FHC toma posse na ABL, lembra Ruth e diz que fardão 'é um pouco incômodo'
Ex-presidente da República ocupará a cadeira 36 da Academia Brasileira de Letras
O ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso tomou posse na noite desta terca-feira como o novo "imortal" da Academia Brasileira de Letras (ABL). FHC falou com a imprensa antes da cerimônia, na sede da entidade, no centro do Rio de Janeiro, lembrou da mulher, Ruth Cardoso, falecida em 2008, e confessou que o "fardão", paramenta típica dos integrantes da casa, "ainda é um pouco incômodo".
"Não estou habituado, mas de qualquer forma é algo que a gente tira de letra", brincou o novo "imortal", devidamente paramentado com tons predominantes de verde e bordados dourados que em muito lembram o brasão da República do Brasil. Em seu discurso de posse, FHC citou Ruth Cardoso, a quem considerou "por toda a minha vida o meu esteio".
"A Ruth me ensinou muita coisa. Por exemplo, esses movimentos que a gente tem visto nas ruas, ou quando eu fui há 10 dias na (favela) da Maré (zona norte do Rio). Não é surpresa para mim, porque foi algo que a Ruth sempre me passou, ela tinha a mente mais aberta que a minha e me ajudou a ser menos acadêmico. Ela sempre foi mais voltada para as coisas concretas, é o que eu tento ser", explicou.
FHC tentará conciliar sua agenda política junto ao seu próprio instituto com a vida de "imortal". "Afinal, apesar da idade avançada (82 anos), eu tenho uma agenda bastante pesada", disse. Ele ainda pregou que a sua chegada possa servir de exemplo de renovação para a ABL.
"São pessoas com formações diferentes da minha, principalmente mais voltadas para a literatura. Eu posso me diversificar, agregar mais. O importante na vida é ser curioso, aqui eu posso aguçar minha curiosidade", disse. "É preciso renovar sempre, tudo bem que com velho é difícil renovar, mas eu espero que o meu espírito não esteja tão caquético. Por que não trazer outras profissões, gente de tecnologia, mais modernas? Mas vamos ver, ainda estou chegando", completou.
Vários políticos acompanharam a posse de FHC na ABL, entre eles, os colegas de PSDB Geraldo Alckmin - governador de São Paulo -, Aécio Neves, senador mineiro e presidente da sigla, José Serra, ex-governador de São Paulo, e Tasso Jereissati, ex-senador. Também estiveram presentes o ministro do Supremo Tribunal Federal Marco Aurélio Melo, o cantor Gilberto Gil e muitos acadêmicos.
Fernando Henrique Cardoso é sociólogo e foi presidente da República ao longo de dois mandatos consecutivos: entre 1995 e 1998, e de 1999 a 2002. Já publicou, como autor ou coautor, mais de 20 livros e 100 artigos acadêmicos.
Professor por anos em Sorbonne, na França, suas obras são norteadas pelas relações internacionais, ciências políticas, avaliação de cenários econômicos e sociologia. FHC segue a linha de nomes, como o presidente do Senado, José Sarney, que figuram como “imortais” também por sua importância e retrospecto político.
A eleição de FHC, ocorrida em junho deste ano, era considerada “uma barbada”. Ele obteve 34 dos 39 votos possíveis (87% de aprovação). Reticente quanto à sua candidatura, o tucano avaliou, após o falecimento do jornalista João de Scatimburgo, que sua fase na Presidência já era algo de um passado não tão recente e se lançou à cadeira 36.
O ex-presidente da República será o sexto patrono da cadeira que já foi ocupada, na ordem cronológica, pelo médico Clementino Fraga, pelo bioquímico Paulo Carneiro, pelo diplomata José Guilherme Merquior e pelo jornalista João de Scatimburgo.