Falta de favorito e fragmentação dificultam escolha de vice
Para analistas, pulverização partidária, dificuldade nas negociações e ausência de um candidato favorito adiam decisão dos partidos
A quatro dias do prazo estipulado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para a definição dos candidatos a vice, nenhum dos presidenciáveis melhor posicionados nas pesquisas de intenção de voto definiu suas chapas. Jair Bolsonaro (PSL) cogita a jurista Janaína Paschoal após ter tentado fechar com o senador Magno Malta (PR-ES) e o general da reserva Augusto Heleno. Marina Silva (Rede) espera fechar alianças com outras siglas para definir o nome. Geraldo Alckmin (PSDB) negociou com o empresário Josué Gomes, mas o filho do ex-vice-presidente José Alencar recusou. Por sua vez, Ciro Gomes (PDT) e o PT ainda tentam parcerias com o PCdoB e o PSB.
Analistas ouvidos pelo 'Estado' citam a fragmentação partidária, a ausência de um favoritismo claro e o adiamento da conclusão das negociações de alianças como motivos para a decisão tardia. Para eles, os possíveis desdobramentos das investigações judiciais também dificultam a decisão dos partidos.
Rafael Cortez, analista político da Tendências Consultoria, afirma que o fim da hegemonia entre PT e PSDB e a ausência de um candidato com "favoritismo relevante" faz com que as siglas adiem as alianças. "A competição bipartidária liderada por PT e PSDB está em crise. Além disso, alternativas como Marina Silva e Jair Bolsonaro não conseguiram ampliar suas coligações nem fazer opções que mobilizem os eleitores", diz.
Pesquisa Ibope do fim de junho mostrava que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso pela Operação Lava Jato, liderava o cenário eleitoral em que era incluído, com 33% das intenções de voto, seguido de Bolsonaro, com 15%, e Marina Silva, com 7%. Ciro Gomes e Geraldo Alckmin apareciam com 4%. Sem o petista, o deputado federal do PSL liderava com 17%, seguido de Marina Silva, com 13%. Depois, vinham Ciro, com 8% e Alckmin, com 6%.
Para o cientista político Eduardo Grin, professor do Departamento de Gestão Pública da Escola de Administração da FGV-SP, a nova lei sobre financiamento das campanhas, que proíbe a doação por empresas, também mudou a configuração das escolhas. Antes, a decisão do vice poderia estar ligada ao aumento na arrecadação de verbas. "Hoje, vários partidos não querem entrar na composição da chapa para vice para não comprometer seus recursos", diz.
Segundo ele, as siglas preferem investir na eleição de deputados, senadores ou governadores. "O Centrão, por exemplo, tenta aumentar o número de deputados para ganhar mais poder de barganha", afirma. Além disso, Grin acredita que os partidos têm procurado um "nome de segurança", que não se alie a partidos de oposição nem crie disputas políticas dentro do governo. "Precisa ser um nome capaz de produzir unidade política dentro do grupo de partidos e dar mais expressão pública-eleitoral para a chapa", diz.
'Mercado político'
Na avaliação do cientista político e professor Marco Aurélio Nogueira, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), há poucas alternativas boas no "mercado político". "Faltam opções de gente com qualidade para vice e para a própria Presidência", afirma. Para ele, os candidatos têm noção de suas próprias fragilidades e buscam um vice que funcione de maneira compensatória, desde que seja alguém confiável. "Se não acertarem no nome, podem carregar mais um problema do que uma solução".
Outra dificuldade citada pelo pesquisador é o caráter das coligações que foram fechadas - ou tentadas. Para alguns, como Alckmin, há excesso de nomes possíveis após seu acordo com o Centrão, enquanto para outros, como Ciro Gomes e Bolsonaro, o isolamento torna mais difícil uma eventual aliança. Como último ponto, Nogueira afirma que a posição de vice tem pouco valor político no Brasil. "Obter um mandato de deputado, senador ou governador pode ser mais valioso".
O que pesa para escolher um vice?
O cientista político do Insper Fernando Schüler elenca quatro fatores importantes para a definição de um vice: territorialidade, gênero, imagem pública e expressão eleitoral. "É uma decisão complexa com uma soma muito variável. Para alguns, como Alckmin e Alvaro Dias, é importante ter um nome do Norte e Nordeste. Para outros, como Jair Bolsonaro, ter uma mulher na chapa pode ser mais relevante", afirma.
Para ele, as eleições 2018 apresentam um quadro de disputa intensa por alianças e a demora para definir um vice é normal. "A dificuldade vem do fechamento das coligações. São 25 partidos no Congresso e ainda há muitas disputas acontecendo. Só o Novo e PSOL, partidos menores e mais ideológicos, já decidiram porque não têm problemas de coalizão".