Índios marcam terras por conta própria por demora do governo
Processo se arrasta desde 2001, no estado do Pará
Os índios mundurukus começaram a cotar suas terras ancestrais na Amazônia por conta própria, cansados pela demora do governo em proteger esse terreno, um processo que se arrasta desde 2001, informaram nesta quinta-feira fontes indigenistas.
A zona reivindicada pelos índios, chamada Sawré Muybu, uma área de 178 mil hectares localizada entre os municípios de Trairão e Itaituba, no estado do Pará, onde vivem cerca de 300 mundurukus e onde o governo pretende construir duas centrais hidrelétricas.
Os índios usam estacas e facões para abrir passagem na floresta e são guiados por um GPS com a "esperança" de que o governo reconheça sua ação posteriormente, segundo afirmou à Agência Efe o missionário Haroldo Pinto, do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), organização ligada ao Episcopado que acompanha a operação.
A delimitação da terra ancestral começou em 16 de outubro e emprega cerca de 70 índios desta etnia.
O processo oficial de demarcação da reserva começou em janeiro de 2001 e só em 2013, a Fundação Nacional do Índio (Funai) concluiu o relatório que permitirá sua proteção efetiva, mas esse documento não foi publicado ainda, por isso que não entrou em vigor e os mundurukús continuam sem ter monopólio na zona.
"Agora estão em uma situação muito vulnerável. Enquanto a área não é delimitada, é invadida por mineiros ilegais, ou para pescar ou cortar madeira. Todos se acham donos e isso é uma ameaça de conflito. Os mundurukús estão defendendo seu território", disse Pinto.
A tardia conclusão da questão levou o Ministério Público Federal a apresentar em maio um processo nos tribunais contra o Estado brasileiro e a Funai.
Os índios acusam o governo de não querer proteger as terras para poder construir na zona as centrais hidrelétricas de São Luiz do Tapajós e Jatobá, que segundo os projetos originais inundarão uma parte da terra Sawré Muybu.
Em setembro, o Ministério de Minas e Energia suspendeu uma licitação para a compra de energia da central de São Luiz do Tapajós, programada para dezembro, pela necessidade de "adequar" o projeto de construção aos estudos indígenas.
Os mundurukús emitiram um comunicado afirmando que não se sentarão para negociar com o governo até que seja terminado o processo oficial de proteção da terra Sawré Muybu.