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Política

Irmão de ministro teria usado empregada como 'laranja' no MT

Odair é acusado de compor uma organização criminosa que se apropriou indevidamente de terras da União no valor de R$ 1 bilhão; advogado nega

29 nov 2014 - 15h45
(atualizado às 15h57)
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Neri Geller, ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
Neri Geller, ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
Foto: Josi Pettengill / Secom-MT

O fazendeiro Odair Geller, irmão do ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Neri Geller, é suspeito de ter usado a empregada doméstica, que trabalha na casa dele há mais de 10 anos, como 'laranja'.

Helena da Silva Meireles é proprietária do lote 94 no Assentamento Itanhangá, em município de mesmo nome, no Norte de Mato Grosso, mas trabalha na casa de Odair em Lucas do Rio Verde.

Odair é acusado de compor uma organização criminosa que se apropriou indevidamente de terras da União no valor de R$ 1 bilhão.

O possível uso de Helena como 'laranja' consta do despacho do juiz federal Fábio Fiorenza, que decretou a prisão preventiva dos investigados na Operação Terra Prometida da Polícia Federal, cuja primeira etapa foi desencadeada na última quinta-feira.

Em depoimento à Justiça, Odair disse “nem saber” que Helena tinha lote no assentamento. Outro irmão do ministro, Milton Geller, também acusado de envolvimento no esquema, admitiu que conhece a mulher “de longa data”, mas não acredita que ela seja 'laranja.

Além de Helena, a Polícia Federal investigou outros integrantes da família Geller que também teriam recebido lotes no assentamento Itanhangá, mas que não moram lá nem na cidade de mesmo nome, mas sim em Lucas do Rio Verde. É o caso da irmã da família Geller, Clarisse, além de uma sobrinha e um sobrinho, por exemplo. Ao todo a família teria se apossado, através de 'laranjas' de 15 áreas, cada uma delas no valor aproximado de R$ 1 milhão.

O servidor do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Auro Custódio da Silva, certificou, em esclarecimentos à justiça, que Clarisse Geller não mora no Itanhangá. Custódio é o autor do relatório de vistoria no assentamento produzido no período de fevereiro a agosto de 2012 e finalizado em fevereiro de 2013.

No despacho do juiz Fiorenza, o magistrado diz que “a família Geller é muito poderosa, influente e rica. Os mais influentes são Neri (ministro), Odair e Milton Geller”.

Quanto ao ministro Neri Geller, a Polícia Federal emitiu nota pública reforçando que ele não é investigado. O ex-superintendente do Incra em Mato Grosso de 2003 a 2007, Leonel Wohlfart, em esclarecimentos à Justiça, disse que “Neri é um dos que manda na família”.

O advogado dos irmãos Odair e Milton Geller, Murilo Silva Freire, não dá para falar em “laranja” no caso da empregada doméstica Helena da Silva Meireles. Sobre a irmã do ministro, Clarisse, disse que ela "é uma professora aposentada e o marido dela é um tratorista”. Indagado por que ela não mora na área sobre a qual tem a posse, disse que cada pessoa explora a terra com as condições que tem, “na medida do possível”, e ela não tem condições financeiras de permanecer na terra.

Ao ser informado que o programa de assentamento não permite que o beneficiado viva longe do lote, Freire argumenta que "isso, ela (Clarisse) pode explicar pessoalmente". O advogado reforça que “a família Geller é de gente humilde, pessoas que se criaram na roça, produtores rurais e que um dos irmãos Geller é inclusive carvoeiro e muitos dos familiares dessa família se enquadram sim no perfil do programa de reforma agrária”.

Ainda neste sábado, o advogado vai protocolar na Justiça Federal um pedido de revogação da prisão preventiva expedida contra os irmãos Odair e Milton Geller, que estão presos no Centro de Custódia de Cuiabá. Ele vai alegar que não existem mais motivos para mantê-los detidos. “Eles foram investigados, presos, prestaram esclarecimento e agora podem responder ao processo em liberdade”.

A Operação Terra Prometida atingiu "homens fortes do agronegócio”, que, além dos crimes de estelionato, fraude, organização criminosa e associação para o crime, também devem responder por crime ambiental. Como explica a procuradora da República Ludimila Monteiro, ao se apossarem das áreas, eles não respeitaram a lei e desmataram mais do que o autorizado, chegando a 100% em alguns lotes.

Na avaliação da PF, Odair e Milton Geller integra o segundo escalão da organização criminosa, liderada por 13 fazendeiros do agronegócio e políticos da região.

Fonte: Especial para Terra
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