"Foco é trabalhar no setor privado", diz Moro em live
Cotado como candidato ao Planalto, ex-juiz diz que combate à corrupção no País deve se inspirar na luta contra a inflação
Ao participar de uma live organizada na noite de ontem pelo grupo "Parlatório", que reúne economistas, empresários, advogados, operadores de mercado, o ex-juiz e ex-ministro da Justiça e da Segurança Pública Sérgio Moro disse que o combate à corrupção no Brasil deve ser encarado da mesma forma que a inflação foi combatida nos anos 1990.
O evento virtual - que teve como tema o "Brasil contra a corrupção" - contou também com a participação dos ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e Michel Temer (MDB), além de Carlos Alberto Santos Cruz, ex-ministro do governo de Jair Bolsonaro. Os palestrantes defenderam que não há democracia sem o combate à corrupção como bandeira.
Moro, também ex-ministro de Bolsonaro e cotado como possível candidato a Presidência no ano que vem, afirmou ainda que seu foco atualmente é "trabalhar no setor privado". Ele respondeu a perguntas dos participantes do evento, entre eles, os empresários Flávio Rocha (Riachuelo), Jorge Gerdau (Grupo Gerdau) e Marco Stefanini (Grupo Stefanini), além do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta.
No fim do ano passado, Moro se tornou sócio-diretor na consultoria internacional Alvarez & Marsal. "Hoje o meu foco é trabalhar no setor privado. Acho que tenho condições de realizações, não só por fazer algo que é inerente ao setor privado, que é buscar um meio de vida, mas também por fazer algo que eu acredito e eu acredito na vitalidade do setor privado em promover mudanças importantes para as pessoas e para o próprio País", disse, sem citar as eleições.
Recentemente, a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal declarou a parcialidade de Moro ao condenar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na ação do triplex do Guarujá. O ex-juiz saiu novamente em defesa da Operação Lava Jato - para ele, foi o período em que a população viu "a justiça sendo feita no Brasil".
O ex-juiz avaliou, no entanto, que a corrupção não se combate apenas com processos judiciais. Segundo ele, a prática afeta a sociedade em três frentes: moral, econômico e político. "Tem de se colocar (a corrupção) no mesmo patamar, como feito no passado, no combate à inflação", disse. E seguiu: "É um erro imaginar que nós não podemos combatê-la e vencê-la. Ela vai existir, vai, nós temos inflação até hoje."
Avanço
Mais de 270 pessoas acompanharam a transmissão. O primeiro a falar foi FHC. O tucano se disse contrário à opinião de que o combate à corrupção está piorando no Brasil. Isso, segundo ele, por conta do avanço das ferramentas que permitem que haja maior transparência. "Acho que houve um progresso razoável nessa matéria no Brasil por causa da transparência", avaliou.
O ex-presidente afirmou preferir o excesso de controle à ausência dessas ferramentas. "Eu acho que o combate é necessário em todas as formas de desvio da regra. Todas as formas de corrupção. Eu prefiro o excesso do ponto de vista do controle, do que a ausência de controle."
Durante a fala, Fernando Henrique saiu em defesa da Lava Jato, da qual se disse "partidário", apesar de reconhecer que "abusos que podem ter existido". Segundo ele, é melhor "sublinhar os aspectos positivos" que a operação teve.
O ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Ayres Britto, que falaria na sequência, cancelou sua participação por causa do falecimento de uma cunhada, pouco antes do evento, em decorrência da covid-19.
O ex-presidente Temer classificou como "terrorismo" e "desserviço" a ideia de que o combate à corrupção está atrelado apenas à Lava Jato. Segundo ele, a Constituição Federal assegura todos os instrumentos necessários para manter essas iniciativas. "O combate à corrupção não é porque queiramos, é porque a Constituição determina", disse.
Santos Cruz, ex-ministro-chefe da Secretaria de Governo da Presidência, iniciou sua fala afirmando que a corrupção é "um câncer" para o País. "Que tem metástase e que, em certos momentos, impede a evolução política", disse. O general da reserva afirmou que essas práticas precisam de uma "atenção especial" para serem combatidas, pois, acabam "invadindo alguns dos sistemas que seriam de prevenção". / COLABORARAM MARLA SABINO, FRANCISCO CARLOS ASSIS e MÁRCIO RODRIGUES