Indicado à PGR, Aras assegura apoios em comissão do Senado
Escolhido por Bolsonaro, subprocurador avisa à presidente da CCJ, Simone Tebet, que vai visitar todos os 81 senadores
Senadores que vão analisar inicialmente a indicação de Augusto Aras para a Procuradoria-Geral da República evitaram nesta sexta-feira, 6, impor resistências ao nome escolhido pelo presidente Jair Bolsonaro.
Entre os titulares da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), apenas dois declararam que não pretendem dar aval à nomeação, enquanto seis se disseram favoráveis, segundo levantamento do Estadão/Broadcast.
Única representante do PSL, partido de Bolsonaro, na CCJ, a senadora Juíza Selma (MT), declarou que vai votar contra o escolhido para suceder a Raquel Dodge. Na oposição, o vice-líder do PT, Rogério Carvalho (SE), se disse a favor.
A reportagem ouviu 24 dos 27 titulares da comissão, responsável por sabatinar o indicado. Dez não quiseram comentar, seis afirmaram ainda não ter opinião e apenas três não responderam.
Otto Alencar (PSD-BA) e Angelo Coronel (PSD-BA), dois parlamentares que têm se posicionado contra o governo em uma série de votações no Senado, elogiaram a escolha de Bolsonaro para chefiar o principal órgão de investigação do País.
"Ele não vai se dobrar a quem o indicou, ele é um homem do Direito e muito sério", afirmou Alencar, líder do partido no Senado. "A indicação de Augusto Aras talvez seja o ato mais responsável do presidente da República até então", disse Coronel.
Em reservado, parlamentares avaliam que as críticas do escolhido de Bolsonaro a condutas da Lava Jato imprimiram nele um perfil contrário à criminalização da política, o que pode favorecer sua aprovação pelos senadores. Para ser nomeado, ele precisará do voto da maioria no plenário da Casa.
Líder do governo defende indicação de Aras
O líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), afirma esperar que o indicado tenha o "apoio de todos os partidos, da direita à esquerda, devido à sua trajetória". "As críticas que ele fez à Lava Jato foram devido à 'midiatização'. Mas ele é um homem que defende a bandeira do presidente contra a corrupção. Tem um perfil adequado e equilibrado", afirmou o Bezerra Coelho.
Aras chegou a criticar colegas do Ministério Público. Em entrevista ao Estado, ele afirmou que a instituição estava aparelhada e defendeu uma "disruptura" para a Procuradoria "retomar os trilhos" da Constituição.
Nome de Aras desagradou a senadores 'lavajatistas'
Para o líder do PT, Humberto Costa (PE), a oposição deve ouvir Aras para avaliar se concorda com sua nomeação. "O que queremos é que o procurador coloque o Ministério Público para ter uma atuação condizente com a Constituição e acabar com esse estrelismo de alguns servidores do MP e a perseguição política", disse.
O nome, porém, desagradou a senadores "lavajatistas", como a Juíza Selma - chamada de "Moro de saias" durante a campanha eleitoral - e Alessandro Vieira (Cidadania-SE).
"Não adianta o presidente escolher um PGR que tenha posicionamentos parecidos com os dele se cada membro do MPF tem o seu próprio posicionamento e independência para trabalhar. Eu não teria feito essa escolha", afirmou a senadora, que critica a indicação fora da lista tríplice eleita pela categoria.
O escolhido para a PGR vai começar a visitar senadores na próxima semana em busca de apoio. Aras avisou à presidente da CCJ, Simone Tebet (MDB-MS), que pretende ir a todos os 81 gabinetes. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), porém, disse que não pretende dar prioridade à análise da indicação na Casa, que ainda discute a reforma da Previdência.
Bolsonaro: 'Reconheço a minha incompetência em alguns momentos'
Um dia após ser alvejado nas redes sociais pela escolha, que desagradou a boa parte de seus apoiadores, Bolsonaro voltou a pedir "uma chance" a Aras. "Reconheço as minhas limitações, a minha fragilidade, a minha incompetência em alguns momentos. Mas vou continuar me empenhando para fazer o melhor todo dia", disse ele a pessoas que o esperavam ontem na porta do Palácio da Alvorada.
Questionado se Aras vai combater a corrupção, o presidente respondeu que um procurador-geral da República "não pode focar só na corrupção". "É questão ambiental, direitos humanos, minorias. Tem a ver indiretamente com a economia. Essa é a intenção", completou.
Colabroraram BRENO PIRES e JULIA LINDNER