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Política

Filho diz que exumação de Jango pode não ser conclusiva

11 fev 2014 - 18h14
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Durante depoimento na Comissão da Verdade Vladimir Herzog, da Câmara Municipal de São Paulo, o filho do ex-presidente da República João Goulart (Jango), João Vicente Goulart, disse que a exumação dos restos mortais de seu pai pode não ser conclusiva, nem provar que Jango foi envenenado, em vez de ter morrido em decorrência de problemas no coração, como consta da versão oficial. Jango morreu em 6 de dezembro 1976 e a família pediu que a Comissão Nacional da Verdade, por meio do Instituto João Goulart (criado para contar a história do ex-presidente e manter viva a memória do político), investigasse o caso.

"A exumação é um dos  meios para chegar à verdade, e não o fim. Quando apresentamos o pedido de investigação ao Ministério Público, solicitamos além da exumação a oitiva dos agentes americanos, que estão no processo de investigação, e a liberação de certos documentos que sabemos que existem no Departamento de Estado americano sobre o monitoramento do presidente João Goulart no exílio. Ainda estamos esperando."

João Vicente contou que a família vem investigando a morte de João Goulart há muito tempo, e disse que uma das provas que indicam o assassinato de seu pai foi o depoimento do agente uruguaio Mario Leira Barreiro, que confirmou ter assistido a diversos momentos em que agentes americanos e autoridades brasileiras se reuniam para elaborar planos para monitorar e eliminar João Goulart. Além disso, a família tem documentos que mostram a existência de um agente denominado B, que entrava na casa de João Goulart, entre outras provas da perseguição.

"Sem dúvidas ele foi eliminado, porque poderia liderar um processo de reabertura e realinhamento político, e isso levou a uma preocupação maior, porque ele representava o rei caído. Foi contra ele que foi dado o Golpe de Estado de 1964, e ele representava a restituição da democracia. Assim como ele, outros líderes nacionalistas como Juscelino Kubitschek e Carlos Lacerda. Eu acho que é de profunda necessidade o Brasil ir ao fundo nessas averiguações", acrescentou João Vicente.

De acordo com o presidente da comissão, o vereador Gilberto Natalini, o depoimento foi muito esclarecedor, no sentido de ligar as mortes de Juscelino Kubitschek e de Jango, já que o objetivo era o de verificar as coincidências entre as mortes, que ocorreram em períodos próximos. "Foi dentro do que esperávamos. Nós estamos fazendo uma ligação entre o que aconteceu com os dois. Juscelino, chegamos à conclusão de que ele foi assassinado em um atentado na Via Dutra. É claro que há uma conjuntura onde a morte de João Goulart se encaixa, e o depoimento nos deu fortes indícios, provas escritas, depoimentos familiares de que o pai foi morto."

Natalini concordou com João Vicente no que se refere ao fato de que Jango foi morto em uma operação para eliminar aqueles que ameaçavam a abertura lenta e gradual do regime militar, sem perda do controle político por parte dos militares. Segundo ele, "o Brasil foi eliminando, a partir de 1975, todos aqueles que podiam atrapalhar, porque o Juscelino era o possível candidato do colégio eleitoral de 1978, com apoio de outras forças, inclusive de João Goulart. Isso atrapalhava os planos dos militares, que eliminaram essa gente com métodos absolutamente condenáveis".

Para Natalini, apesar de terem passado 37 anos, e uma exumação depois de tanto tempo ser algo extremamente complexo, há possibilidades de encontrar alguma substância venenosa nas ossadas, mas mesmo que não se encontre nada, não significa que a tese defendida, de que os remédios de João Goulart teriam sido trocados por veneno, seja invalidada. "Essa é uma das investigações. Goulart estava cercado no Uruguai e na Argentina pelas forças de repressão, e foi avisado, assim como Juscelino, que eles estavam na mira da ditadura, e seriam eliminados."

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Agência Brasil Agência Brasil
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