Jair Bolsonaro: como fica o governo enquanto o presidente está no hospital
O presidente completa 40 dias de mandato internado. Nesta semana, o presidente apresentou febre e foi diagnosticado com pneumonia, mas equipe considera que ele está em condições de comandar o país.
O presidente Jair Bolsonaro completará neste sábado (9), ainda internado, os primeiros 40 dias de governo. Embora não haja confirmação de quando receberá alta, já é certo que ele terá passado mais de um terço desse período - ou 14 dias - dentro do hospital Albert Einstein, em São Paulo.
Mesmo com uma recente piora no quadro de saúde, Bolsonaro segue responsável pela Presidência do país - função que chegou a ficar nas mãos do vice-presidente, Hamilton Mourão, mas que Bolsonaro reassumiu dois dias após a realização da cirurgia para religação do intestino e retirada da bolsa de colostomia que utilizava desde que sofreu um ataque a faca durante a campanha eleitoral, em setembro.
Nesta semana, o presidente apresentou febre e recebeu um diagnóstico de pneumonia. Na manhã desta sexta-feira, Bolsonaro escreveu no Twitter que voltou, aos poucos, a se alimentar e divulgou uma foto sorrindo e segurando uma colher com gelatina roxa.
"Nas últimas horas tive o prazer de voltar a comer. Ontem pela noite um caldo de carne e hoje uma boa gelatina. Estou feliz, apesar de não ser aquele pão com leite condensado kkkk. Bom dia a todos!", escreveu o presidente.
Mesmo diante da internação, a equipe considera que ele está em condições de comandar o país e nega resistência em passar a missão para Mourão, que está em Brasília.
"Não há nenhum tipo de mal estar entre o presidente e o vice. O presidente tem plenas condições de prosseguir dirigindo o país e pode perfeitamente liderar o governo, ainda que fisicamente não esteja presente em Brasília", afirmou à BBC News Brasil o porta-voz da Presidência da República, general Otávio Rêgo Barros.
Com a administração de antibióticos até a próxima semana para conter o quadro de pneumonia, Bolsonaro terá de passar por novas avaliações para ter uma previsão de alta. O presidente também tem relatado dificuldade para dormir.
Ao compartilhar no Twitter mais um dos comunicados de Rêgo Barros, o perfil oficial do presidente escreveu: "Cuidado com o sensacionalismo. Estamos muito tranquilos, bem e seguimos firme".
Afastamento de Brasília atrasa decisões sobre medidas prioritárias
Ainda que o governo procure transmitir otimismo em relação à evolução da saúde do presidente, a distância de Bolsonaro das atividades em Brasília já tem gerado efeitos práticos, reconhecidos inclusive pelos aliados.
O mais claro desses impactos é o atraso para tomar decisões sobre medidas consideradas prioritárias, como a proposta de reforma da Previdência que o governo pretende enviar ao Congresso. Em reuniões internas, integrantes da equipe responsável pelo texto esperam que o presidente bata o martelo sobre o assunto até o dia 19, mas Bolsonaro não se comprometeu publicamente com uma data.
O encontro com integrantes do governo também está prejudicado pela necessidade de Bolsonaro despachar de seu leito no hospital. O ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, por exemplo, chegou a agendar uma viagem para São Paulo para se reunir com o presidente no dia 31 de janeiro, mas teve de desmarcar o encontro devido à necessidade de repouso de Bolsonaro. O encontro não foi remarcado.
A ausência do presidente no Palácio do Planalto dificulta o contato dele não só com os ministros, mas também com parlamentares, em um momento em que novos deputados e senadores assumem os cargos e começam a desenhar suas estratégias.
O cientista político Renato Matos Roll, consultor na área de relações governamentais, avalia que a distância de Bolsonaro de Brasília não é tão prejudicial neste momento, início do ano legislativo, porque os parlamentares estão voltados para as decisões internas da Câmara e do Senado.
"O momento em que o afastamento do presidente ocorreu causou menores prejuízos porque é momento que o Congresso está olhando para si, com definições sobre a composição da mesa diretora e de comissões temáticas", afirmou.
Após essas definições, contudo, a ausência do presidente poderá ter mais impacto, principalmente porque o início do governo é considerado um momento-chave para a aprovação de medidas consideradas de difícil aprovação, como a alteração nas regras de aposentadoria.
"Há um trabalho muito intenso, principalmente no início dos governos, de usar o capital político do recém-eleito para angariar apoio para pautas prioritárias. Por isso, há uma expectativa grande de partir para temas como a reforma da Previdência e mudanças na área de segurança pública", disse.
Pacote de leis anticrime 'deu sensação de que governo continua andando'
Roll avalia que o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, "contrabalançou" a distância de Bolsonaro ao apresentar nesta semana o seu pacote de leis anticrime. "Isso deu a sensação de que o governo continua andando", afirmou.
O aspecto que mudou pouco durante a internação de Bolsonaro é a interação com o público pelas redes sociais. Ele tem usado a ferramenta para divulgar reuniões de seus ministros, fotos dele no hospital, e compartilhar mensagens publicadas por seus filhos no Twitter.
As mensagens sobre ações do governo não são as que, em geral, recebem mais curtidas do público. Entre as quinze últimas postagens no Twitter, as mais populares, com mais de 50 mil curtidas, foram uma imagem que informa a condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e uma mensagem em que Bolsonaro diz que nenhum assassino vai detê-lo.
"Começamos mais uma quinta-feira combatendo o bom combate. Temos uma missão e vamos cumpri-la. Precisamos estar unidos para transformar o Brasil em um local mais seguro para os cidadãos de bem! Não perderemos esta oportunidade única! Contem conosco! Nenhum assassino irá nos parar!"