FHC defende Aécio contra pedidos de expulsão: "oportunismo"
Ex-presidente fala em 'oportunismo' e afirma que partido tem um código de ética; ala ligada a Doria defende saída de deputado do PSDB
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso reagiu nesta quinta-feira, 11, à pressão feita por lideranças do PSDB ligadas ao governador de São Paulo, João Doria, pela expulsão do partido do deputado Aécio Neves (MG), após a abertura de ação penal contra ele na Justiça Federal em São Paulo, no início do mês. Em mensagem publicada no Twitter, FHC disse que o PSDB tem estatuto e código de ética a serem seguidos, e afirmou que "jogar filiados às feras", sem aguardar uma decisão judicial, é "oportunismo sem grandeza".
"O PSDB tem um estatuto e uma comissão de ética. Há que respeitá-los. Jogar filiados às feras, principalmente quem dele foi presidente, sem esperar decisão da Justiça, é oportunismo sem grandeza. Não redime erros cometidos nem devolve confiança", escreveu o ex-presidente. A manifestação de FHC ocorre um dia após o prefeito de São Paulo, Bruno Covas, engrossar o coro pela expulsão de Aécio. A jornalistas, Covas chegou a afirmar, anteontem, que era "ou ele ou eu" no partido.
O PSDB tem um estatuto e uma comissão de ética. Há que respeita-los. Jogar filiados às feras, principalmente quem dele foi presidente, sem esperar decisão da Justiça, é oportunismo sem grandeza. Não redime erros cometidos nem devolve confiança.
— Fernando Henrique Cardoso (@FHC) 11 de julho de 2019
É dos diretórios municipais das duas maiores cidades paulistas - São Paulo e São Bernardo do Campo - que parte a pressão mais forte pelo desligamento de Aécio - ambos já aprovaram pedidos de expulsão. A preocupação é que o desgaste da imagem do deputado respingue na campanha do ano que vem.
Em nota, o PSDB paulistano rebateu ontem as afirmações de FHC. O texto, assinado pelo presidente, Fernando Alfredo, afirma que o diretório respeita a trajetória de Fernando Henrique, presidente de honra do partido, mas discorda de sua posição. Segundo o comunicado, a trajetória de Aécio "não condiz com o que FHC tem de legado". "É inadmissível que pessoas como Aécio Neves permaneçam nos quadros partidários." O texto afirma que o pedido de expulsão "se deveu pelo fato de não compactuarmos com a postura e o histórico de Aécio, que conspurcam a imagem do partido".
Além do PSDB paulistano, o diretório tucano de São Bernardo do Campo também formalizou pedido de expulsão de Aécio da legenda. A decisão, de anteontem, foi acatada por unanimidade. A ação foi comandada pelo prefeito de São Bernardo do Campo, Orlando Morando, integrante da executiva nacional do PSDB, e a deputada estadual Carla Morando, líder do partido na Assembleia paulista.
Segundo Morando, a iniciativa do partido por enquanto se concentra em Aécio, e não em outros tucanos alvo da Justiça, como o ex-governador do Paraná Beto Richa e o ex-presidente da legenda Eduardo Azeredo - que chegaram a ser presos - porque o deputado mineiro é mais conhecido pelo fato de ter sido candidato à Presidência em 2014. "Aécio causou os maiores danos à imagem do partido", disse.
Réu
Aécio foi denunciado em 2017 pela Procuradoria-Geral da República, sob acusação de receber propina de R$ 2 milhões, do grupo J&F, e de tentativa de obstrução da investigação da Lava Jato. E virou réu por decisão do Supremo Tribunal Federal em abril de 2018.
Após a eleição, por não ser mais senador, o caso foi enviado à primeira instância. A denúncia então foi ratificada pelo Ministério Público Federal em São Paulo. No dia 2 de julho, a denúncia foi recebida pelo juiz João Batista Gonçalves, da 6.ª Vara Criminal Federal.
Dois dias depois, o diretório paulistano aprovou um pedido de expulsão. Na terça-feira passada, Doria afirmou ao Estado defender uma "saída espontânea" do deputado, para evitar a necessidade de expulsão. Abordado na Câmara para comentar o assunto, Aécio disse que "não tem nada a falar". Procurada, a assessoria afirmou que o deputado não iria se pronunciar. / COLABOROU FELIPE FRAZÃO
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