Governo apresenta canal de diálogo com a indústria
Indústria, que teme abertura da economia, será ouvida por meio da Secretaria Especial de Produtividade, Emprego e Competitividade
Numa cerimônia prestigiada por representantes de peso do setor produtivo, o governo apresentou nesta terça-feira, 8, seu canal de diálogo com as empresas: a Secretaria Especial de Produtividade, Emprego e Competitividade (Sepec). Com isso, procurou mostrar que, mesmo sem uma pasta específica, a indústria será ouvida.
Os empresários receberam bem a promessa de remover os obstáculos impostos pelo governo à livre iniciativa, mas colocaram pelo menos duas preocupações: a real implementação das medidas e como ela será combinada com a abertura da economia.
"Não carecemos de diagnóstico, carecemos de implementação dos diagnósticos existentes", disse o presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Fernando Pimentel. "A correção das assimetrias tem de ser feita antes da abertura", comentou o presidente do Instituto Aço Brasil, Marco Polo Mello Lopes.
O diálogo com o setor produtivo será feito por meio de mesas executivas, com representantes do governo e da iniciativa privada dividas por setores. Elas deverão definir propostas que aumentem a competitividade das empresas brasileiras. O secretário especial, Carlos Alexandre da Costa, frisou que seu trabalho é ouvir o empresariado, mas estabeleceu um limite: "Está proibido discutir subsídios, proteção e mais gastos públicos", afirmou.
Ele ressaltou que todos os subsídios serão revistos, mas disse que isso será feito gradualmente. Costa disse que tomará uma série de medidas para remover obstáculos à produção, mas não entrou em nenhum detalhe. Segundo ele, a secretaria está desenhando planos para os 100 primeiros dias de governo e terá novidades a partir da próxima semana. "Precisamos deixar as empresas produzir, tirar o peso das regulações excessivas e das inseguranças jurídicas", completou.
Na cerimônia, Costa apresentou cada um de seus cinco secretários, que falaram, em seus discursos, na mesma linha do chefe: vão reavaliar todos os programas e manter apenas o que se provar eficiente. "Os que funcionam, serão ampliados. Os que forem encontrados defeitos serão reavaliados e, se não forem encontradas soluções, serão cancelados", afirmou o novo secretário de Políticas Públicas para o Emprego da Sepec, Fernando de Holanda Filho.
Costa disse que a equipe trabalhará para aqueles que não ficam "com o pires na mão em Brasília pedindo proteção e subsídios". "Está na hora de darmos o devido valor a quem produz e destruir barreiras à competitividade", afirmou.
O ex-deputado Emerson Kapaz, atualmente diretor da GD Solar, viu na própria estrutura da secretaria uma determinação do governo em facilitar negócios, desregulamentar a economia e liberar a capacidade de empreender. "Para muitos, soou como música", disse. "Mas para alguns pode representar um risco, por estarem acostumados a usar as muletas da falta de competitividade." Para ele, o recado mais importante do evento foi o aumento da produtividade.
"É muito positiva a fala sobre eliminação de obstáculos à competitividade, em vez de compensações para a atuação ineficiente do Estado", comentou o gerente executivo de Política Econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flávio Castelo Branco.