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Política

'Huck, como eu, é de centro-esquerda', diz ex-governador

Paulo Hartung destaca 'processo de reconstrução' do DEM, mas evita se posicionar sobre eventual filiação partidária de Huck

6 dez 2020 - 05h10
(atualizado às 08h21)
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O ex-governador do Espírito Santo Paulo Hartung tem uma avaliação destoante em relação ao saldo político das eleições municipais deste ano. Para ele, as disputas municipais terão impacto de "baixa relevância" em 2022 e o que vai influenciar a próxima disputa presidencial é como o País vai atravessar o "desafiador" ano de 2021. Neste aspecto, acredita Hartung, não será a economia e, sim, o social o fator decisivo do voto daqui a dois anos. Um dos mais próximos interlocutores de Luciano Huck, o ex-governador não arrisca um palpite agora sobre uma eventual filiação do apresentador e empresário. Mas dá uma pista: "O Luciano é de centro-esquerda, como eu", disse Hartung em entrevista ao Estadão.

Luciano Huck declarou voto em Eduardo Paes no Rio de Janeiro
Luciano Huck declarou voto em Eduardo Paes no Rio de Janeiro
Foto: Beatriz Orle / Futura Press
  • Que mensagem as eleições municipais deste ano deram em relação ao atual contexto político nacional? É uma mensagem para 2022?

Da urna, sempre saem recados. O que a gente precisa entender é a circunstância da eleição. Dentro de uma pandemia que não temos um ponto final e ocorreu com gestores municipais tendo papel no enfrentamento da covid-19. Esses gestores foram turbinados com dinheiro. As prefeituras receberam um recurso vultoso. E ainda teve o fundo de campanha, que fez a diferença. Debaixo de uma pandemia, tem bonança. A taxa de reeleição subiu. Não foi um momento de desconexão como a gente já viu várias vezes na política brasileira. Se vai ter impacto em 2022? Muito pequeno, de baixa relevância. E na eleição da Câmara? Vai. É da tradição brasileira. Esse arranjo local impacta na eleição seguinte de deputados e senadores. Agora, achar que o recado da urna é o que vai presidir o processo seguinte é um equívoco. O que vai influenciar 2022 é 2021. Como o País vai atravessar esse ano desafiador.

  • Como?

Existe uma enorme perda de tempo no País. De setembro em diante, já era hora de agir. Era hora de ancorar o endividamento em médio e longo prazos para manter solvência e credibilidade. Agora passou a eleição e a conversa é que tem que esperar a eleição da Câmara. Está sendo produzida uma grave crise a partir da inércia.

  • Segurança econômica será ainda o fator principal na decisão do voto em 2022?

O que vai acontecer vai depender muito do percurso de 2021, que até agora vai mal. É o econômico? Não, é o social. É o desemprego, a renda baixa, é isso que vai impactar. Quando você olha o terceiro trimestre hoje (anunciado na quinta-feira, com alta de 7,7% ante o segundo trimestre) você está falando de passado. Não é presente nem futuro. Na hora que você não ancora o endividamento, você produz desorganização para 2021. E isso cria uma ambiência diferente para 2022.

  • Marcos Nobre, presidente do Cebrap, disse que as eleições levaram a uma maior homogeneização do quadro político-partidário. De fato, as urnas mostraram aumento na dispersão partidária nos municípios. É um chamado ao diálogo das forças políticas?

O diálogo é necessário para a democracia em qualquer circunstância e ambiência. As pessoas precisam ter o hábito de dialogar com a diferença. Isso é uma máxima da vida democrática. Agora, não é eleição municipal que dita isso. É agora o andar da carruagem por esse ano. 2021 vai ser difícil de ser percorrido, duro para a população. As bases vão estar nessa conjuntura. Essa coisa de discutir frente numa hora dessa... São várias frentes desde que eu seja o líder? Deixa o processo amadurecer.

  • Em 2017 o sr. previu "uma avenida aberta" para um outsider na eleição presidencial de 2018. A próxima também terá um caminho desobstruído para um candidato "de fora" da política?

Em 2017, muitas lideranças achavam que tempo de TV resolvia aquela eleição. Para responder hoje, eu precisaria de uma bola de cristal. Mas no segundo semestre de 2021 teremos base. O ponto focal da eleição de 2022 é a travessia de 2021, aí que vão se formar as correntes conectadas ao sentimento da população.

