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Política

Jair Soares diz que SNI foi seu maior adversário no governo

Ex-ministro do governo militar do general Figueiredo diz que foi traído pelo fogo amigo militar nas primeiras eleições diretas para o governo do RS

16 mar 2013 - 09h46
(atualizado em 5/12/2013 às 17h04)
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Foto: Reprodução

Trinta anos após Jair Soares ser eleito governador do Rio Grande do Sul - na primeira eleição direta para o Executivo estadual, ainda sob o regime militar -, ele confessa que seu maior inimigo naquele pleito foi o "fogo amigo" do Serviço Nacional de Informações (SNI), órgão importante para um governo do qual sempre foi aliado. "Eles tinham ciúmes".

Soares afirma que sua chegada ao poder em 1982 quebrou o paradigma eleitoral gaúcho de alternância do poder, uma vez que ele fazia parte da corrente que governou o Estado por mais de 20 anos na ditadura. Inspirado no marketing do presidente americano John F. Kennedy, ele explorou a "feiura" de seus adversários Alceu Collares (PDT) Pedro Simon (PMDB) e Olívio Dutra (PT) para sair vitorioso das urnas. "Nunca mais vai ter uma campanha com essa no Rio Grande do Sul".

Naquela época, a perseguição do governo militar a seus adversários poderia ser encarada como "normal", mas não era o caso de Soares, que galgou sua carreira política dentro do PDS, partido que apoiava os militares. Além disso, ele tinha relações pessoais com o general João Figueiredo (que governou o País de 1979 a 1985), tanto que o militar o convidou para o Ministério da Previdência Social, em 1979, pasta que deixou para concorrer ao governo gaúcho. Veja a seguir os principais trechos da entrevista concedida ao Terra, por ocasião dos 30 anos da posse dos primeiros governadores eleitos após o golpe de 1964. 

Terra - Como foram as prévias do partido para a escolha do candidato do PDS que concorreria ao governo nas eleições de 1982?

Jair Soares conta segredos de campanha a governador de 1982:
Jair Soares - Aquela eleição foi atípica, era com voto vinculado, tinha que votar no governador, no deputado federal, estadual, e no vereador do mesmo partido. Nosso partido tinha 10 nomes, e o Nelson Marchezan (presidente da Câmara de Deputados) me fez uma proposta, achou que eu não ia concorrer. Ele tinha me perguntado e eu disse que estava bem no ministério, que o presidente estava satisfeito comigo... mas o meu pessoal, que via em mim um grande gestor, resolveu me apertar, e fui falar com o presidente (Figueiredo). Ele tinha dito lá atrás, quando era ministro chefe do SNI, no governo do presidente (Ernesto) Geisel, que o (Paulo) Maluf ganharia as prévias em São Paulo porque comprou os delegados na convenção, e por isso ele me disse que não queria me apoiar. Daí eu disse que não queria apoio, só queria licença para concorrer, e ele me respondeu que estava de acordo. Mas em vista desse antecedente, o Marchezan propôs no Rio Grande do Sul que se realizassem prévias, e dos 10 só três se inscreveram, o vice-governador Otávio Germano, o Marchezan e eu. Com as prévias, criou-se uma sequela no partido, e tanto o grupo do Marchezan quanto o grupo do Germano fizeram voto camarão, me cortaram. Era voto vinculado, não podiam votar em outro, mas cortaram a cabeça. 

Terra - O senhor ficou ressentido por esse racha no partido?

Soares - Não, a política é uma arte. Tem que estar preparado. Você tem que reconhecer os fundamentos do poder. Quem não conhece os fundamentos do exercício do poder não pode exercer. Eles estão baseados em duas vertentes: recursos e informação. Com isso, você detém o poder. 

Terra - Como era fazer campanha eleitoral no Brasil, sendo que as últimas eleições para governador tinham ocorrido em 1962?

Soares -

Na campanha nós tivemos quatro debates na televisão, só. Era esse voto vinculado e à base de comício. Um discurso é como uma aula, você tem que dominar os alunos. Eu era fã do John Kennedy (ex-presidente dos EUA), o cônsul Renato Guimarães, de Nova York, era muito meu amigo, fui lá falar com ele e pedi toda a história da campanha do Kennedy, me foquei nisso.

Terra - Que lições o senhor tirou da campanha de Kennedy nos EUA?

Soares - Meus adversários eram mais feios que eu, então tinha que explorar esse lado. O Kennedy explorou muito isso. E explorar em quem? Na mulher. E como? É ai que vem a história... Eu fui a Paris em 1981. Fui conhecer a loja Opera Chic. Eu queria primeiro saber de um perfume que combinasse com a minha transpiração... então eu consegui o perfume. Depois disse que precisava saber qual era a cor da camisa que mais sentava com a minha pele e me deram a azul e branca. Depois pedi um creme, que eu sabia que existia, que você passava e em seguida parecia que você tinha voltado da praia. Era um bronzeador. Além disso comprei um aparelho de barbear e uma mala para levar as camisas. E em cada lugar que eu chegava, trocava a camisa, fazia a barba e estava perfumado. Inteiro, penteado, arrumado e tudo mais.

Eu sempre procurei mostrar a jovialidade, jogando tênis, joguei na véspera da eleição... e falava sete minutos. Nos comícios eu falava primeiro, os candidatos a deputado não gostavam, mas eu era o chefe da campanha. 

Teve municípios que eu visitei cinco vezes. Era uma empresa, ninguém brincava em serviço. Nunca mais vai ter uma campanha com essa no Rio Grande do Sul.

Terra - Como era sua relação com o governo, tendo em vista que o senhor era do PDS, legenda de apoio do governo militar?

Soares -

Eu não tinha apoio do governo. No dia 12 de novembro, ultimo dia permitido para publicar a pesquisa o SNI publicou uma pesquisa dizendo que eu ia perder a eleição. O meu apoio era difícil. 

Minha relação com os militares sempre foi de muito respeito, mas não havia identidade minha com o movimento, não participava disso, não fazia política. Na época da revolução, eu era chefe de gabinete do deputado Romeu Scheibe, no Instituto Riograndense do Arroz. Fiz carreira, subi degrau por degrau. 

Terra - Com foi o passar pelo processo de redemocratização do País?

Soares - Não houve problema porque como eu fui o primeiro a dar a anistia... o presidente Figueiredo falou ainda, 'mas que pressa é essa'? Eu disse, 'mas o senhor disse 'prendo e arrebento quem for contra, mas faço deste País uma democracia', sou o primeiro, e está ai. 

Anistia é  para os dois lados. Porque essa Comissão da Verdade (criada pelo governo para investigar crimes cometidos na ditadura) ainda vai incomodar muito. Eu acabei com uma séria de coisas. Acabei com a ilha do presídio, quis transformar em uma ilha turística, o Mendezinho (Mendes Ribeiro Filho, hoje ministro da Agricultura), que era o meu secretário de Justiça, foi quem desativou o presídio. Recebi uma denúncia forte de um deputado trabalhista de que havia, bem no início do meu governo, tortura. Vi com meus próprios olhos e acabei com aquilo na hora.

Fonte: Terra
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