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Política

Kassab: "Bolsonaro mostra uma face que não mostrou em 2018"

Líder do PSD ressalta a solidez das instituições, lança ao Planalto o presidente do Senado e não crê em impeachment

11 jul 2021 - 05h10
(atualizado às 09h27)
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Presidente nacional do PSD, o ex-ministro e ex-prefeito Gilberto Kassab é sempre apontado nos bastidores da política como um expert na análise de cenários futuros. Em entrevista ao Estadão, ele diz que o Brasil terá, sim, eleições em 2022 nos moldes do que for determinado pelo Congresso e garantido pela Justiça. Segundo ele, em seus arroubos autoritários, Jair Bolsonaro está mostrando ao País uma face que ficou escondida na campanha eleitoral de 2018. Na "bola de cristal" de Kassab, há espaço político para uma vitoriosa candidatura de centro, e ele pretende lançar o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), candidato ao Planalto. Kassab também aposta que Bolsonaro concluirá o atual mandato, ou seja, vê poucas chances de impeachment.

Gilberto Kassab, principal líder do PSD,  está "avaliando" se licenciar do cargo para cuidar de sua defesa
Gilberto Kassab, principal líder do PSD, está "avaliando" se licenciar do cargo para cuidar de sua defesa
Foto: Amanda Perobelli / Estadão Conteúdo

Qual é sua posição diante das ameaças de Bolsonaro à realização de eleições no Brasil?

O presidente Bolsonaro faz uma leitura totalmente equivocada da relação dele com a sociedade, na hora em que ele faz uma manifestação dessas, dizendo que vai trabalhar para não ter eleições se não mudar o sistema, que não é ele que define. Ele assusta, está amedrontando o eleitor, mostra uma face que ele não mostrou na campanha eleitoral em 2018. Na democracia, as pessoas querem ver o presidente dando exemplo. Isso afasta ele do eleitor. Bolsonaro disse que não vai respeitar o Congresso, a decisão do Congresso em relação a um sistema eleitoral que é admirado no mundo inteiro. Lamentável essa fala do presidente. Mas as instituições são sólidas, vamos, sim, ter eleições com o sistema de apuração que for definido pelo Congresso Nacional e coordenado pela Justiça Eleitoral, como está definido na Constituição.

Como avalia os últimos desdobramentos da questão militar, após as críticas do presidente da CPI da Covid, Omar Aziz, que é do seu partido, e a nota dos militares?

Tenho profundo respeito pelas nossas Forças Armadas. O senador Omar não as agrediu. É que, no calor dos acontecimentos, sempre existe, às vezes, manifestações que são feitas sem maiores reflexões. Ele, na verdade, fez uma manifestação muito crítica a alguns militares que eu não conheço, mas que a CPI talvez tenha evidências de que são militares que foram responsáveis por malfeitos. Acho que gerou uma polêmica desnecessária, porque eu não vi nenhuma agressão às Forças Armadas - ao contrário, ele enalteceu as Forças.

Foi um episódio pontual ou o sr. vê crise entre militares e a classe política?

Como o presidente convidou muitos militares para o governo, existe um envolvimento maior dos militares que estão no governo com as posições do governo, e não com as posições do Estado. Os militares estão em operações de Estado, né? As coisas começaram a se misturar um pouco. É importante que todos tenham plena consciência de que, se teve algum malfeito cometido por um militar, ele vai ser punido como qualquer um. Se um integrante de um partido é punido porque cometeu um erro, isso não significa que o partido inteiro está sendo criminalizado. Com a leitura correta, a gente conclui que não tem crise nenhuma.

O sr. é crítico da proposta do distritão. Por quê? Há chance de esse novo modelo vigorar?

O modelo de distritão, na minha visão, acaba com a política, deixa o sistema muito vulnerável quanto à interferência do crime organizado, das milícias. Ele gera a possibilidade de um candidato procurar partido, por mais irrelevante que seja, fazendo qualquer negociação menor, conseguindo legenda e, sendo um dos mais votados, sendo um parlamentar, algo de muita relevância.

O sr. vai tentar botar em prática o projeto de lançar candidatos próprios do PSD a governador?

Sim, estamos rumando com essa definição de dar prioridade nos grandes colégios eleitorais para candidaturas a governador do partido. A nossa ideia é ter candidatura a governador no Rio de Janeiro, em Minas Gerais, em São Paulo, no Paraná, os grandes colégios eleitorais. Mas não é aquela diretriz fechada. A política se impõe, sempre existem as exceções que têm de ser admitidas, mas a recomendação é de que, em especial nos grandes colégios eleitorais, tenhamos candidaturas a governador.