  • Luciano Huck é apontado como possível candidato em 2022. Conversas com Sérgio Moro e Flávio Dino, fortemente associados a polos divergentes da política nacional, não acabam deixando pouco claro para o eleitor sobre quem o apresentador quer ter ao seu lado num projeto eleitoral?

O Luciano, depois do pleito de 2018, decidiu ter uma participação ativa no debate nacional. Esse foi um deslocamento importante dele. Maior engajamento nos movimentos cívicos, como Agora! e RenovaBR, para formar novos quadros. É preciso ter gente qualificada no debate nacional. Huck participou de um sem-número de debates e avaliações. Conversar com Dino e Moro, ou (Rodrigo) Maia, (Gilberto) Kassab, é coisa natural. O País precisa disso. Interação não quer dizer que vai estar junto ali na frente, que vai ter candidato ou participando do mesmo movimento. Acho positivo ele ter entrado abertamente de peito aberto no debate. Mas política é conversa. Às vezes o que parece distante não é distante.

  • O DEM convidou o Huck para se filiar. Ele tem mantido um discurso de compromisso com a redução da desigualdade e pautas afirmativas por exemplo...

O DEM vem num processo de reconstrução. A presidência do ACM Neto tem sido diferente em termos de organização partidária. Ele deu um dinamismo que é visível para o partido. As presidências de Câmara e do Senado deram visibilidade. O partido é um vitorioso neste processo municipal. O Luciano é de centro-esquerda, como eu. Alguém que tem sensibilidade com os problemas sociais e tem um conceito modernizado da ideia do Estado e da economia. A hora é outra. A primeira decisão é se vai participar do processo eleitoral. Acho que está longe de uma decisão assim.

  • O sr. vai se filiar a um partido?

Estou com 63 anos, exerci oito mandatos e desde algum momento me preocupei com o encerramento dessa trajetória. Em 2010, estava em dúvidas, fui para a iniciativa privada sem certeza, tive uma recaída, disputei 2014, mas quando tomei posse, em 2015, foi com consciência que aquilo era o fim do meu ciclo político. Sou grato à oportunidade que tive e agora retribuo, além dos mandatos, no RenovaBR, no Agora!, no Todos pela Educação, com trabalho voluntário. Do ponto de vista de mandatos eletivos, fechei o ciclo.

  • Qual a importância das eleições para a cúpula do Congresso na correlação de forças políticas nacionais e como podem influenciar na próxima disputa presidencial? Maia e Alcolumbre poderiam buscar novo mandato?

Tenho defendido o Congresso. Nosso sistema político tem problemas, coisas que precisam ser consertadas, mas, do ponto de vista objetivo, o Congresso, na hora em que precisava fazer a reforma da Previdência, foi positivo, mostrou um viés reformista. O Congresso equilibrou os Poderes várias vezes. Medidas que não eram apropriadas foram rejeitadas. Fizeram uma defesa da democracia, como o Supremo o fez. Eu vejo no Congresso um sinal positivo. Estou valorizando as presidências de Maia e Davi? Deve ter reeleição? Acho que deve seguir a Constituição. Toda vez que o Brasil procura um jeito político de utilizar as leis, de cortar caminho, produz coisa ruim. Tem que cumprir a lei. Se a Constituição fala que não tem reeleição, alternância do poder.

  • O governo Bolsonaro fez emergir uma coalizão inédita entre quase todos os governadores do País contra medidas, posicionamentos do governo federal. Como o senhor vê este cenário e como avalia a relação crítica que se estabeleceu entre presidente e muitos governadores?

O Brasil foi atingido pela pandemia com pontos fortes e fracos. Pontos fortes: reservas internacionais e teto de gastos, de governos anteriores; reforma de Previdência, feita no atual governo. Pontos fracos: desemprego e endividamento alto, crescimento e investimento baixo. Quando a pandemia chegou, acrescentamos mais dois pontos fracos: a descoordenação entre o Executivo nacional, o Judiciário e o Legislativo nacional e os governos subnacionais. Isso está sendo ruim para o País; e a crise ambiental. Temos tudo para ter protagonismo na agenda ambiental do mundo e passamos a ter que administrar crises pelas ilegalidades praticadas na região amazônica.

Estadão
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