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Impeachment

"Dilma cresce no confronto e País está vendo", diz ex-marido

17 dez 2015 - 06h21
(atualizado às 07h41)
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Carlos Araújo foi casado com Dilma Rousseff durante 22 anos; 'ela tem uma baita cabeça, não se intimida', diz ele
Carlos Araújo foi casado com Dilma Rousseff durante 22 anos; 'ela tem uma baita cabeça, não se intimida', diz ele
Foto: Fávio Dutra

A presidente Dilma Rousseff "não se intimida" com o processo de impeachment. A opinião é de Carlos Franklin Paixão Araújo, 77, que convive com ela desde a juventude, quando Dilma foi presa e torturada em 1971, durante a ditadura militar.

Os dois foram casados durante 22 anos e atualmente compartilham a rotina familiar quando Dilma viaja a Porto Alegre, como deve ocorrer neste Natal. "Ela tem uma força interna muito grande. Está muito tranquila, tem uma baita cabeça, não se intimida", diz Araújo.

O advogado trabalhista e ex-deputado estadual pelo PDT recebeu a BBC Brasil no seu escritório, no Centro Histórico de Porto Alegre. Cartazes da campanha presidencial de Dilma decoram a recepção do local. Araújo não esconde a admiração pela ex-mulher, com quem tem uma filha, a procuradora do trabalho Paula Rousseff Araújo. O advogado e Dilma são avós de Gabriel, 5, e aguardam o nascimento de mais um neto, também filho de Paula.

Araújo não acredita que o processo em tramitação resultará no afastamento de Dilma. Para o advogado, o pedido de impeachment – assinado por Hélio Bicudo, ex-petista, pela advogada Janaína Paschoal, e pelo jurista Miguel Reale Jr., e recebido pelo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) – "não tem fundamentos sólidos". O pedido é baseado nas chamadas "pedaladas fiscais" do governo.

"Tanto é que tiveram que agregar um monte de coisas ao pedido para concluir sempre que o governo dela é um mau governo, etc, etc. Sempre um julgamento da natureza do governo. Isso não é motivo para impeachment", opina Araújo.

O advogado entende o movimento contra Dilma como uma consequência da perda das eleições presidenciais de 2014 pela oposição. "Não é possível que os que perdem uma eleição democrática queiram chegar ao poder por via não democrática só pelo fato de terem perdido a eleição", opina.

Sobre as manifestações contra a presidente que ocorreram no último domingo, véspera do aniversário de 68 anos de Dilma, comemorado no dia 14, Araújo diz que era "visível" que a adesão diminuiria com o passar do tempo. Ele vê o desgaste político do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB), que conduz o processo de impeachment, como um dos motivos do esvaziamento.

Quando fala do oponente de Dilma, Araújo brinca pela primeira vez durante a entrevista: "Sinceramente, em qual lugar sério um cara tem uma empresa com o nome 'Jesus.com'?", diz, em referência a uma das empresas registradas no nome de Cunha.

Sobre o vice-presidente da República e presidente do PMDB, Michel Temer, Araújo diz que ele tomou "atitudes dúbias". Isso porque " não há uma manifestação dele forte a favor da democracia" e "também não há manifestação direta pelo impeachment".

Contudo, o advogado acredita que o PMDB "vai agir democraticamente" e "não vai, de forma alguma, aderir ao impeachment". O vazamento da carta de Temer para Dilma foi positivo, segundo Araújo, pois "permite que as pessoas façam uma avaliação dele, quais são suas ideias, sua seriedade".

Ditadura e impeachment

Foi de olhos vendados que Carlos Araújo foi conduzido até a sua primeira reunião da juventude comunista, em Porto Alegre, aos 14 anos. O desejo do ex-marido da presidente era ser "como o pai", um dos únicos comunistas de São Francisco de Paula, cidadezinha gaúcha rodeada por cânions nos Campos de Cima da Serra.

Seu pai chegou a abrigar clandestinamente Luís Carlos Prestes em sua casa.

A decepção com o partido comunista ocorreu após a divulgação do Relatório Khrushchev, em 1956, que revelou barbáries protagonizadas por Stálin na União Soviética. Em 1957, com outros jovens comunistas decepcionados, Araújo acabou em Paris após participar de um encontro mundial em Moscou. Sem dinheiro enquanto explorava a capital francesa, foi hospedado por Jorge Amado, também comunista, e recebeu refeições de Vinicius de Moraes, que trabalhava na embaixada brasileira.

Com Dilma, Araújo lutou contra a ditadura. Ele era chamado de Max, e Dilma tinha o codinome Estela. O uso de nomes falsos era uma prática comum para proteger os ativistas, que corriam o risco de sucumbir à tortura dos militares e assim delatar os companheiros.

Nem Max nem Estela teriam delatado integrantes da Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR–Palmares), da qual faziam parte, enquanto eram torturados com choques e no pau de arara. Estela foi presa primeiro, depois foi a vez de Max.

Carlos Araújo diz que a dor da tortura é a "pior que existe", mas compara o sofrimento com momentos políticos difíceis, como o impeachment. "Existem dores tão profundas que não são físicas, são dores da luta política. Tem que se enfrentar situações extremamente adversas e aquilo te atinge, embora não te intimide", relata.

Araújo elogia a força de Dilma diante dos desafios. "Dilma cresce no confronto e o Brasil está assistindo a isso", diz. Mesmo assim, ele reclama do que chama de ataques "grotescos e grosseiros" contra a presidente.

"A gente tá metido nisso a vida inteira. Isso é a nossa vida. A gente tá sabendo que qualquer coisa pode ocorrer, a gente está sabendo desde que éramos jovens. A gente está enfrentando gigantes, sempre enfrentando o mais forte", diz falando no plural pela primeira vez.

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