Interferência no Enem e mais: relembre as polêmicas do ex-ministro preso nesta quarta
Ex-titular o Ministério da Educação no governo Bolsonaro, Milton Ribeiro deixou o cargo em março, após escândalo de favorecimento na pasta
O ex-ministro da Educação Milton Ribeiro foi preso nesta quarta-feira, 22, em operação deflagrada pela Polícia Federal. A ação investiga a responsabilidade do ex-ministro no caso do "gabinete paralelo do MEC", revelado pelo Estadão, esquema de favorecimento a municípios representados por pastores ligados ao presidente Jair Bolsonaro.
Enquanto estava à frente do ministério, entre julho de 2020 a março de 2022, Milton Ribeiro acumulou polêmicas que vão de foto em Bíblia a falas controversas sobre crianças com deficiência. Relembre algumas polêmicas do ex-ministro:
Foto em Bíblia
Em março deste ano, o ex-ministro afirmou que autorizou a produção de Bíblias com a sua imagem e a distribuição gratuita desses itens em um evento religioso. Uma reportagem do Estadão expôs que os livros foram distribuídos aos convidados de um encontro do MEC em Salinópolis, no Pará, a 220 quilômetros de Belém.
Debandada do Inep
Faltando pouco menos de três semanas para a aplicação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), em novembro de 2021, 37 servidores do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão do MEC responsável pela prova, entregaram seus cargos. Os servidores alegaram que a saída foi motivada pela "fragilidade técnica e administrativa da atual gestão máxima" do órgão. Também foram mencionados episódios de assédio moral, expostos em uma assembleia.
Tentativa de interferência no Enem
Ainda em novembro do ano passado, servidores do Inep relataram uma tentativa de interferência na prova do Enem. Parte dos profissionais afirmou que sofreu pressão psicológica e vigilância velada para que evitassem escolher questões polêmicas que eventualmente incomodariam o governo Bolsonaro.
Universidades "para poucos"
Milton Ribeiro declarou à TV Brasil que a universidade deveria ser para poucos. "Nesse sentido de ser útil à sociedade", disse.
Na avaliação do ex-ministro, os institutos federais, capazes de formar técnicos, são as verdadeiras "vedetes" (protagonistas) do futuro.
Crianças com deficiência
Na mesma entrevista à TV, concedida em agosto de 2021, Milton Ribeiro afirmou que, quando um aluno com deficiência é incluído em salas de aula comuns, ele não aprende e ainda "atrapalha" a aprendizagem dos colegas. O então ministro da Educação até tentou se justificar, mas se enrolou ainda mais.
"Nós temos, hoje, 1,3 milhão de crianças com deficiência que estudam nas escolas públicas. Desse total, 12% têm um grau de deficiência que é impossível a convivência. O que o nosso governo fez: em vez de simplesmente jogá-los dentro de uma sala de aula, pelo 'inclusivismo', nós estamos criando salas especiais para que essas crianças possam receber o tratamento que merecem e precisam", afirmou, em visita ao Recife.
Gays são de "famílias desajustadas"
Em entrevista ao Estadão, em setembro de 2020, o ex-ministro foi questionado sobre a importância da educação sexual na sala de aula. Ele respondeu que era importante mostrar "que há tolerância", mas afirmou que o adolescente que muitas vezes "opta" por "andar no caminho do homossexualismo" [termo considerado preconceituoso] vêm, algumas vezes, de "famílias desajustadas".
Remédios ineficazes
Apenas quatro dias depois de sua posse, Milton Ribeiro anunciou que estava com Covid-19 e que trabalharia remotamente. Para o tratamento, ele afirmou nas redes sociais que usava medicamentos sem eficiência comprovada contra a doença, como azitromicina, ivermectina e cloroquina. O ex-ministro chegou a dizer que notou "diferença para melhor" em um dia.
*Com edição de Estela Marques.