Dilma diz que governo interino "é a cara" de Eduardo Cunha
A presidente afastada Dilma Rousseff disse hoje (13) em entrevista à Rádio Itatiaia de Belo Horizonte que as políticas implementadas pelo governo interino são influenciadas pelo deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Segundo ela, a dependência do presidente interino, Michel Temer, ao ex-presidente da Câmara dos Deputados é tão clara que ninguém se surpreendeu com a notícia de que ambos se reuniram reservadamente numa noite de domingo há algumas semanas. O encontro aconteceu no dia 26 de junho, no Palácio do Jaburu.
"Ninguém pode duvidar que este governo é a cara do Eduardo Cunha. Pode ter três ou quatro pessoas indicadas pelo presidente interino e ilegítimo, mas o conjunto da obra é do Eduardo Cunha", disse.
Sobre a sucessão na presidência da Câmara, em votação que ocorrerá esta noite, Dilma disse que o processo é uma oportunidade para a Casa se reerguer. A petista espera que o resultado reduza a influência de Eduardo Cunha no Congresso. "Tenho certeza que a maioria da Câmara é integrada por deputados que têm compromisso com o país. Espero que eles façam valer essa posição. Porque nós teremos segundo turno. E eu torço para que vença aquele que tiver mais idoneidade e mais independência. E que não seja alguém que tenha votado a favor do impeachment."
Perguntada se está arrependida da aliança com o PMDB, Dilma disse que não. Segunda ela, a legenda tem sua importância na história da democracia brasileira e tem em sua trajetória nomes que precisam ser respeitados como Ulysses Guimarães. No entanto, a presidenta afastada lamentou o que considera uma mudança no perfil do PMDB. "O signo maior da mudança é o deslocamento para a Câmara da força que controlava o PMDB. E dentro dessa força surgiu um elemento muito grave que é a política de Eduardo Cunha", criticou.
Programas
Dilma também não poupou críticas às políticas adotadas pelo governo interino. Segundo ela, Michel Temer não foi eleito para cumprir o programa que está querendo cumprir. "Não foi eleito para extinguir o Ministério da Cultura e depois voltar atrás. Não tiveram votos para isso, não passaram pelo crivo das urnas para defender que no Brasil tenha um programa de saúde com exigências menores do que aqueles que a Agência Nacional de Saúde estipula. Não foi eleito para interromper o Minha Casa, Minha Vida ou o Pronatec", citou.
Segundo Dilma, as pessoas estão perplexas diante das medidas tomadas pelo presidente interino. "Algumas delas são mera continuidade daquilo que nós vínhamos fazendo. Mas outras medidas representam uma grande ruptura com os direitos coletivos e individuais das pessoas."
Defesa
Na entrevista, Dilma disse que irá ao plenário do Senado fazer sua defesa no processo de impeachment. Na comissão que analisa as denúncias contra ela, a defesa de Dilma foi feita por seu advogado, o ex-ministro José Eduardo Cardozo, que leu um texto da petista.
"Não fui à comissão porque ali não estão todos os senadores. E eu preciso do voto do conjunto dos senadores", justificou. Dilma disse que considera o momento duro. "Ao mesmo tempo, acredito muito na minha volta. Estou lutando para persuadir o Senado das razões que estão do meu lado", disse a presidente afastada.
Dilma voltou a classificar de golpe o processo de impeachment, mas fez uma diferenciação em relação aos acontecimentos políticos de 1964, quando os militares tomaram o poder no país. "Se a democracia fosse uma árvore, no caso da ditadura militar se corta o tronco com um machado. Acaba a democracia, a liberdade de imprensa, o direito de organização, os direitos políticos das pessoas, o habeas corpus, etc", comparou.
"Agora os estudiosos chamam de golpe branco ou golpe frio, que é um golpe que se dá no confronto entre os dois poderes, o Legislativo e o Executivo. É como se essa árvore fosse atacada por parasitas e esses parasitas contaminam as instituições. Daí a importância de se respeitar as instituições. Você pode não concordar com as instituições, mas elas estão lá", acrescentou.