que não ia renunciar à Prefeitura.

O sr. fala de "favoritismo" de Bolsonaro, mas o seu partido, o PSD, e o Centrão enxergam uma possibilidade de apoiar Lula, pois muitos têm bases ancoradas no Nordeste. O próprio Arthur Lira foi ao Twitter para elogiar a decisão do Supremo favorável a Lula.

Arthur Lira e Ciro Nogueira, que é o presidente do PP, já declararam inúmeras vezes que estarão com o presidente Bolsonaro. Nenhum partido falou que estaria com Lula. Há os que dizem que vão estar com Bolsonaro e outros que falam em candidatura própria. É isso que está na mesa.

Como o governo avaliou a carta divulgada por seis presidenciáveis de centro em defesa da democracia? Ciro Gomes, João Doria, Luciano Huck, Luiz Henrique Mandetta, Eduardo Leite e João Amoêdo assinaram o manifesto. A nossa democracia está ameaçada?

Eles não são players competitivos para 2022. Nesse cenário de hoje, entre Lula e Bolsonaro, o centro não tem tempero para entrar em uma disputa. Se juntar seis, não dá um. E eu acho que eles estão em uma bolha. Precisam andar mais, conhecer um pouco mais da realidade atual. Nesse momento, todos estão vendo a pandemia. Mas, na hora da eleição, todo mundo vai avaliar cada ilha do governo, como foi a economia e como a gente vai terminar o ano em relação à vacinação. Eleição não é corrida de cem metros. É uma maratona.

O governo não tem um grande programa. O Ministério da Educação continua patinando, o do Meio Ambiente é muito atacado pela questão do desmatamento. Qual é a marca desse governo?

Eu concordo que não é um governo de uma ou duas marcas. Só nesta semana o ministro Tarcísio (Freitas, da Infraestrutura) leiloou 22 aeroportos. Foi a mesma quantidade de todos os governos anteriores. O Banco Central foi eleito o melhor Banco Central de 2020. No ano passado, a economia caiu 4,1%, enquanto quase todos os países da Europa caíram 9%, 10%. O Brasil só ficou atrás dos grandes, China e Estados Unidos. Bolsonaro não gosta de marca. Ele mesmo disse: "Eu vou continuar as obras. Não quero obra parada".

A entrada da deputada Flávia Arruda (PL) na Secretaria de Governo foi para atender Arthur Lira e o Centrão depois que ele insinuou impeachment?

Não. A vinda da Flávia traz sangue novo. Ela tem relação com deputadas da bancada feminina, é muito próxima do Lira, tem relação com partidos de centro.

Mas a presença na posse dela do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, preso no mensalão, provocou desgaste.

De jeito nenhum.

E por que então o governo tirou a foto de Costa Neto do banco de imagens?

Nem vi isso.

Estadão
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