General Newton Cruz disse polêmico “cala a boca” a repórter
Militar do alto comando da ditadura, falecido aos 97 anos, protagonizou um momento tenso que entrou para a história da imprensa
Neste sábado (16), a morte do general Newton Cruz repercute na internet e na TV. No regime militar, ele chefiou a Agência Central do Serviço Nacional de Informações (SNI) e o Comando Militar do Planalto.
Ficou famoso pelo jeito rude de tratar os profissionais de imprensa. Chegou a ser acusado de ter sido o responsável pela morte do jornalista Alexandre von Baumgarten. Foi absolvido por falta de provas.
Em uma coletiva de imprensa em dezembro de 1983, o general se irritou com o insistente questionamento do repórter Honório Dantas, da Rádio Planalto, a respeito da falta de democracia no Brasil.
“Deixa eu falar?”, disparou Newton Cruz. “Pode falar, general, pode falar”, respondeu o jornalista. “Então cala a boca!” Dantas afastou o gravador e parou a gravação.
“Desliga essa droga, então”, retrucou o militar ao empurrar o braço do repórter. Enfurecido, virou as costas e foi embora. As câmeras de TV captaram o diálogo tenso.
“Depois de ser empurrado pelo general Newton Cruz, me sinto muito honrado”, afirmou Honório. O militar ouviu, voltou possuído pela ira, agarrou o pescoço do jornalista e exigiu um pedido de desculpas. O repórter se desculpou.
17/12/1983:
General Newton Cruz, em entrevista coletiva, manda jornalista "calar a boca".
— Tarado por Vacina (@MoscaNaOrelha) June 21, 2021
Aquele ‘duelo’ entrou para a história como um exemplo da falta de liberdade de imprensa na ditadura. Foi relembrado nas ocasiões em que Jair Bolsonaro mandou jornalistas calarem a boca.
Uma das vezes foi em 21 de junho de 2021, quando ele se irritou com uma repórter da TV Vanguarda, afiliada da Globo, e disse que a emissora da família Marinho “é uma merda, uma porcaria”. O presidente sempre se declarou admirador do general Newton Cruz.
Em 2010, ao ser entrevistado por Geneton Moraes Neto na GloboNews, o temido militar da ditadura declarou que aquele tratamento que ele dava à imprensa não poderia mais acontecer.