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Política

Faixa presidencial se torna símbolo da conturbada e tensa relação republicana

Além de Bolsonaro, outros seis ocupantes do Palácio do Planalto deixaram de entregar a tira de lã e seda verde e amarela ao sucessor

31 dez 2022 - 05h10
(atualizado às 08h41)
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Último presidente da ditadura, Figueiredo não compareceu à posse de Sarney, em 1985; pela primeira vez, em Brasília, um militar se recusava a transmitir o cargo.
Último presidente da ditadura, Figueiredo não compareceu à posse de Sarney, em 1985; pela primeira vez, em Brasília, um militar se recusava a transmitir o cargo.
Foto: W. Padovani/Estadão - 05/10/1984 / Estadão

Na história política, a faixa presidencial virou símbolo da conturbada vida pública brasileira. O gesto de Jair Bolsonaro de não passar o poder a Luiz Inácio Lula da Silva neste domingo, 1º, é mais uma cena de uma República de tensões, ameaças e golpes.

Outros seis ocupantes do Palácio do Planalto deixaram de entregar a tira de lã e seda verde e amarela ao sucessor. Teve quem sofreu isquemia cerebral, impeachment ou golpe. Houve ainda quem recusou o rito por desapreço à democracia.

Desde que Juscelino Kubitschek inaugurou o palácio e Brasília, em abril de 1960, foram 18 substituições de presidentes - tirando três reeleições. Em um terço destas trocas não houve entrega de faixa. Quando havia, a situação costumava ficar tensa. Ao ser informado de que o eleito, Jânio Quadros, poderia fazer um discurso demolidor, Juscelino avisou que lhe daria um soco. Não houve ataque verbal nem físico, mas a faixa original foi levada pelo ex-presidente para casa - e reapareceria mais tarde num mausoléu construído em Brasília em forma de pirâmide cortada.

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Em 15 de março de 1985, o País acordou com a notícia de que o presidente eleito pelo Colégio Eleitoral, Tancredo Neves, tinha sido internado. Quando o então vice, José Sarney, chegou ao palácio, no fim da manhã, para assumir, o presidente João Figueiredo tinha deixado o prédio. Era a primeira vez, em Brasília, que um militar se recusava a transmitir o cargo.

Com a morte de Tancredo, o mundo político pediu que o presidente fosse enterrado com a faixa. Sarney aceitou, mas mandou fazer outra para o morto e pôs a antiga no peito. Em 1990, cioso com a "liturgia do cargo", entregou a faixa a Fernando Collor de Mello, que havia feito campanha contra o governo.

A reconciliação ocorreu dias antes. A pedido do sucessor, Sarney decretou feriado bancário de três dias, o que permitiu a Collor confiscar, logo que assumiu, poupança acima do que equivale hoje a R$ 18 mil, sem dar chance de ninguém escapar. Nunca o cumprimento da tradição da faixa presidencial doeu tanto no bolso dos brasileiros.

Depois, Collor sofreu impeachment e saiu do Palácio do Planalto pela lateral. O sucessor dele, Itamar Franco, passou o poder a Fernando Henrique Cardoso, em janeiro de 1995, que repetiria o gesto em 2003, dando posse a Lula. Durante a entrega de faixa ao petista, o tucano acabou se atrapalhando e deixou os óculos caírem. Lula se abaixou para pegá-los.

A atual faixa presidencial foi confeccionada em 2007 para Lula entregar a Dilma Rousseff. Mas nem essa peça escapou do destino da confusão política. Em 2015, a tira foi perdida e Dilma usou a velha na cerimônia da reeleição. A faixa nova foi achada depois num armário do palácio, mas a então presidente sofreu impeachment no ano seguinte e não a passou a Michel Temer.

Neste dia 1.º de janeiro, Lula irá ao Palácio do Planalto para assumir pela terceira vez a Presidência da República. Enquanto isso, Jair Bolsonaro deverá continuar em viagem a Orlando, nos Estados Unidos, terra dos parques temáticos e hábitat dos personagens de Walt Disney.

Estadão
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