Bolívia envia embaixador ao Brasil, mas insiste em golpe
O presidente da Bolívia, Evo Morales, anunciou nesta segunda-feira que o embaixador do país no Brasil, José Kinn, retornará à Brasília após ter sido chamado para consultas em agosto como protesto pelo impeachment de Dilma Rousseff, um processo que o líder insiste em chamar de "golpe congressista".
Morales também disse em entrevista coletiva que o Brasil decidiu enviar de volta o embaixador do país em La Paz, Raymundo Santos Rocha Magno porque os dois governos têm "muito o que fazer" nas negociações sobre energia e hidrocarbonetos.
"Apesar de ter havido um golpe congressista, eu me informei que ele é legal, embora sem legitimidade. É constitucional, legal, mas não tem essa legitimidade", afirmou Morales.
O presidente ressaltou que, à margem desse "problema político", Brasil e Bolívia devem trabalhar pelo bem dos dois países, assim como fizeram durante o período sem os embaixadores nas capitais.
No fim de agosto, Morales convocou Kinn para consultas depois de o Senado ter confirmado o impeachment de Dilma. A Bolívia questionou o processo por ter sido decidido por "menos de cem pessoas", apesar de a ex-presidente ter recebido 54 milhões de votos.
Bolívia e Brasil, que têm uma fronteira de quase 3.400 quilômetros, devem negociar a renovação do contrato de compra e venda do gás natural boliviano, que vence em 2019. Além disso, há planos de construção de hidrelétricas na Amazônia e discussões sobre o projeto de uma ferrovia ligando o Atlântico ao Pacífico.
Nas últimas semanas, as autoridades bolivianas confirmaram que o novo esquema de venda de energia ao Brasil incluirá empresas privadas brasileiras além da Petrobras.