Definida a entrada do ex-governador Geraldo Alckmin no PSD?

Com a experiência que ele tem, antes de tornar pública qualquer decisão, não seria politicamente correto uma manifestação minha. O que tenho dito é que nossa diretriz é ter uma candidatura. Entendemos que, se Alckmin formalizar sua pretensão de ser candidato a governador, por todo histórico que ele tem conosco, tem tudo, todas as condições que já foram manifestadas a ele, primeiro para ratificar o convite que fizemos para que se filie ao partido, segundo para que a gente possa trabalhar para que ele seja um bom governador, se vencer as eleições.

No plano nacional, tem a hipótese de uma candidatura presidencial do PSD?

Sim, vamos ter uma candidatura, tenho dito, não é segredo. A minha posição pessoal, ela é pessoal, isso não foi discutido no partido, é que o melhor perfil para que o partido possa abraçar é o do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. É evidente que ele saberá analisar esse convite. É uma pessoa que mostrou talento para a política. Minha manifestação pessoal é de que ele pode, sim, ser um candidato do PSD à Presidência.

Há espaço para essa alternativa de centro?

Eu acho que teve um erro do governo Bolsonaro de não entender o jogo da política brasileira. Enquanto não tivermos consolidada a reforma aprovada em 2017 para reduzir o número de partidos políticos, não há presidente da República que consiga se eleger contando já, desde o início, com 300 deputados na sua base. O presidente Bolsonaro não entendeu que a governabilidade não significa fisiologismo. E a nossa convicção é de que nós não iríamos caminhar juntos em 2022. Vamos ter candidatura própria. Essa dificuldade do presidente de entender a importância da base de apoio levou o Brasil a começar a perceber que precisava, sim, ter uma proposta de centro. Eu discordo de que o País tem dificuldade de lançar um candidato de centro. O Fernando Henrique foi uma candidatura de centro. Lula só se elegeu presidente quando se aproximou do centro. E, nessa eleição, está ficando claro que nós temos hoje duas candidaturas à frente, mas que também têm um índice de rejeição, ambas, bastante alto. E existe o espaço, é lógico, para uma proposta de centro, uma proposta de pacificação. O País está entrando numa animosidade política crescente, que não é saudável. Então, cresce o número de pessoas que acham que, se tiver uma terceira via com essa proposta de pacificação, é o melhor para o País. Essa é a razão de, cada vez mais, essas propostas estarem ocupando espaço. O PSD vai ter a sua proposta de centro. E nossa primeira prioridade é apostar em uma candidatura de Rodrigo Pacheco.

O sr. acha que o governo Bolsonaro chega até 31 de dezembro de 2022?

Olha, eu acho que chega. Nós estamos caminhando para o segundo semestre do penúltimo ano, não é? Um impeachment não pode ser banalizado, precisa de fato concreto porque estamos numa democracia. O voto precisa ser valorizado. E, nessa altura dos acontecimentos, eu não acredito que vá acontecer um impeachment. Eu acho que é um governo que vai até o fim. É um governo que tem seus erros. Eu acho que teve muita dificuldade de estruturar, de convidar pessoas, o presidente chegou sem nenhuma experiência administrativa, sem equipe. Alguns se saíram bem, outros se saíram mal, mas é um governo com muita dificuldade no campo da política, no campo da gestão da pandemia, que hoje no mundo é a principal preocupação de qualquer cidadão. Qualquer cidadão do planeta, se tem uma preocupação hoje, é covid, e o governo não soube transmitir esse sentimento num País que daqui a pouco chega a 600 mil mortes. A CPI traz um desgaste, é evidente que ainda não concluiu nada, mas a gente percebe que, se você quiser ser generoso com o governo, aquilo lá era uma bagunça. Uma bagunça em uma gestão de algo tão importante, de uma pandemia, já é extremamente reprovável.

O PSD fica no governo?

Não, nunca fomos governo. Têm pessoas do governo ligadas a nossos parlamentares, alguns são mais próximos, outros mais distantes, essa questão de cargos, de participação, de votação, ela é individual dos parlamentares, uma relação que eles têm com esse governo, que é de independência, permitindo a eles estar junto, votar a favor, votar contra, conforme a sua consciência. Essa é a contribuição que o partido deu para a governabilidade, ficando totalmente distante do governo.

Estadão
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